De gênio futurista a bilionário excêntrico: O que aconteceu com Elon Musk?

De gênio futurista a bilionário excêntrico: O que aconteceu com Elon Musk?

Quem faz uma busca pelo termo “Elon Musk” na busca do InovaSocial, percebe que já falamos bastante sobre o empresário sul-africano. Também dá para perceber que já utilizamos termos como “gênio, bilionário e filantropo” para nos referirmos ao, agora, novo dono do Twitter. Mas como o InovaSocial, uma plataforma focada em inovação social, negócios de impacto e filantropia, pode ter elogiado tanto um bilionário excêntrico que causa tantos alvoroços nas redes sociais? A resposta inicial é bem simples, Musk foi de gênio futurista a bilionário excêntrico mais rápido do que um Tesla descontrolado.

Musk nem sempre foi este empresário impulsivo e descontrolado. Visionário e com espírito empreendedor, o atual homem mais rico do planeta (ou um dos, depende da cotação de suas ações e do dia em que você está lendo este texto) sempre teve uma vida confortável, mas não em quantias exorbitantes… até 1999! Foi quando ele recebeu US$ 307 milhões pela venda da Zip2 para a Compaq, uma empresa que criava mapas e diretórios comerciais para jornais online.

O valor pago pela Zip2 se transformou no PayPal e em uma McLaren F1, ambos vendidos futuramente. Mas o carro esportivo, com pouco mais de 100 unidades produzidas no mundo, era “o grande momento” na vida do jovem de 28 anos. Um jovem que, apesar dos milhões na conta, ainda tinha um ar de ingenuidade, um aspecto de nerd clássico vestindo seu terno três números acima do ideal e um celular na mão (veja o vídeo abaixo).

Watch a young Elon Musk get his first supercar in 1999Watch a young Elon Musk get his first supercar in 1999

Com a venda do PayPal para o eBay, Musk entrou para a lista de bilionários. Os US$ 1,5 bilhões impulsionou o empresário ao patamar de estrelas e é aqui que queria chegar. Se você quiser saber um pouco mais sobre a trajetória de Musk, sugiro que leia o texto “Dossiê InovaSocial: Quem é Elon Musk?“. De volta a nossa crônica sobre mudanças, queria dizer que bilionários são uma anomalia do sistema. Eles não são o ápice do sucesso. Muito pelo contrário; até mesmo no capitalismo tradicional, eles são um erro de cálculo. Uma irregularidade que desregula a balança (se é que existe algum equilíbrio).

Olhando pela perspectiva de sociedade, os bilionários compõem uma grande parcela dos problemas atuais. Eles utilizam suas riquezas para moldar, influenciar e controlar discussões sociais, políticas e tendências gerais. Uma coisa é uma empresa bilionária, que conta com diretores, conselhos, investidores e colaboradores, e mesmo assim já é um grande problema. Outra coisa é uma pessoa com todo este poder nas mãos.

Já que Musk gosta de super-heróis, ao ponto de marcar presença no filme do Homem de Ferro, então vou usar aqui uma frase famosa para definir os bilionários: Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. E não estou falando em apenas criar uma fundação com o seu nome, estou falando das ações diárias.

Tesla e SpaceX lançaram Musk ao patamar de super-humano. Afinal, quantos meros mortais entrarão para a lista de “o homem mais rico do mundo” durante a sua existência? Não estou falando “dos mais ricos”, mas do top 1 da sua contemporaneidade. Já diria Batman: “o meu super poder? Eu sou rico!”

O problema é que um bilionário é como um explosivo. Ele pode ser como uma granada, que causa impactos aos mais próximos, mas se você não estiver por perto, provavelmente sua existência será inócua. Ou pode ser Musk, uma bomba nuclear sem o botão de desativar. Exagero? Vamos olhar os efeitos da Bomba Musk.

Os efeitos de um bilionário explosivo

Já em fevereiro de 2020, a justiça da Alemanha barrou a construção de uma fábrica da Tesla em Berlim. Segundo a decisão, a empresa de Musk poderia afetar a disponibilidade de água potável e vida selvagem da região. Além disso, foi acusada do desmatamento da região de 300 hectares que abriga a fábrica. A resposta de Musk foi uma série de tweets falando que a empresa não utilizaria tanta água e a floresta desmatada “não era uma floresta natural”, já que ela havia sido plantada por uma fábrica de celulose.

