Reduzir emissões não basta: remoção do carbono na atmosfera é urgente, diz IPCC

Reduzir emissões não basta: remoção do carbono na atmosfera é urgente, diz IPCC

Os esforços para reduzir as emissões de carbono nunca foram tão grandes, mas será que basta apenas diminuir a medida com que despejamos gases poluentes na atmosfera? Um artigo publicado este mês na revista do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachussetts, alerta para o que deve ser feito com todos os gases do efeito estufa que já emitimos até agora.

Conforme aponta o artigo, o último relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, deixa claro que a remoção do carbono na atmosfera não é mais uma questão opcional – tampouco uma medida acessória à redução das emissões em si.

Apesar disso, a preocupação com o tema é legítima, uma vez que a possibilidade de remover o carbono presente no ar poderia “acomodar” os governos e corporações acerca da necessária renovação energética.

Em termos mais práticos, há um receio real da comunidade científica de que, a medida em que a remoção do carbono na atmosfera se torne efetivamente viável, a consequência seja o afrouxamento das metas para reduzir as emissões. Como resultado, o combate às mudanças climáticas voltaria ao segundo plano, passando novamente a ser preocupação das gerações futuras.

Último relatório do IPCC descarta a remoção de carbono como medida opcional

Até o último informe do painel da ONU, que revelou grandes preocupações com as mudanças climáticas já no presente, era comum pensar na remoção de carbono como um esforço adicional à redução das emissões.

Entretanto, conforme o último relatório do órgão revelou, mesmo reduzindo drasticamente a medida com que jogamos carbono no ar, as chances do efeito estufa elevar as temperaturas médias do planeta são quase certas.

Isso ocorre porque, como é de se imaginar, não é possível cessar as emissões de uma vez: setores estratégicos como a aviação, a produção de aço e a construção civil ainda não têm alternativas que sejam zero-carbono e efetivamente viáveis. Consequentemente, é preciso não só reduzir as emissões nos outros setores, mas eliminar o que já está presente na atmosfera, a fim de compensar as emissões que continuarão alimentando certas indústrias.

Adicionalmente, o artigo também alerta para o fato de que o dióxido de carbono não é o único gás do efeito estufa que liberamos na atmosfera rotineiramente. Sobretudo no ramo agropecuário, as emissões de óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), uma dupla importante de gases do efeito estufa, também ocorre em grande escala.

Por fim, o último motivo que possivelmente tornará a remoção de carbono uma medida tão importante quanto a queda nas emissões é que muito dificilmente alcançaremos nossas estimativas mais ambiciosas.

No passado, acreditava-se que seria viável limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Hoje, no entanto, o IPCC afirma que seriam necessárias ações imediatas para manter essa margem – o que claramente não está ocorrendo.

Com isso, e somando ao fato de que já vivemos em um mundo 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais, sobra pouca margem para agir a tempo. Neste caso, a remoção do carbono na atmosfera passa a ser uma medida essencial para evitar o aumento de 2ºC no próximo século, o que poderia ser fatal para o nosso estilo de vida e espécie.

Remoção do carbono pode saldar a dívida histórica dos países ricos

Conforme também explica Zeke Hausfather, autor do texto e um dos contribuintes do último relatório do IPCC, a redução do carbono na atmosfera ainda pode servir como um meio dos países ricos, considerados os maiores emissores históricos de gases estufa, saldarem suas dívidas com os países pobres e em desenvolvimento.

Isso porque, uma vez que sua industrialização não considerou os impactos ambientais no passado, muitos dos países agora em ascensão consideram “injusto” que tenham de arcar com o ônus do desenvolvimento sustentável sem nenhum apoio.

Neste caso, incumbiria às nações ricas, e mais tecnologicamente desenvolvidas, a missão de “limpar a sujeira”, enquanto os países em desenvolvimento se encarregariam de poluir menos.

É preciso administrar as expectativas, afirma contribuinte de relatório do IPCC

Por último, o especialista afirma que, muito embora seja uma medida importante, não é recomendável ancorar todas as nossas esperanças na remoção do carbono presente na atmosfera.

O motivo? Mesmo se conseguíssemos reduzir para US$ 100 o custo de capturar 1 tonelada de dióxido de carbono do ar, ainda custaria US$ 22 trilhões, aproximadamente o PIB dos EUA, para reverter o processo de aquecimento em um décimo de 1ºC. Isso lembrando que, hoje, o custo médio desse tipo de operação está em torno de US$ 600 por tonelada.

Mas calma, não é objetivo meu, tampouco do Zeke, desanimar você quanto às nossas chances de resolver a questão climática no mundo. Em vez disso, o que o texto do especialista tenta alertar é que, muito embora seja atraente acreditar no desenvolvimento de uma tecnologia “milagrosa”, e que irá viabilizar a remoção do carbono presente hoje na atmosfera, é muito mais barato, efetivo e realista apostar na redução das emissões.

Apesar disso, ele também relembra que a captura do carbono presente no ar pode ser uma aliada se encarada como deve, ou seja, como uma medida complementar – tão necessária quanto a redução das emissões, mas que não será o foco das medidas contra o aquecimento global, dadas as suas limitações técnicas.

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