Impressão 3D pode fazer com que deficientes visuais experienciem a arte

Impressão 3D pode fazer com que deficientes visuais experienciem a arte

Ao viajar pelas galerias do Museu Canadense dos Direitos Humanos, você pode perceber os visitantes fazendo o impensável: tocar a arte.

Embora a manipulação de pinturas e esculturas seja geralmente proibida, o Museu dos Direitos Humanos está atualmente abrigando a primeira exposição de uma coleção especialmente desenvolvida de pinturas feitas para serem apreciadas pelo toque. As fotografias e obras de arte foram criadas pela 3DPhotoworks, usando um processo tecnológico patenteado que constrói obras de arte tridimensionais com sensores que abrem as maravilhas da arte, independentemente da capacidade de ver.

Embora as esculturas possam ser apreciadas pelo toque (com a aprovação dos curadores de um museu), pinturas, fotografias e impressões são mais difíceis de traduzir para os deficientes visuais. Neste mundo moderno, porém, a tecnologia está expandindo o modo como os deficientes visuais podem apreciar a arte.

A 3DPhotoworks foi fundada por John Olsen, ex-fotógrafo da revista LIFE, que começou a pensar sobre o impacto que as imagens tiveram em sua vida, o que o levou a pensar em uma vida sem imagens. Oito anos atrás, ele começou a pesquisar e desenvolver um processo de impressão em três etapas, que permite que pessoas com deficiências visuais experimentem mais a arte e a fotografia.

O processo consiste apenas na impressão em 3D por si só. Um programa de computador converte imagens 2D em dados 3D, que são então enviados para uma máquina que esculpe um baixo-relevo da imagem em um substrato de 1,5m a 3m. Eles então imprimem a imagem digital em cima do relevo. “Ninguém está fazendo o que estamos fazendo”, diz Olsen. “Nosso objetivo é criar uma rede mundial de museus e instituições – agora que a tecnologia está disponível –, onde pessoas cegas podem experimentar arte e fotografia.” Depois de conversar com um consultor técnico que é cego, Olsen decidiu adicionar sensores embutidos que trabalham para transmitir o máximo de informações possível para o “espectador” com deficiência visual. Existem três sensores embutidos fora da arte, que contam a história do artista e da arte em si. Há mais 24 sensores embutidos em toda a pintura. Quando você chega a uma coordenada específica na arte, um sensor retransmite informações como cor ou histórico que podem ajudar os espectadores a formar uma imagem mental melhor.

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A 3DPhotoworks aplicou o processo a pinturas como o Retrato de Dr. Gachet, de Vincent Van Gogh, e de Washington Crossing the Delaware, de Emanuel Leutze, que é a peça que Lynn Jackson encontrou na convenção anual da National Federation for the Blind. Lynn perdeu a visão em 2011, após um derrame e ficou emocionada por poder experienciar a arte novamente. Lynn, que pode ver sombras e formas por um olho, foi capaz de reconhecer a imagem com as mãos.

“Quanto mais eu senti, mais eu percebi que tinha visto a pintura antes”, diz Lynn. “Foi impressionante. Fui capaz de descobrir qual imagem eu estava olhando. Foi realmente emocionante. Era como se alguém acendesse uma luz em um quarto escuro. Foi maravilhoso.”

A capacidade de “ver” com as mãos é um conceito geralmente conhecido como “substituição sensorial”. A exploração do fenômeno começou nos anos 60, com o trabalho de Paul Bach-y-Rita, médico e engenheiro, que percebeu que estimular um sentido, como o toque, poderia substituir outro, como a visão. Desenvolvimentos no campo da substituição sensorial permitiram que um alpinista cego usasse sua língua como um “olho” graças à tecnologia de uma empresa chamada BrainPort. Seu dispositivo envia impulsos elétricos para o cérebro por meio de nervos na língua, em vez do nervo óptico. Uma câmera localizada na cabeça do usuário reúne pixels de informação, que são então traduzidos por um computador e enviados a uma série de eletrodos presos à língua. Parece estranho, mas os resultados são surpreendentes.

É um conceito semelhante que permite que Lynn “veja” a imagem de George Washington com as mãos.

Capturando a sutiliza da arte

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A 3DPhotoworks não é a única empresa que tenta tornar a arte e os museus mais inclusivos. Uma recente campanha feita no Indiegogo, idealizada por um grupo finlandês chamado Unseen Art, buscou financiamento para pinturas clássicas impressas em 3D para cegos. Eles usaram uma impressora 3D para criar uma versão escultural da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, permitindo que pessoas com deficiências visuais sintam seu sorriso enigmático e interpretem como queiram. “A Mona Lisa é uma espécie de clichê, e é por isso que queríamos fazer isso primeiro”, diz Tommi Niskanen, um dos fundadores da Unseen Art. “Queríamos fazer algo super icônico. Todos deveriam ter a experiência disso.”

“Eu já vi a Mona Lisa um milhão de vezes”, diz Lynn, que desde então sentiu a versão da icônica imagem da 3DPhotoworks. “Mas quando você sente, você realmente percebe a proporção de suas mãos, o comprimento de seu cabelo, o tamanho de seu rosto, você tem uma noção real do que a imagem parece.”

Depois de ver a representação da obra-prima clássica, de acordo com Niskanen, o Louvre – lar da Mona Lisa original – pode abrigar uma exposição de suas obras impressas em 3D.

Quanto à tecnologia, Niskanen admite que ainda é um trabalho em andamento. “Estamos tentando obter o menor custo possível, da maneira mais rápida e melhor possível”, diz ele. A Unseen Art espera automatizar o processo para facilitar a impressão das peças, na esperança de criar uma coleção inteira de arte impressa em 3D. “Nosso objetivo humilde é que esta seja como uma pesquisa de imagens do Google para cegos e deficientes visuais”, diz Niskanen.

A impressão em 3D pode dar vida a pinturas figurativas, mas trabalhos abstratos e tons de cores são mais difíceis de traduzir em uma peça tátil; e a Unseen Art se deparou com esse problema durante a impressão da Mona Lisa. “Pensando na luz e na coloração, houve muita discussão sobre se poderíamos aquecer um lado da pintura para dar uma sensação de luz e sombra”, diz Niskanen. “Também há muitas opções para diferentes materiais e estamos brincando com isso, mas não temos a pintura exata. É uma interpretação disso. Você nunca terá a mesma experiência, mas esperamos avançar em direção a isso.”

De sua parte, Lynn Jackson espera que a apreciação da arte pelos cegos não termine com retratos e imagens realistas, embora ela entenda que algumas das sutilezas e, é claro, as cores seriam perdidas. Como fã de Jackson Pollock, ela espera que os inovadores perseverem. “Você teria uma noção das formas, da sensação e do movimento”, diz Lynn. “Se eu pudesse sentir isso, teria uma noção do movimento da pintura, mesmo que não haja uma imagem ou forma específica. Sentir isso me daria uma ideia do que se está vendo. Você sabe que está espalhado por toda a tela, mas a menos que eu possa sentir isso, eu não sei disso.”

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