X Congresso GIFE: Fundo Marielle, favela e um resumo do segundo dia

X Congresso GIFE: Fundo Marielle, favela e um resumo do segundo dia

Se o primeiro dia de Congresso GIFE teve como destaque as discussões em torno da política e do Brasil do futuro, o segundo dia de evento – repleto de debates – teve como destaque a questão racial, a favela e o Brasil de agora. No período da manhã, debates como o fortalecimento e a inovação do investimento social ganhou espaço em vários painéis. A grande pergunta é “como podemos seguir incrementando o investimento social privado e evoluir este cenário?”.

Já na segunda parte do dia, tive o prazer de conhecer Ana Paula Lisboa. Nas palavras dela, “a mais velha de quatro irmãos e filha de dois pretos. Favelada e carioca de nascimento, atualmente divide a vida entre o Rio de Janeiro e Luanda, onde dirige a produtora cultural Aláfia.” Como escritora, Ana publicou contos e poesias em coletâneas nacionais e internacionais e, desde 2016, escreve periodicamente para a revista feminista AzMina e para o Segundo Caderno do jornal O Globo.

Jovem como a nossa constituição federal, Ana agora lança-se como âncora do web programa “Querendo Assunto”. Três mulheres que dividem um sofá numa conversa leve e perpassada por suas militâncias, lugar de fala e vivências (confira o primeiro episódio abaixo).

Ana possui uma história incrível. Tinha tudo para ser mais uma pessoa invisível na faixa dos 8,2% de brasileiros que são ignorados todos os dias. Preta e mulher, escolheu ser uma guerreira. Algo bem parecido com a sua colega de palco no dia 14 de março, Marielle Franco. Sim, Ana é uma das quatro mulheres que aparecem nas últimas imagens da vereadora assassinada no Rio de Janeiro.

Assim como Ana, Marielle também não desistiu. Mesmo longe, a vereadora ainda mobiliza a discussão em torno da equidade racial. O Fundo Marielle, apresentado neste segundo dia de congresso pela Fundação Ford, a Open Society Foundations e o Instituto Ibirapitanga, terá o aporte inicial de US$ 10 milhões e será gerido pelo fundo Baobá (para quem quiser apoiar o fundo, basta acessar aqui). O objetivo do fundo é fortalecer a participação e liderança de mulheres negras brasileiras no cenário político nacional. Marielle vive. Marielle, presente!

O que a gente precisa é que a sociedade como um todo se mobilize pela população negra. Há muitas possibilidades de contribuir nos mais diversos eixos (…), há sempre possibilidades de construir conexões.

“O que a gente precisa é que a sociedade como um todo se mobilize pela população negra. Há muitas possibilidades de contribuir nos mais diversos eixos, seja pela educação, saúde ou trabalho, há sempre possibilidades de construir conexões. Queremos tornar o Baobá o maior fundo para a equidade racial fora dos Estados Unidos e isso é muito simbólico, dado que no Brasil temos uma população majoritariamente negra”, disse Selma Moreira, diretora executiva do Fundo Baobá.

É de outra favela do Rio, mais precisamente da Favela do Sapo, na zona oeste do Rio, que vem outro destaque do congresso GIFE. Celso Athayde é fundador da Central Única das Favelas (CUFA), a maior organização não governamental focada nas favelas do Brasil e presente em mais de 15 países. Ele também é fundador da Favela Holding, a primeira holding social que se tem notícia, com 21 empresas focadas em soluções para favelas e periferias.

Ao lado de Fábio Deboni, conselheiro do GIFE e gerente executivo do Instituto Sabin, e Carla Duprat, diretora executiva do Instituto InterCement, Celso Athayde contou um pouco da sua trajetória da Favela do Sapo até a holding social. Deu exemplo dos atuais empreendimentos, como o Favela Vai Voando, que vende – segundo ele – R$ 200 mil em viagens aéreas todos os meses.

Já Carla Duprat compartilhou as dificuldades do investimento social privado (ISP) atuando em negócios de impacto. Ela comentou sobre dois cases próprios, o investimento na startup/programa Vivenda, que fornece kits de reforma para famílias de baixa renda, e a escola 4You2, que usa professores estrangeiros intercambistas para levar aulas de idiomas para comunidades de baixa renda (o case já havia sido apresentado aqui no InovaSocial – ouça abaixo – por meio do Quintenssa, que acelerou o projeto).

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