5G é o futuro, mas expõe a desigualdade digital no Brasil

5G é o futuro, mas expõe a desigualdade digital no Brasil

Nesta semana (01), o 5G ganhou as primeiras páginas de todos os principais veículos de comunicação. Jornalistas das mais diversas áreas, apoiados por infográficos, tentaram explicar o que é a nova tecnologia e como ela impactará nosso cotidiano. Mas poucos levantaram questões sociais sobre a nova geração de internet móvel.

De acordo com o Cisco Annual Internet Report, relatório anual da Cisco sobre a internet, o 5G representará mais de 10,6% das conexões móveis do mundo em 2023. A média da velocidade do 5G será de 575 Mbps, ou seja, 13 vezes mais rápida do que a média da conexão móvel atual. Essa realidade, quando transformada em cotidiano, sem dúvidas impactará positivamente nossas vidas, mas essa realidade deve demorar e — até esse dia chegar — veremos uma desigualdade digital explodir.

Antes de entendermos o que é o 5G e os impactos positivos, vamos olhar para a nossa internet brasileira atual. Segundo o TIC Domicílios 2020, relatório do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), mais de 83% das residências brasileiras possuem acesso à internet. No entanto, apenas 69% são de banda larga fixa e 45% contam com a presença de um computador. Até parecem percentuais bem interessantes, mas precisamos colocar uma lupa nestes números.

Ainda de acordo com o estudo anual do CGI.br, apenas 64% das famílias de classe DE possuem acesso à internet em casa. Quando o assunto são domicílios com computador, apenas 13% destas famílias possuem pelo menos um aparelho para toda a família. Outro destaque é a divisão por área. Enquanto a área urbana possui 50% dos domicílios com computador, a zona rural possui apenas 17%.

O período de isolamento social explicitou essa desigualdade digital com as aulas remotas. Enquanto os alunos das escolas particulares mantiveram o calendário escolar (ainda que com impactos consideráveis); alunos da zona rural e/ou de escolas públicas tiveram seu ano letivo impactado drasticamente. Seja pela ausência de uma boa conexão, seja pela falta de um aparelho adequado, tiveram seus estudos impactados pela distância. Um caso que ficou famoso foi do jovem Artur Ribeiro Mesquita, de 15 anos, que “adaptou uma sala de aula” em cima de uma árvore — veja a história do estudante aqui.

A chegada do 5G tem mais uma barreira nesta corrida desigual. Por se tratar de uma nova tecnologia, existe a necessidade de atualizar os equipamentos que se conectam à nova rede. No Brasil, atualmente os smartphones que utilizam o 5G não custam menos de R$ 6 mil, ou seja, são os tops de linha e nada acessíveis ao público de baixa renda.

Segundo o governo, o leilão da rede 5G não terá como impacto positivo apenas a possibilidade da chegada de um novo patamar de tecnologias, como carros autônomos ou procedimentos médicos a distância, mas também a diminuição dessa desigualdade digital. “Vamos cobrir todas as rodovias federais com pelo menos conectividade 4G, além de banda larga móvel para quase 10 mil localidades rurais, com a expansão do serviço para escolas e centros de saúde. Nossa meta para o ano que vem, e já temos condições, é de levar internet para 100% das escolas públicas do país”, afirmou Artur Coimbra, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

Talvez antes de pensarmos em futuro com carros autônomos, downloads velozes e outras tantas vantagens que o 5G pode nos trazer, seja importante também pensarmos em como levar essas tecnologias para todos os brasileiros. O país é gigantesco; continental, como aprendemos na escola, e a desigualdade pode alongar estas distâncias ainda mais.

Os termos do leilão do 5G obrigam aquelas que arremataram as frequências a levar cobertura para as 26 capitais e Distrito Federal até julho de 2022. Além disso, o serviço deverá cobrir todas as cidades brasileiras com mais de 50 mil habitantes até 2028, enquanto o serviço de 4G deverá cobrir todo o território nacional. Na teoria, este seria um cenário positivo, mas só o tempo nos dirá se conseguiremos reduzir esta desigualdade.

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