6 tendências para 2022: Tecnologias e inovações que mudarão o nosso futuro – Parte 1

6 tendências para 2022: Tecnologias e inovações que mudarão o nosso futuro – Parte 1

Antes de olharmos para o futuro, gosto de observar o passado. Particularmente, acho fascinante o modo como tendências e projeções futuristas funcionam em um modelo de “mola do tempo”, ou seja, imagine que a linha do tempo é uma mola, onde o passado caminha para o futuro debaixo para cima. Se olharmos a mola de cima, ela será apenas um círculo; mas quando olhamos de lado, vemos que os acontecimentos estão em diferentes momentos.

Por exemplo, a linha evolutiva do telefone, vista de cima, está sempre no mesmo ponto. Desde que Graham Bell, em 1870, inventou o telefone, não paramos mais de usá-lo. Só que, vista de lado, o telefone de disco evoluiu para o telefone sem fio, que saltou para o celular, virou um smartphone e hoje pode ser visto em qualquer plataforma de comunicação por áudio e vídeo.

As tendências para 2022 entram nesta “mola” mais do que nunca. Podemos dizer que a pandemia e todas as mudanças que com ela chegaram, transformaram 2020, 2021 e 2022 em um grande e complexo emaranhado de tempo. Um triênio como, talvez, nunca vimos antes. Isso significa que as tendências para 2022 são consequências direta dos acontecimentos dos últimos dois anos. Inovações disruptivas podem até surgir, mas girarão em torno de temas uníssonos. São eles: nossa vida profissional e a nossa relação com o trabalho; impactos ambientais e nossa relação com o planeta; e a forma como consumimos tudo, seja no ambiente físico, quanto no digital. Dito isso, vamos aos 6 itens selecionados!

Trabalho remoto e o fim do “horário comercial”

A forma como trabalhamos mudou e vai mudar cada vez mais. Isso terá impacto em novas tecnologias, novos hábitos e na legislação trabalhistas. Segundo uma pesquisa da Nespresso Professional, o modelo de home office da pandemia não representa o ideal de trabalho remoto, mas isso não quer dizer que os profissionais queiram voltar em definitivo para o escritório. De acordo com estudo da Atlassian e da PwC Australia, quatro a cada cinco pessoas — entre 18 e 40 anos de idade — acreditam que trabalhar de qualquer lugar é proveitoso para a sociedade, comunidades, empregadores e empregados.

Segundo Brian Elliott, vice-presidente sênior do Future Forum, um consórcio que o Slack (plataforma de comunicação empresarial) criou para ajudar as empresas a reinventar o trabalho e atender às demandas da nova era digital;  “as empresas que desejam atrair e reter os melhores talentos, bem como fornecer aos colaboradores a flexibilidade necessária para que façam seu melhor trabalho, adotarão a abordagem ‘o digital em primeiro lugar’. Em 2022, mais empresas se basearão nesse modelo e repensarão não apenas onde, mas quando o trabalho será realizado. Há tempos deveríamos ter reinventado o rígido expediente das 9h às 17h com reuniões em sequência.”

Elliot completa, “a pesquisa da Future Forum mostra que 93% dos colaboradores desejam flexibilidade de horários e pensam que dar às pessoas mais controle sobre seu expediente aumenta a produtividade e diminui o estresse. Além disso, entendem que isso também melhora a vida profissional de vários grupos, especialmente de mulheres com filhos. Com uma sede geral digital, ferramentas de colaboração assíncrona e acordos em nível de equipe que reduzam o período no qual se espera que os colegas estejam de plantão e ’em sincronia’, podemos reduzir as reuniões e dar às pessoas mais liberdade para estruturar seus dias, aumentando a produtividade e o envolvimento no processo”.

Metaverso e a inteligência artificial no cotidiano

O trabalho também será impactado por outras duas tendências: a inteligência artificial e o metaverso. É engraçado ver a mídia tradicional falando em metaverso, pois — em sua grande maioria — desenham o mundo virtual como algo que saiu de um filme de ficção científica. Mas, posso afirmar com absoluta convicção, que o metaverso já existe e é algo muito mais simples do que você imagina. É claro, existe o metaverso da realidade aumentada com óculos de VR, mas já voltamos neste ponto.

Antes disso, quero falar dos mais de 5 milhões de brasileiros que já estão em algum tipo de metaverso. Segundo pesquisa do instituto Kantar Ibope Media, cerca de 6% dos brasileiros com acesso à internet já tiveram algum tipo de experiência no metaverso. Vale ressaltar que o conceito de metaverso não é algo novo. Nascido na literatura cyberpunk, o termo e a perspectiva do metaverso é algo que já foi explorado em diversas mídias; saindo dos livros, passando pelo cinema e chegando aos games. A proposta é que seja um universo virtual onde, por meio de um avatar, possamos interagir com outras pessoas e inteligências artificiais. Não é algo muito diferente do que já visto em jogos como Fortnite e GTA, ou da plataforma Second Life, lançada em 2003. Ainda em dezembro de 2020, já havíamos adiantado: Fiquem de olho no jogo Fortnite, pois a EPIC está indo além dos games e se transformando em uma plataforma de entretenimento (veja aqui e aqui).

