Soft skills: Por que devemos redefinir o que consideramos habilidades essenciais

Soft skills: Por que devemos redefinir o que consideramos habilidades essenciais

Em um mundo onde as organizações buscam incessantemente pela perfeição e eficiência, a definição de habilidades importantes parece estar restrita às capacidades diretamente mensuráveis. Contratamos e treinamos pessoas como se estivéssemos montando uma equipe de boliche, dando ênfase somente ao que pode ser facilmente avaliado.

Porém, ao observarmos o panorama corporativo, percebemos um paradoxo. Por que organizações similares, com profissionais de competências técnicas parecidas – as chamadas “habilidades vocacionais” –, apresentam resultados tão distintos? Há um erro em focar somente nas habilidades que conseguimos “ticar” em uma lista de requisitos para contratação.

O erro reside em nossa tendência de minimizar a importância de outras competências ao rotulá-las como “soft skills” (habilidades suaves). Esse termo em inglês pode ser traduzido como “habilidades comportamentais” ou “interpessoais”. No entanto, tais habilidades não são “suaves” ou “opcionais”. São elas que, muitas vezes, diferenciam organizações bem-sucedidas das que enfrentam dificuldades.

Habilidades técnicas, como engenharia, redação publicitária ou design gráfico, podem ser ensinadas. Mas, e quanto à tomada de decisões, participação ativa, enfrentamento de medos, trabalho em equipe, empatia e disposição para mudanças? Muitas vezes, as relegamos a um segundo plano, assumindo que são inatas e não podem ser aprendidas, o que é um equívoco.

Ao colocar em uma balança, as empresas tendem a priorizar habilidades facilmente testáveis, pois parecem mais palpáveis. No entanto, isso não significa que habilidades comportamentais, mesmo que mais difíceis de medir, não possam ser aprimoradas, praticadas ou que não tenham impacto direto em nosso trabalho.

Vamos, então, propor uma mudança de perspectiva: ao invés de “soft skills”, chamemos essas competências de “habilidades reais”. São “reais” porque são cruciais para o sucesso contemporâneo. São “reais” porque, mesmo que você domine habilidades técnicas, sem essas habilidades humanas, intrinsecamente conectadas à nossa essência, seu valor para uma organização é drasticamente reduzido.

Afinal, imagine ter em sua equipe um profissional que, além de qualificado tecnicamente, é perceptivo, carismático, focado, inspirador, empático e paciente. A influência de tal indivíduo em um grupo pode ser revolucionária.

Um estudo publicado no Harvard Business Review revelou que 69% dos gerentes sentem desconforto ao se comunicar com seus funcionários. Esse desconforto surge porque criamos sistemas corporativos que frequentemente sufocam a humanidade de seus colaboradores. Assim, a capacidade de se comunicar eficazmente torna-se uma “habilidade real” em um cenário onde muitos líderes não conseguem fazê-lo.

Segundo Peggy Klaus (em seu livro “”The Hard Truth About Soft Skills”), outro levantamento, do Graduate Management Admission Council, mostrou que, embora MBAs tenham forte aptidão analítica e quantitativa, muitos carecem de habilidades como pensamento estratégico, comunicação e adaptabilidade. Portanto, surge a questão: precisamos sacrificar um pelo outro?

A base de todas as “habilidades reais” é a capacidade de conversar genuinamente uns com os outros, buscando compreensão mútua. É essencial valorizar e investir no desenvolvimento dessas competências, garantindo que elas estejam no centro das práticas organizacionais.

À medida que o mundo evolui, as organizações devem também evoluir em sua percepção sobre o que verdadeiramente importa. Reconhecer e valorizar as “habilidades reais” não é apenas uma necessidade, mas um chamado para moldar um futuro corporativo mais empático, resiliente e próspero.


Créditos: Imagem Destaque – Master1305/Shutterstock

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