Outro reflexo da Bomba Musk foi a exclusão da Tesla do índice ESG do S&P 500 em maio de 2022. Segundo a S&P Global, responsável pelo índice, o ambiente corporativo conturbado da empresa, que incluíam casos de discriminação racial, e acidentes causados pelo sistema de piloto automático dos carros levaram à expulsão da montadora. Novamente a resposta de Musk veio via tweet, onde publicou que “ESG é uma farsa escandalosa! Que vergonha para a S&P Global”.

Quando não está respondendo com tweets ácidos, Musk gosta de inventar ideias que parecem terem saído de um vilão dos quadrinhos. Uma delas, publicada em 2019, foi a sugestão de lançar bombas nucleares em Marte para vaporizar as calotas de gelo e criar uma atmosfera no planeta.

Não menos importante, chegamos à gestão do Twitter. No entanto, antes dos eventos mais recentes, vale uma observação importante sobre o processo de compra da rede social. A aquisição foi um dos movimentos mais estranhos que o mercado já viu. Primeiro Musk fez a oferta, depois tentou pular fora e depois voltou para tentar justificar o cancelamento. Só que aí já era tarde e o governo, principalmente dos EUA, não gosta muito de manipulação do mercado e, na iminência de arcar com questões legais pesadas, Musk concluiu a compra.

No entanto, assim como uma criança birrenta que se cansou da brincadeira, a primeira ação de Musk ao assumir o Twitter foi demitir toda a liderança da empresa. Não foi uma questão de gestão, foi uma forma de dizer “agora o chefe sou eu!” e, assim como um jogador de pôquer com cartas ruins, ele decidiu dobrar a aposta ainda mais. Arrisco em dizer que Musk esperava ser ovacionado em sua chegada, mas foi muito ao contrário.

Novamente contrariado, o bilionário decidiu aplicar sua gestão explosiva e fez uma demissão em massa (a primeira, com 7.500 dispensas). E, se o clima já não fosse horrível, na última semana, Elon enviou um e-mail falando em “longas horas de [trabalho] em alta intensidade” e, aqueles que estivessem de acordo, teriam que assinar um termo (caso esteja curioso, o e-mail – em inglês – pode ser lido no tweet abaixo).

Todos estes exemplos são apenas uma amostra do impacto social que um bilionário pode ser. Além de ignorarem as questões ambientais, pessoas como Musk representam um sistema socioeconômico ultrapassado – não foi à toa que, no podcast n° 100, relembramos o texto “O capitalismo está morto! Uma carta aberta à humanidade e o impacto dos bancos na mudança climática” (ouça abaixo). Não há mais espaço para empresários que não entendem seus impactos no mundo, sejam eles em pequenas ou grandes proporções. A exclusão da Tesla do índice ESG do S&P 500 foi uma resposta do mercado que tem se movimentado para ouvir uma parcela de investidores, que dispensam empresas que não se adequam às mínimas regras.

Mas, afinal, o que aconteceu com Elon Musk? O que transformou o visionário, que buscava vender placas solares e carros elétricos, em um carrasco empresarial com uma gestão tóxica e atos impulsivos? O mesmo mercado que exige adequações dentro dos índices ESG, também é composto por uma parcela de pessoas que criam seus próprios monstros. Quando Musk ofertou os US$ 44 bilhões pelo Twitter, ele não tinha este dinheiro no bolso, mas sim em ações da Tesla e tantas outras empresas.

Se agora o mercado se assusta com as ações e os impactos que um bilionário descontrolado pode gerar, falta a mea culpa deste mesmo mercado por ter criado o monstro e o libertado da coleira. Se Martin Shkreli, com um patrimônio de pouco mais de 200 milhões de dólares, já fez um grande estrago, antes de ser condenado (veja o item 2, do texto “5 motivos pelos quais a quebra de patente ajuda na luta contra a AIDS“), imagina o estrago que um dos homens mais ricos do mundo pode gerar, ao querer brincar de dono da bola de uma rede social – que por si só já gera seus impactos sociais, principalmente quando o tema é política e democracia.

A grande pergunta não é o que aconteceu com o Elon Musk que conhecemos no passado, mas como podemos amenizar os efeitos do Elon Musk do futuro e assim criarmos ferramentas para estas anomalias do mercado que se transformam em bombas sem controle. Acha a questão muito drástica? Enquanto os Musks brincam com bens de consumo e viagens espaciais não é o grande problema. A grande tragédia será quando um Musk cruzar com ideias de um Shkreli. É melhor nem falar muito alto para não dar ideia!

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