Doença de Parkinson: Os efeitos da pandemia e o futuro na terapia gênica

Doença de Parkinson: Os efeitos da pandemia e o futuro na terapia gênica

O dia 11 de abril marcou mais um Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson e, durante a última semana, uma série de estudos foram anunciados sobre esta doença que afeta cerca de 1% da população mundial a partir dos 65 anos. Um dos estudos foi realizado na Espanha, com 568 pacientes, para saber o impacto da pandemia COVID-19. Realizado pela Fundação Curemos el Párkinson e publicado na Movement Disorders, o estudo “COVID & Parkinson” identificou 66% dos pacientes com a doença sofreram agravamento dos sintomas durante o confinamento. Isso se deve, em parte, ao fato das pessoas afetadas deixarem de trabalhar suas habilidades sociais e cognitivas, e que se somam ao estresse e ao medo de todo o cenário da pandemia.

Do grupo analisado, a média de idade foi de 62 anos (variando de 30 a 92 anos). Cerca de 97% dos pacientes sabiam da pandemia de Covid-19 (deve-se levar em consideração que alguns pacientes possuem demência, por isso o conhecimento não é total) e 68,8% estavam preocupados com a pandemia, sendo que: 95,6% estavam tomando praticamente todas as medidas de prevenção; 86,8% lavavam frequente as mão; 86,6% usavam máscaras; 86,3% em confinamento rigoroso e 80,1% distanciamento social. Embora 72,7% dos pacientes tenham permanecido ativos durante o confinamento, até 65,7% responderam que tiveram piora nos sintomas de Parkinson:

  • 47,7% bradicinesia (lentidão de respostas físicas e psíquicas);
  • 41,1% perturbação do sono;
  • 40,7% rigidez;
  • 34,5% distúrbios da marcha (dificuldades na locomoção);
  • 31,3% ansiedade;
  • 28,5% dor;
  • 28,3% fadiga;
  • 27,6% depressão;
  • 20,8% tremor;
  • 13,2% alterações de apetite.

Terapia gênica pode ser promessa no tratamento do Parkinson

O uso de material genético como tratamento para uma série de doenças é uma evolução na medicina e ganhou repercussão em razão da pandemia, justamente por conta da aplicação deste tipo de tecnologia no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. Algumas delas injetam pequenos pedaços de RNA nas células que passam a produzir proteínas, as quais combatem o vírus. Mas qual a relação disso com a Doença de Parkinson?

De acordo com Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Hospital Israelita Albert Einstein, “há uma série de pesquisas mundiais, algumas a serem concluídas já no ano que vem, que usam a terapia gênica para atenuar e/ou melhorar a função motora de pacientes com Parkinson. A proposta dos pesquisadores é autorregular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas e que tem queda intensa na Doença de Parkinson.”

Valadares completa, “dentre elas, há uma pesquisa realizada por um grupo francês que estuda a injeção de material genético diretamente em estruturas cerebrais relacionadas à doença. Este DNA carrega informação correspondente não apenas a uma enzima, mas a três enzimas (TH, CH1 e a AADC) envolvidas na produção de dopamina. Se os resultados deste estudo forem favoráveis, as células do cérebro destes pacientes se tornarão capazes de produzir a substância em quantidades adequadas para o alívio dos sintomas da Doença de Parkinson, podendo eliminar a necessidade de terapia medicamentosa. Embora ainda não acessível, precisamos ver que finalmente é possível falar na possibilidade de cura do Parkinson num futuro talvez não tão distante.”

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A pandemia acelerou o processo de estudo das vacinas com a tecnologia mRNA, nunca antes oferecidas ao mercado em grande escala. As vacinas da alemã BioNTech, em parceria com a farmacêutica Pfizer, e da norte-americana Moderna são as duas soluções que ganharam o mundo nos últimos meses na luta contra a pandemia de Covid-19. Ambas empresas entraram para o ranking das 50 empresas mais inovadoras do mundo, segundo a revista Fast Company (leia mais no texto “As 50 empresas mais inovadoras do mundo 2021”).

Ainda segundo o neurocirurgião Marcelo Valadares, “hoje temos medicamentos que ajudam a controlar os principais sintomas da doença, como os tremores, a rigidez e os movimentos involuntários. Outra alternativa segura e eficaz consiste na Terapia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS), cirurgia que utiliza um dispositivo médico implantado, semelhante a um marcapasso cardíaco.”

“Já disponível no rol de procedimentos da rede pública de saúde, a DBS também tem evoluído. Indicada para pacientes que não absorvem bem a medição devido ao seu uso prolongado, a neuroestimulação, como a técnica também é conhecida, traz resultados bem precoces, notados horas depois da cirurgia. Inclusive, hoje existem tecnologias que nos permitem captar os sinais cerebrais do paciente e monitorá-los remotamente. Em breve, possivelmente nos ‘comunicaremos com o cérebro’, e não apenas interviemos. Ou seja, além das consultas regulares, ganhamos maior precisão no controle do Parkinson e passamos a atender de forma ainda mais assertiva às necessidades individuais de cada paciente”, afirma Valadares.

Ele completa, “como aprendemos no último ano, é preciso confiar na ciência e na capacidade do ser humano de inovar e surpreender. As respostas podem não ser tão rápidas como gostaríamos, mas estaremos sempre caminhando para trazer terapias que realmente fazem a diferença na vida dos pacientes com a Doença de Parkinson, bem como seus familiares.“

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