Tipos e distribuição de rochas controlam a concentração de mercúrio no ambiente

Tipos e distribuição de rochas controlam a concentração de mercúrio no ambiente

O mercúrio é um dos principais contaminantes ambientais globais e é um dos principais fatores de preocupação para a saúde humana. Seu acúmulo na cadeia alimentar pode causar doenças graves com efeitos neurotóxicos no cérebro e no sistema nervoso central, além de danos renais, cardiovasculares, imunológicos e alergias. Vale lembrar que o garimpo ilegal é uma das principais atividades humanas que levam à contaminação do meio ambiente pela liberação de mercúrio. O mercúrio liberado durante o garimpo pode ser transportado por águas de chuva, rios e lagos, aumentando a exposição humana ao metal tóxico.

Em 2019, um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) na população indígena Yanomami constatou presença de mercúrio em 56% das mulheres e crianças da região de Maturacá, no Amazonas. As 272 amostras de cabelo analisadas superaram o limite de 2 microgramas de mercúrio por grama de cabelo tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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“O mercúrio é disseminado pelas águas dos rios, e a contaminação de seres humanos se dá especialmente por meio da ingestão de peixes contaminados. O trabalho na região de Maturacá partiu uma demanda da própria comunidade, que ficou sabendo da pesquisa realizada em 2016 que revelou altos níveis de contaminação”, afirmou o coordenador da pesquisa, Paulo Basta, lembrando que, há três anos, estudo da ENSP na comunidade Yanomami de Aracaçá, na região de Waikás, em Roraima, chegou a encontrar contaminação em mais de 90% das pessoas examinadas. Vale lembrar que a aldeia de Aracaçá encontra-se às margens do Rio Uraricoera, o mais atingido pela nova febre do ouro.

A distribuição do mercúrio controlado por processos naturais

As características geológicas e a distribuição dos tipos de solo são capazes de modular a concentração de mercúrio em um ambiente. Ao analisar a geoquímica de solos e a concentração de mercúrio em sedimentos de corrente e águas superficiais na bacia do rio Itacaiúnas, no Pará, um estudo publicado na revista “Environmental Research” nesta segunda-feira (23) encontrou evidências de que a distribuição do metal foi controlado por processos naturais e de que não há contaminação significativa na região por fatores humanos.

Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal de Lavras (UFLA) encontraram maiores concentrações de mercúrio nas porções norte e central da bacia hidrográfica do rio Itacaiúnas, onde existem rochas de caráter magmático e já são naturalmente enriquecidas com a substância.

De acordo com Roberto Dall’Agnol e Prafulla Sahoo, pesquisadores do ITV e autores do estudo, foram utilizadas 5284 amostras ambientais de três diferentes meios (solos superficiais e sub-superficiais, sedimentos de corrente e águas superficiais) da bacia do Rio Itacaiúnas e 313 amostras de sedimentos de fundo e águas de lagoas dos platôs da região de Carajás. Os principais resultados indicam que não houve expressiva contaminação causada por ações humanas na bacia e que a distribuição do mercúrio foi controlada essencialmente por processos naturais.

Porém, apesar dessa baixa concentração, é preciso ter atenção aos níveis de mercúrio, principalmente por conta da possibilidade de acumulação do metal ao longo da cadeia alimentar e do seu potencial impacto no desenvolvimento de doenças graves. Segundo os autores, solos e sedimentos, ainda que com teores relativamente baixos de mercúrio, podem ser expostos à erosão ou a mudanças significativas de suas condições físico-químicas originais e, assim, liberar o metal para as águas superficiais (rios e lagos, por exemplo). Este é um risco potencial que precisa sempre ser considerado, frisam os autores. Dall’Agnol e Sahoo apontam que atividades humanas, como processos industriais e, no caso da Amazônia, a exploração de ouro em garimpos, podem provocar o enriquecimento de mercúrio no ambiente.

Os dados obtidos a partir do estudo em região de grande produção mineral poderão ser extremamente úteis para a compreensão do comportamento do mercúrio quando controlado por fatores naturais, avaliam os pesquisadores.

Além disso, o conjunto de resultados obtidos permitem uma melhor avaliação do risco ecológico, contribui para a definição de indicadores de sustentabilidade ambiental e pode apoiar ações destinadas a assegurar a saúde pública e o controle da poluição por mercúrio na bacia estudada e na Amazônia de modo geral. “Certas condições biogeoquímicas podem favorecer a formação de metilmercúrio nestes ambientes e sua subsequente transferência para a água com risco de sua introdução no ciclo biológico local. Em função disso, são relevantes estudos futuros para monitorar o comportamento do mercúrio neste meio e para melhor compreensão dos processos de mobilização do mercúrio de sedimentos e solos para a água e biota aquática”, completaram Dall’Agnol e Sahoo.

Imagem Destaque: Kawê Rodrigues/Unsplash

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