Samsung e Patagonia criam filtro de microplásticos para máquinas de lavar

Samsung e Patagonia criam filtro de microplásticos para máquinas de lavar

Os microplásticos, pedaços sólidos formados por polímeros e com até 5mm de comprimento, são um grave problema para o meio ambiente. Presentes em uma ampla variedade de produtos do nosso dia a dia, como cosméticos, roupas e tintas, eles se tornam um problema real quando chegam ao mar, associando-se a componentes tóxicos e sendo absorvidos pela vida marinha.

Longe da atenção da maioria, um dos maiores vetores da poluição por microplásticos é a produção de tecidos sintéticos. Assim como boa parte dos descartáveis, as fibras de poliéster, poliamida e viscose, para citar algumas, também são formadas por polímeros – e, seja na produção, no uso ou no descarte, é comum que elas soltem partículas.

Quando esses fragmentos vão parar em lugares errados, são tão poluentes quanto qualquer outro aglomerado de plásticos. Estima-se que 35% da poluição por microplásticos no oceano seja composta por “resíduos têxteis sintéticos”. Na prática, estamos falando de pedaços e fiapos de roupas sintéticas que, de alguma forma, acabaram no mar.

Conforme apontam os estudos da varejista de roupas estadunidense, Patagonia, a maior parte dessa poluição é causada durante o uso desses materiais. Isso porque, conforme lavamos os tecidos, é normal que eles soltem fiapos (e que sua máquina os mande direto para o esgoto, onde eles acabam chegando no mar).

Decidida a combater esse problema, a Patagonia buscou várias alternativas. Primeiro, a empresa começou a vender sacolinhas plásticas para serem usadas na lavagem, com o objetivo de conter essas partículas. Depois, mudou suas instruções de lavagem para recomendar o mínimo de ciclos possível – ou seja, lavar a roupa só quando estiver realmente suja, e não apenas porque foi usada uma vez.

Em sua busca, os pesquisadores da empresa chegaram a testar todos os filtros de fiapos do mercado. Apesar de todos os esforços, o obstáculo da poluição por microplásticos persistiu – até que, em 2021, os executivos da empresa realizaram uma apresentação para a Samsung.

“Eu expliquei ao grupo de executivos que, assim como qualquer outra empresa, enfrentávamos dificuldades em superar alguns desafios ambientais, incluindo a proeminente poluição por microfibras”, disse Vincent Stanley, funcionário da Patagonia envolvido na pesquisa e que hoje atua como Diretor de Filosofia da empresa, desenvolvendo e aplicando seus princípios.

A empresa sul-coreana topou o desafio, e não demorou muito para que as empresas começassem a colaborar por uma solução. Inicialmente, os pesquisadores da Patagonia explicaram à fabricante como realizavam os testes com tecidos.

Em seguida, conectaram o time da Samsung com a Ocean Wise, uma organização sem fins lucrativos e que também realiza experimentos sobre a poluição por tecidos sintéticos. Na época, diferentes modelos de máquinas de lavar da empresa foram enviados à Vancouver, onde ficam os laboratórios da Ocean Wise – e lá, diversos parâmetros mostraram como as lavagens poderiam ser menos prejudiciais ao meio ambiente.

“Basicamente, há duas formas de melhorar a performance da sua máquina de lavar,” conta Moohyung Lee, vice-presidente executivo e líder do departamento de R&D da Samsung. A primeira é usar água quente, o que definitivamente aumentará o seu consumo de energia. A segunda maneira é aumentar a fricção entre as roupas – e no caso dos materiais sintéticos, essa abrasão e fricção adicionais necessariamente vão causar a liberação de microplásticos.”

Ciente de que a água fria é melhor para o planeta e para o bolso dos consumidores, a fabricante sul-coreana já havia desenvolvido uma tecnologia chamada “EcoBubble”, que facilita a dissolução do sabão e melhora a performance de lavagem nos ciclos de água fria.

Já com a ajuda da Patagonia, as máquinas de lavar da Samsung também ganharam o ciclo “Menos Microfibra”, capaz de reduzir a produção de fragmentos em até 54%. E para lidar com a parcela restante de partículas, as duas empresas ainda desenvolveram um filtro de fiapos que pode ser conectado a qualquer máquina de lavar, capturando os fragmentos a partir do tubo de drenagem de água.

Apesar de parecer uma solução simples, a matéria da Fast Company sobre o assunto explica que, para fazer um bom filtro, foi necessário equilibrar duas necessidades conflitantes. Isso porque, para ser fácil de usar e cair no gosto do público, o filtro não poderia exigir limpezas constantes – ao passo que, por outro lado, tampouco poderia ficar entupido e perder sua capacidade de reter fiapos.

Como resultado, a tecnologia empregada no aparelho comprime as fibras, de modo que, mesmo com uma média de quatro lavagens por semana, só é necessário limpar o filtro uma vez por mês. Assim que o filtro fica cheio, o usuário é alertado via app e, num cenário ideal, pode até mesmo destinar as fibras para a reciclagem. Aqui, a mesma matéria ainda ressalta que o próprio filtro e sua embalagem são produzidos com materiais reciclados.

Uma vez que a OceanWise testou o filtro e o novo ciclo em conjunto, os pesquisadores puderam confirmar que ambos praticamente eliminam a poluição por microfibras, reduzindo-a em 98%. A partir de agora, o desafio é fazer com que o aparelho se popularize, algo que deve contar, inclusive, com a ajuda de novos marcos regulatórios ao redor do mundo.

Na França, por exemplo, as fabricantes de máquinas de lavar deverão incluir filtros desse tipo em seus produtos a partir de 2025. Além disso, conforme explica Matt Dwyer, vice-presidente de impacto e inovação na Patagonia, as próprias empresas parecem mais conscientes sobre o seu papel no enfrentamento aos microplásticos.

“Uma das razões de eu estar tão feliz em ver esse progresso é que, seis ou sete anos atrás, mais de cinco fabricantes de eletrodomésticos nos diziam que [a produção de microplásticos] era um problema da indústria de pneus e não delas.”

A própria Patagonia, que segue buscando por outras soluções no combate à poluição dos tecidos sintéticos, também segue a inspirar outras fabricantes têxteis. No momento, a empresa estuda como levar o mesmo princípio para as secadoras de roupas, que também liberam fiapos durante a secagem. Adicionalmente, a companhia também vem estudando o impacto da liberação de partículas em tecidos naturais, como linho e algodão.

Para aqueles que têm máquinas de lavar Samsung compatíveis com atualizações de software, o novo ciclo “Menos Microfibra” já pode ser baixado. Enquanto isso, no caso do novo filtro, a promessa é de que ele chegue a mais mercados em breve. Até o momento, o filtro de microfibras está disponível apenas na Coréia do Sul, mas deve chegar à Europa e aos EUA ainda neste ano, com um preço na casa dos US$ 150 (aproximadamente R$ 700, na conversão sem impostos).

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