Semana de 4 dias é boa para empregados e empregadores, aponta estudo

Semana de 4 dias é boa para empregados e empregadores, aponta estudo

Um verdadeiro sonho para os empregados, a semana de 4 dias úteis talvez não precise ser um motivo de preocupação para os empregadores. Conforme dados de uma pesquisa divulgada em fevereiro de 2023, no Reino Unido, uma semana de trabalho mais curta pode ir além da qualidade de vida dos trabalhadores, refletindo em mais produtividade e faturamento nas empresas.

Considerado o maior já realizado sobre o assunto, o estudo foi conduzido durante seis meses, e envolveu cerca de 2.900 funcionários, em 61 companhias. Segundo o que se extrai do relatório final, os principais benefícios da semana de 4 dias incluem: redução nos casos de burnout, diminuição nos níveis gerais de ansiedade e fadiga, bem como a percepção, por parte dos funcionários, de uma relação mais equilibrada entre vida pessoal e trabalho.

Para além dos escritórios, a mudança também impactou a divisão das tarefas domésticas entre os gêneros. Durante o experimento, 27% dos homens afirmaram ter passado a dedicar mais tempo no cuidado com os filhos, enquanto o mesmo movimento só foi visto em 13% das mulheres.

Até aí, é possível concluir que os únicos beneficiados pela semana de 4 dias são os empregados. Entretanto, a mesma pesquisa constatou que, durante todo o período observado, nenhuma das empresas envolvidas perdeu receita – pelo contrário.

Ao longo dos seis meses de teste, o faturamento médio entre as companhias cresceu em 1,4%. Já em comparação com o mesmo semestre em anos anteriores, a alta nos ganhos foi ainda mais expressiva, chegando, em média, aos 35%.

Da mesma forma, embora muito se possa argumentar sobre os custos que esse novo modelo representaria, o relatório também aponta que apenas uma pequena parte das empresas precisou contratar mais funcionários. Não por acaso, mesmo após o estudo, a grande maioria delas (92%) decidiu manter a semana de 4 dias, ao passo em que 18 já tornaram a mudança permanente.

Teste-piloto faz parte da campanha “4 Day Week” – que, em breve, chegará ao Brasil

O estudo workweek pilot foi realizado de junho a dezembro de 2022, e envolveu pesquisadores nas Universidades de Oxford, Cambridge e Boston College. Além das instituições, a iniciativa também teve o apoio da “4 Day Week”, uma campanha global que incentiva e auxilia a adoção da semana de 4 dias ao redor do mundo.

No Brasil, um experimento parecido deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Entre junho e julho, a consultoria brasileira sobre felicidade no trabalho, Reconnect Happiness at Work, deve prestar informações à qualquer empresa que se interesse em fazer parte do programa. Para participar, basta preencher o formulário no site da 4 Day Week.

As companhias não dependem de nenhum requisito mínimo para integrarem o teste. Contudo, a mentoria prestada pelas empresas terá um custo, de valor ainda não divulgado. Por aqui, a estimativa é de que as inscrições sejam abertas em agosto, com as empresas sendo preparadas para adotar o modelo em setembro.

Tal qual detalha a exame, a metodologia foi desenvolvida pela Boston College, e utiliza o que se chama por 100-80-100: 100% do salário, 80% do trabalho e 100% da produtividade. Ao longo dos testes, os organizadores não só prestam apoio às companhias, como também avaliam a sua aderência ao modelo, baseando-se em indicadores financeiros e de bem-estar profissional.

No caso do teste desenvolvido no Reino Unido, a conclusão é de que a semana de 4 dias é amplamente eficaz em aumentar a produtividade e qualidade de vida dos funcionários.

Além de mais curto, o novo modelo também agrada por ser mais flexível, uma vez que se mostrou bem-sucedido em diferentes cenários de distribuição de carga-horária. A depender do ramo de atuação da empresa, por exemplo, pode ser mais indicado dar folgas às sextas. Já em outros casos, apenas limitar o trabalho às 32 horas semanais pode ser suficiente.

Em todos os casos, ressalta-se que a semana de 4 dias é diferente de uma simples redução de carga horária, uma vez que não implica em redução salarial. Além disso, conforme explicam os organizadores, é importante que as companhias passem por um treinamento antes de adotarem o modelo. Nesse sentido, a mentoria da 4 Day Week prevê que empresas que já experienciam a semana reduzida auxiliem as eventuais novatas a se adaptarem.

Ao longo da pesquisa, ainda são apontados diversos casos onde a semana de 4 dias foi efetiva em mitigar as pressões inerentes à certas áreas de atuação – sejam as causadas pelas altas cargas de trabalho ou, ainda, pelas altas cargas emocionais.

Mais do que um remédio promissor para ambientes de trabalho problemáticos, porém, a semana de 4 dias – mais especificamente a sua defesa cada vez mais ampla – também aponta para um fenômeno igualmente crescente: a mudança global na cultura do trabalho e nas expectativas dos profissionais, sobretudo após a pandemia da COVID-19.

Desde a eclosão da crise sanitária em 2020, um número cada vez maior de pessoas tem encontrado novas formas de trabalhar – inclusive, priorizando as que melhor atendem às suas necessidades e ao seu bem-estar. Nesse sentido, estudos como o conduzido no Reino Unido servem de base científica para indicar que, além de uma demanda da classe trabalhadora, esses novos modelos de trabalho podem ser mais rentáveis e produtivos do que se imagina.


Créditos: Imagem Destaque – Aleksandra Pikalova/Shutterstock

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