Outra ponto interessante sobre o metaverso é que este cenário tem gerado novas discussões em uma série de áreas, entre elas o setor jurídico e o do entretenimento. Isso tudo deve gerar um impacto social em efeito dominó, com inúmeras perguntas que navegam entre “o metaverso é elitizado?” ou “quais os meus direitos no metaverso?”. Desta última pergunta extraio o trecho do site Conjur, da matéria “Escritório no metaverso ressuscita debate sobre Direito e realidade virtual” (leia na íntegra aqui):

Em 2007, um escritório de São Paulo tentou abrir uma sede na plataforma Second Life (segunda vida, em português), um ambiente virtual que simulava em alguns aspectos a vida real e social do ser humano. Na época, porém, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP não foi favorável à iniciativa.

De acordo com a Ordem paulista, a criação e a manutenção de escritório virtual no ambiente eletrônico é contrária aos princípios do sigilo profissional e não se coaduna com a pessoalidade que deve presidir a relação cliente-advogado. Além disso, a criação de um escritório virtual poderia caracterizar captação de clientes, o que é vedado pelo Código de Ética.

Especialistas ouvidos pela ConJur afirmam que a situação atual é um pouco diferente, mas o sucesso do metaverso ainda deve ser visto com cautela. E existem muitas perguntas sem respostas: teremos Habeas Corpus para avatares? Os Tribunais e a Polícia também devem existir virtualmente? Sob qual regime jurídico estariam os escritórios?

Para a advogada Patrícia Peck, sócia fundadora do Peck Advogados e Presidente da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados da OAB-SP, estamos em um momento novo, e o Direito evolui e se transforma com a mudança da própria sociedade. Assim como hoje os escritórios já estão presentes na internet e nas mídias sociais, será um passo natural também estarem presentes nos novos espaços de convivência e interação social entre indivíduos e instituições.

“Até porque não faria sentido gerar barreiras de acesso à Justiça e do direito a um advogado para qualquer cidadão digital onde quer que ele se encontre. Mas, por certo, teremos desafios a enfrentar, pois o aparente sucesso do metaverso é visto ainda com cautela, já que experiências anteriores não foram bem sucedidas, e não há como deixar de lembrar do Second Life”, ressaltou a especialista.

As discussões sobre metaverso não terminam por aí. Segundo Paulo Santiago, professores da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto – USP, “após o anúncio de Mark Zuckerberg sobre o Metaverse, já foram publicados três artigos no site PubMed sobre como a plataforma pode melhorar nos treinos, trazer novos conhecimentos e como se situar no metaverso. Daqui em diante, muito mais pesquisas de ciência do esporte relacionadas ao Metaverse serão desenvolvidas”, prevê.” Curiosamente, enquanto escrevia este texto, mais artigos já haviam sido publicados no site PubMed e que vão além da ciência no campo dos esportes. Veja mais neste link.

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Por fim, temos a possível popularização dos dispositivos de realidade virtual. Não acredito que seja algo para 2022, mas o primeiro passo pode ser dado ainda este ano. A chinesa EM3 já anunciou o Ether, um óculos com 6,8 mm de espessura e apenas 37g. Além dela, a Apple estaria trabalhando em um concorrente ao Oculus Quest 2, do Facebook/Meta, com cerca de 300g e potencial de venda de 3,5 milhões de unidades até 2023, segundo Ming-Chi Kuo, analista especializado na empresa.

Ah, e a inteligência artificial? Ela já está entre nós. Nossas discussões não irão girar em torno da existência dela, mas dos limites dela. Segundo Kathy Baxter, arquiteta principal e prática de ética de IA na Salesforce, “este ano, testemunhamos a proposta e a aprovação de uma série de novos regulamentos sobre Inteligência Artificial (IA) nos Estados Unidos e em outros países. Esses regulamentos permitiram o surgimento de várias startups que oferecem produtos de governança de IA e provedores de Ética como Serviço (EaaS). As empresas que estão desenvolvendo a IA criarão cada vez mais suas próprias ofertas de EaaS em suas organizações de serviços profissionais. Veremos uma corrida para contratar especialistas em Ética de IA a fim de cumprir os novos regulamentos, o que fará com que os especialistas nessa área sejam ainda mais solicitados do que os desenvolvedores de IA.”

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Créditos: Imagem Destaque – Chaosamran_Studio / Shutterstock

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