Categories Soluções de ImpactoPosted on 04/08/202504/08/2025O que é código aberto e por que ele importa para a inovação social O que você vai descobrir a seguir: • Código aberto é uma forma de desenvolver e compartilhar tecnologias de maneira livre, transparente e colaborativa. • O conceito surgiu nos anos 1980, ganhou força em 1998 e hoje está presente em áreas como IA e impressão 3D. • Projetos de código aberto geram impacto social ao permitir soluções acessíveis, adaptáveis e escaláveis. Se você já usou o navegador Firefox, viu um site feito no WordPress ou ouviu falar do sistema Linux, você já cruzou com o universo open source (ou, em bom português, código aberto). Mas o que exatamente isso quer dizer? De forma simples, código aberto é um modelo em que o código de um software – ou até mesmo o desenho de um objeto, como em impressoras 3D – é disponibilizado publicamente. Isso permite que qualquer pessoa possa usar, estudar, modificar e compartilhar aquilo livremente. Mais do que uma escolha técnica, é um jeito de pensar e criar que valoriza a colaboração, a transparência e a adaptação local. E é justamente esse espírito que conecta o open source à inovação social: resolver problemas reais com soluções que não ficam trancadas em laboratórios ou dentro de grandes empresas. Onde tudo começou Nos primeiros momentos da computação, nos anos 1950 e 1960, o compartilhamento de código era natural entre universidades e centros de pesquisa. Isso começou a mudar quando o mercado passou a restringir o acesso ao código dos programas; e isso soou como um retrocesso para muitos desenvolvedores. Foi aí que, em 1983, Richard Stallman lançou o projeto GNU e, dois anos depois, a Free Software Foundation. Seu objetivo era garantir quatro liberdades básicas para quem usasse software: usar, estudar, modificar e redistribuir. Essa ideia deu origem ao termo “software livre”. Mas foi só em 1998 que surgiu o nome “open source”, sugerido por Christine Peterson para evitar confusões com a palavra free, que em inglês pode significar tanto “livre” quanto “grátis”. A partir daí, nasceu a Open Source Initiative (OSI), que passou a definir critérios objetivos para o que pode ser considerado, de fato, código aberto. Entre essas regras estão o acesso livre ao código-fonte, a permissão para modificação e redistribuição, a não discriminação de usuários ou áreas de atuação e o uso de licenças que acompanham o software, garantindo transparência, colaboração e liberdade de uso. Projetos como o sistema Linux, o servidor web Apache e o navegador Mozilla Firefox mostraram que era possível construir ferramentas robustas e confiáveis de forma aberta. E mais: que esse modelo também era sustentável no mundo dos negócios, porque permitia reduzir custos, atrair comunidades de desenvolvedores e criar serviços ao redor do software sem cobrar pelo acesso ao código. Da IA generativa à impressora 3D: o código aberto hoje Hoje, o conceito de código aberto está mais vivo do que nunca e se expandiu para muito além do software. Ele aparece em áreas que talvez você nem imaginasse, como inteligência artificial e impressão 3D, ganhando novas formas e aplicações. Um dos espaços mais importantes para essa colaboração global é o GitHub, uma plataforma onde desenvolvedores, pesquisadores e organizações compartilham milhões de projetos abertos. Lá, qualquer pessoa pode acessar códigos, propor melhorias, adaptar soluções e participar ativamente da construção coletiva do conhecimento. Na inteligência artificial, muitos dos modelos mais avançados são compartilhados de forma aberta, como o Stable Diffusion (para geração de imagens) ou o Mistral (modelos de linguagem). Isso permite que universidades, startups e até ONGs usem e adaptem essas ferramentas sem depender de grandes corporações. Na impressão 3D, comunidades como a Thingiverse disponibilizam gratuitamente designs de peças e objetos. Você pode baixar o modelo de uma prótese, imprimir numa impressora 3D local e até adaptar para a realidade do seu bairro. Essa combinação de IA aberta, impressão 3D e cultura colaborativa cria uma nova forma de inovação: descentralizada, acessível e de baixo custo. Uma ONG, por exemplo, pode usar uma IA de código aberto para projetar uma ferramenta, imprimir localmente e compartilhar o resultado para que outras comunidades do mundo façam o mesmo. Tudo isso sem pagar licenças, com total autonomia. Código aberto como alavanca para inovação social Quando falamos em inovação social, falamos de soluções que transformam vidas e que podem ser aplicadas de forma escalável, sustentável e democrática. E é aí que o código aberto brilha. Alguns exemplos que já passaram pelo InovaSocial mostram bem como essa abordagem pode gerar impacto concreto: • IBM e NASA: lançaram um modelo de inteligência artificial para análises climáticas, permitindo previsões mais precisas e acessíveis para cientistas e comunidades em todo o mundo. • Polyformer: máquina que transforma garrafas PET em filamentos para impressoras 3D, unindo reciclagem, fabricação local e economia circular. • TrashBoom: uma barreira flutuante feita com materiais simples e disponíveis localmente, desenvolvida para impedir que plásticos cheguem aos oceanos. • Chroma: ferramenta da Ubisoft que simula daltonismo em tempo real e ajuda desenvolvedores a criarem jogos mais inclusivos desde o início do processo criativo. Essas ferramentas não só reduzem custos como evitam que comunidades fiquem presas a soluções fechadas, difíceis de adaptar. Com o código aberto, cada território pode personalizar a tecnologia de acordo com suas necessidades; e, mais importante: compartilhar as melhorias com o mundo todo. Isso fortalece os chamados “commons digitais”: bens compartilhados globalmente, criados em rede e mantidos por comunidades em vez de corporações. É o caso de projetos como o OpenStreetMap, que oferece mapas colaborativos do mundo todo, ou o GNU Health, que disponibiliza um sistema completo de gestão para hospitais públicos. No fim das contas, apostar no código aberto é reconhecer que boas ideias ficam ainda melhores quando são feitas em conjunto, e que a inovação ganha potência quando é de todos e para todos. Créditos – Imagem Destaque: Yurchanka Siarhei/Shutterstock Compartilhe esse artigo: