Repensar a cidade: Fazendas verticais e a mobilidade além dos carros

Repensar a cidade: Fazendas verticais e a mobilidade além dos carros

Setembro é o mês da mobilidade e o ponto alto é o Dia Mundial Sem Carro, no dia 22. No entanto, uma coisa que já falamos outras vezes aqui no InovaSocial é que a mobilidade não se resume aos carros, ciclovias e outros modais. Segundo o dicionário, mobilidade significa “característica do que é móvel ou do que é capaz de se movimentar” e, se você está em um grande centro urbano, sabe bem o que é capacidade de movimentar vs. tipos de transporte (ouça nosso podcast n.12 abaixo). Mas, então, o que é mobilidade urbana?

Antes de tudo, mobilidade é sobre como planejamos as cidades. Quer um exemplo prático? Em novembro de 2019, publicamos o Mobility Futures, estudo da Kantar, que analisou a mobilidade urbana em diversas cidades pelo mundo. Mesmo São Paulo sendo a maior metrópole da América Latina, com metrô, ônibus, ciclovia, ruas e avenidas, a cidade não apareceu nos primeiros lugares em vários índices. No quesito “felicidade dos usuários”, a cidade paulista era a 28ª de 30.

São Paulo e Nova York, dois exemplos que precisamos repensar a mobilidade

A pandemia nos fez repensar a cidade de uma forma diferente. O comércio local cresceu com a onda de home offices. A poluição caiu drasticamente com menos carro nas ruas. E algumas regiões em grandes centros urbanos viraram “regiões fantasmas”. Isso acontece porque planejamos as cidades por lotes. Qual a lógica de trabalhar a mais de 20 km de casa? Por que centralizar escritórios de um lado da cidade e as residências do outro? No caso de São Paulo, grande parte da força de trabalho da Zona Sul, mora na Zona Leste. No melhor dos casos, estamos falando de um trajeto com cerca de 1 hora todos os dias.

Nova York não é diferente. A ilha de Manhattan concentra os grandes escritórios, a Times Square e os shows da Broadway, mas também possui um dos metro quadrados mais caros do mundo e a grande maioria dos trabalhadores têm que atravessar pontes e túneis. Com a pandemia, Manhattan viu não só o sumiço das pessoas, como também os aluguéis e, até mesmo, os impostos (leia mais no nosso texto “Home office ou não, eis a questão! Conseguiremos e queremos trabalhar de casa?”).


Leia também: Futurability: Morar – Como será o futuro das nossas casas


No Gravidade Zero, uma pequena série independente de podcasts sobre futurismo que tenho produzido, conversei com Peter Cabral, expert da SingularityU Brasil, sobre mobilidade; e com Barão Di Sarno, designer e co-fundador da Questtonó sobre como podemos projetar nossas cidades. Ouça no player abaixo, ou no Spotify ou Apple Podcasts.

O futuro: Bairros que se transformam em microcidades

Se você já jogou SimCity alguma vez na vida, deve ter percebido que o jogo nos ensina como funciona a dinâmica entre cidades. Você pode “alugar” ambulâncias para o município vizinho ou vender energia elétrica excedente de suas usinas solares. Agora imagine fazer isso em uma escala menor. Não estou falando para um bairro vender excedente de energia elétrica para outros. Mas a ideia seria criamos bairros autossustentáveis, como vemos em outro jogo da mesma produtora, The Sims 4 Vida Sustentável

Com isso, continuamos tendo uma dinâmica de cidade, mas em escala bem menor. Imagine você poder trabalhar, ter lazer (bares, parques, etc.) e fazer compras dentro do próprio bairro? Além de fortalecer o comércio local, poderíamos criar bairros que interagem entre si, sem criar grandes fluxos de migrações diárias.

Além disso, novas tecnologias e soluções já permitem que possamos quebrar barreiras naturais. Por exemplo, hoje grande parte das frutas, verduras e legumes consumidos na cidade de São Paulo vêm de pequenas agriculturas familiares ao redor do centro urbano. No entanto, quando chega na mesa do consumidor, este produto já rodou a cidade inteira. Agora imagine se estes produtores estivessem no coração da cidade.

Kimbal Musk (não, o sobrenome não é coincidência, ele é irmão do bilionário Elon Musk) e Tobias Pegg (engenheiro civil e PhD em machine learning) fundaram em 2016 a Square Roots, uma fazenda vertical que utiliza tecnologia para levar produtos naturais até o consumidor final em poucas horas. Usando contêineres e um processo de cultivo que economiza água, a empresa da dupla já acumula milhões em investimentos — parte vinda do irmão Musk mais rico.

A dupla não está sozinha neste mercado. A Plenty, de São Francisco, fornece verduras hidropônicas durante o ano todo para mais de 430 lojas da rede de supermercados Albertsons, na Califórnia. Fundada em 2013, a empresa possui investidores como Jeff Bezos e Softbank. Na Tigris, maior fazendo vertical da marca, o processo de cultivo utiliza menos de 1% da terra necessária para o volume plantado e apenas 5% de água, comparado com os processos tradicionais. Além disso, o processo todo (1 milhão de plantas) utiliza energia eólica e solar para se manter ativo 24 horas por dia.

Plenty - Tigris FarmPlenty – Tigris Farm

No Brasil, a Pink Farms, localizada em um galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, é especializada em fazendas verticais e produz folhosas e microgreens. Fundada em 2017 por três sócios, Geraldo Maia e os irmãos Mateus e Rafael Delalibera, com apenas dois anos de funcionamento, é considerada a maior empresa do setor no país (leia mais no texto “100 startups to watch: As empresas brasileiras mais inovadoras”).

Voltando a mobilidade, as fazendas verticais são apenas exemplos de soluções existentes que podemos utilizar para transformar bairros em regiões sustentáveis, repensando a forma como organizamos nossas cidades e indo além de deixar o carro apenas um dia dentro da garagem.

Imagem Destaque: Toyting/Shutterstock

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