E se fabricássemos couro em laboratórios?

E se fabricássemos couro em laboratórios?

O mercado de moda é uma fonte significativa de poluição. Contribuindo com cerca de 8 a 10% das emissões globais de gases do efeito estufa, a indústria do couro desponta como um dos principais “vilões” que contribuem com as mudanças climáticas.

Enquanto isso, a criação de gado é responsável por 14,5% dessas emissões anualmente. E, à medida que o debate público em torno das mudanças climáticas se intensifica, o couro vegano surge como uma alternativa promissora.

Marcas de renome, como Stella McCartney e Ganni, já repudiaram o uso do couro animal. Entretanto, existe um porém. Enquanto opções inovadoras como o “couro de abacaxi” ganham espaço, a maioria dos produtos de couro vegano é derivada do poliuretano, um plástico oriundo de combustíveis fósseis. Assim, somos confrontados com um dilema: como evitar a substituição de uma indústria poluente por outra?

Para entendermos o panorama, é vital avaliar o quão prejudicial o couro animal tem sido. A demanda crescente por produtos de couro projeta o abate de 430 milhões de vacas anualmente até 2025. Mais alarmante ainda é o fato de que a indústria pecuária é a principal causa do desmatamento da Amazônia, além de contribuir para a poluição hídrica e desalojamento de comunidades indígenas.

O couro animal também não é inofensivo no que tange à poluição química. Aproximadamente 80 a 90% do couro é tratado com cromo durante o curtimento – um processo pelo qual o pelo e o tecido são removidos da pele. A questão aqui é a liberação deste metal pesado nos ecossistemas, colocando em risco a saúde dos trabalhadores e comunidades locais.

Surge uma luz no fim do túnel: o couro produzido em laboratório.

Este novo campo, chamado de biofabricação, tem o objetivo de produzir couro sem a necessidade de animais. Aqui, a real inovação reside em estabelecer uma categoria de materiais baseados em biofábricas que podem reduzir nossa dependência tanto de animais quanto de produtos petroquímicos.

Uma das abordagens mais intrigantes neste setor é a da Modern Meadow, que evoluiu sua técnica para utilizar proteínas de origem vegetal, chamadas de Bio-Alloy, ao invés de células de pele de vaca. Em uma direção similar, a Bolt Threads desenvolveu um couro baseado em micélio, a rede de fios fúngicos, criando um material que imita a textura e aparência do couro animal.

Além disso, a adidas, em parceria com a Bolt Threads, apresentou ao mundo o tênis conceito Stan Smith Mylo, feito deste inovador material de micélio. Com características que remetem ao couro e uma produção ecológica, essa colaboração é um marco na busca por uma moda mais sustentável.

A perspectiva é animadora. Andras Forgacs, cofundador da Modern Meadow, acredita que “materiais baseados em biofabricação crescerão para rivalizar, e finalmente superar, produtos animais e sintéticos baseados em combustíveis fósseis”. A questão que permanece é: estes couros produzidos em laboratório serão adotados em escala global?

Enquanto essa transição não ocorre, ainda há opções sustentáveis disponíveis. Por exemplo, optar por peças vintage ou apoiar fornecedores que utilizam práticas mais sustentáveis. Mas uma coisa é certa: o couro produzido em laboratório é uma promissora solução que aponta para um futuro mais verde e ético no universo da moda. E quem sabe, em breve, nossos sapatos e jaquetas sejam tão ecológicos quanto estilosos.

Bringing fashion into the future: Microsilk™ dress by Bolt Threads and Stella McCartneyBringing fashion into the future: Microsilk™ dress by Bolt Threads and Stella McCartney
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