Categories Inova+Posted on 18/01/202112/05/2022Agricultura vertical: Impactos e desafios do plantio urbano O ano é 2026. A agricultura vertical torna-se viável para a produção de alimentos nas principais megacidades. Se você é leitor recorrente do InovaSocial, deve ter percebido que nos últimos textos estamos revisitando algumas tendências e nos aprofundando em temas que resultam em impactos diretos no nosso cotidiano. Nos parágrafos a seguir falaremos mais sobre agricultura vertical, técnica que não muda apenas nossa forma de consumir, mas também como nos relacionamos com o meio ambiente. Há pouco mais de duas décadas, o microbiologista Dickson Despommier cunhou o conceito de “fazendas verticais” em uma aula de graduação. Professor emérito de microbiologia e saúde pública na Universidade de Columbia, Despommier define a técnica como “uma tecnologia que faz uso dos conceitos e práticas adotadas em sistema de estufas, porém no formato de edifício de vários andares que se transforma em campos agrícolas verticais.” Leia mais sobre fazendas verticais no InovaSocial Uma solução que parece tão simples, pode ser a saída para a falta de alimentos no mundo. Segundo Despommier, cidades autossuficientes podem reduzir a fome e restaurar florestas devastadas pela agricultura, além de eliminar as emissões de CO2 causadas pelo plantio, colheita e transporte de alimentos por longas distâncias. Vale lembrar que, para 2030, o 2º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Com a população mundial tornando-se cada vez mais urbana, segundo informações da UNWTO (Organização Mundial de Turismo, agência especializada da ONU), será neste mesmo período em que veremos “cerca de 60% da população mundial vivendo em áreas urbanas” e a agricultura vertical tem se mostrado como uma solução essencial para prover a alimentação. Leia também: Tese de Impacto Social em Alimentação identifica oportunidades para empreender no setor A boa notícia é que não faltam exemplos práticos no mundo. Cidades como Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, uma das regiões mais ricas do globo, mas que emergiu do deserto, onde aproximadamente 80% dos alimentos são importados, tem investido em agricultura vertical como forma de suprir suas demandas. Segundo a Bloomberg, em novembro de 2020, “o Escritório de Investimentos de Abu Dhabi (ADIO, sigla em inglês) anunciou que vai investir cerca de US$ 41 milhões com outras empresas para desenvolver tecnologias para a produção de alimentos em condições áridas. (…) Os gastos se somam a um investimento de US$ 100 milhões no início do ano para incentivar agtechs a construir centros de pesquisa e desenvolvimento em Abu Dhabi, o que atraiu empresas de agricultura vertical como a AeroFarms.” No futuro, voltaremos a ser agricultores? Olhando para o futuro além de 2030, é bem capaz que nossos filhos, netos ou bisnetos voltem a ser agricultores, assim como nossos antepassados foram em algum momento. Na história, a agricultura foi a responsável pela formação de aldeias, fazendo com que a nossa espécie deixasse de ser nômade. Agora voltaremos a plantar, seja por necessidade ou simples luxo (quem não gosta de um chá de hortelã colhida na hora ou um pesto com manjericão da própria horta?). Mas, para isso, a agricultura vertical terá que ser ainda mais barata e simples. Talvez, com os meus exemplos, você esteja pensando naquele vaso esquecido no canto da casa, mas estamos falando em algo maior, estou falando em colher o próprio alface. E, para isso, algumas coisas ainda precisam mudar. “As microgreens e ervas cultivadas em fazendas caseiras só serão opção para a elite rica do mundo por muitos anos. Produtos cultivados verticalmente são muito mais caros do que os produtos cultivados convencionalmente e até mesmo mais caros do que a maioria dos produtos orgânicos”, afirma Michael Dent, analista da IDTechEx. “Por exemplo, o quilo da couve produzida pela Bowery Farming, com sede em Nova York, é quase três vezes mais cara do que a opção de couve do Whole Foods Market, e seu coentro é cinco vezes mais caro do que o equivalente da mesma rede de supermercados.” Um dos desafios para a agricultura vertical está na energia. As lâmpadas atuais gastam muita energia, quando comparado com o processo tradicional. “[Para suprir suas fazendas verticais dentro do Yas Mall, shopping na ilha de Yas, em Abu Dhabi] o Carrefour está tentando encontrar um fornecedor de lâmpadas que possa reduzir o consumo de energia em até 65%, afirma Miguel Povedano, diretor de operações da Majid Al Futtaim, empresa que administra a franquia Carrefour no Oriente Médio, África e Ásia. A energia solar tem sido alternativa para empresas especializadas em fazendas verticais, como a Plenty, de São Francisco. Mas, como bem sabemos, este tipo de energia ainda está longe de ser comum em espaços residenciais pelo mundo, que dirá no Brasil. Isso faz com que a “agricultura familiar vertical” ainda esteja longe de virar realidade. Isso não quer dizer que seja impossível. Segundo o Estadão, “é possível miniaturizar o projeto grandioso de alimentar uma cidade inteira para pequenos locais, transformando a agricultura vertical em uma horta, que serve muito bem a uma família ou a um grupo de vizinhos. São muitos os alimentos hidropônicos (cultivados somente na água), como agrião, alface, batata, brócolis, cenoura, melancia, pimentão, rúcula e tomate. Ainda assim, os hidropônicos não são a única solução. Também é possível cultivar vegetais em porções mínimas de terra. Existem até cursos que ensinam a cultivar alimentos e montar esse tipo de horta utilizando garrafas pet como matéria-prima, como o da Universidade Federal de Minas Gerais” (veja o vídeo abaixo). Talvez este tipo de solução esteja longe das fazendas verticais high techs, mas já funciona como o primeiro passo de um cenário que deve evoluir bastante nos próximos anos. Saiba como montar uma horta com garrafas pet Compartilhe esse artigo: