Q, o primeiro assistente pessoal com voz não-binária

Q, o primeiro assistente pessoal com voz não-binária

Assistentes de voz, como Siri, da Apple, e Alexa, da Amazon, são mulheres, e não homens. Você pode mudar isso nas configurações e escolher uma voz masculina, é claro, mas o fato de a indústria de tecnologia ter escolhido uma mulher para ser, por padrão, nossa assistente pessoal sempre a postos, fala muito sobre nossas definições como sociedade: espera-se que as mulheres sejam organizadas com horários, aniversários e números de telefone; elas são mais carinhosas e mais cuidadosas que os homens. Além disso, quem quer pedir direções a um homem? Ele nunca vai parar em um posto de gasolina se estiver perdido!

Mas o que muitas pessoas – inclusive nós – perdem na crítica sobre o gênero dos assistentes pessoais é que eles são binários. Afinal, por que uma máquina deveria ter um gênero? Essa questão é exatamente o que Q está tentando consertar. Q, a primeira voz sem gênero do mundo para sistemas de inteligência artificial, foi desenvolvida pelo estúdio criativo Virtue Nordic e pelo festival de direitos humanos Copenhagen Pride, em conjunto com a cientista social Julie Carpenter. O projeto não tinha cliente, ele simplesmente nasceu.

Para seus criadores, o projeto Q resolve um problema muito real que acontece quando a tecnologia não representa a todos.

“Com base no que sabemos sobre algumas outras tecnologias que são meios de comunicação, entendemos que a representatividade social – ou a omissão da representatividade social na mídia – é importante para influenciar os valores sociais”, diz Julie Carpenter. “Há um círculo de influência entre a sociedade, as pessoas que desenvolvem a tecnologia e as pessoas que usam a tecnologia. Em outras palavras, como a Siri não pode ser neutra em termos de gênero, ela reforça uma tradição datada de normas de gênero.”

Meet Q: The First Genderless Voice - FULL SPEECHMeet Q: The First Genderless Voice – FULL SPEECH

Agora, os assistentes de voz geralmente têm um gênero por um motivo. As empresas testam essas vozes de computador nos usuários e analisam os resultados desses testes. Na Amazon, os usuários preferiam Alexa como mulher e não como homem. Esse conjunto de amostras relativamente pequeno foi extrapolado para representar Alexa para todos. A pesquisa mostrou também que homens e mulheres relatam que as vozes femininas são mais “acolhedoras” e “compreensivas” do que as vozes masculinas, e é fácil entender por que essas seriam qualidades que qualquer empresa desejaria transmitir a partir de seu assistente de voz. Mas essas empresas e pesquisas testaram apenas vozes masculinas e femininas. E testar um conjunto restrito de opções em um número limitado de usuários não é a melhor maneira de criar tecnologia que gera, de fato, representatividade.

Para desenvolver Q, Emil Asmussen e Ryan Sherman, da Virtue Nordic testaram várias vozes reais de pessoas não-binárias, combinaram-nas digitalmente e criaram uma voz principal que percorre entre 145 Hz e 175 Hz, em um ponto ideal entre faixas vocais femininas e masculinas.

Para os desenvolvedores, era importante que Q não fosse projetado apenas como não-binário, mas também percebido pelos usuários como não-binário. Assim, através do desenvolvimento, a voz foi testada em mais de 4.600 pessoas que se identificaram como não binárias na Dinamarca, no Reino Unido e na Venezuela, que classificaram a voz em uma escala de 1 a 5 – 1 sendo “masculina” e 5 “feminina”. Com mais feedbacks, a voz de Q continuou a ser ajustada até que fosse regularmente classificada como neutra em relação ao gênero.

Agora que Q está sendo promovido publicamente, Emil Asmussen e Ryan Sherman dizem que perceberam o interesse de empresas do setor de tecnologia que podem adotar Q em suas plataformas.

“O sonho é que ele seja implementado como uma terceira opção para Siri e Alexa”, disse a dupla. “Estamos convidando as empresas de tecnologia para colaborar conosco.”

Nós esperamos que o sonho de Emil e Ryan se torne realidade em breve. Hoje, seu assistente é homem ou mulher; no entanto, softwares e IAs não têm gênero. São apenas códigos. Então, se queremos que eles soem como humanos, talvez seja interessante que eles também representem as vozes não-binárias. Nessa perspectiva, adotar a IA genérica e neutra não é nem mesmo uma questão de direitos civis ou representação; é apenas uma questão de um bom design.

Meet Q: The First Genderless VoiceMeet Q: The First Genderless Voice

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