Um ingrediente culinário antigo pode revolucionar a reciclagem do poliéster

Um ingrediente culinário antigo pode revolucionar a reciclagem do poliéster

O mundo da moda pode estar prestes a ter uma revolução ecológica e a estrela do momento não é nenhuma grife sustentável, mas sim um ingrediente culinário bastante familiar: o sal amoníaco – também conhecido internacionalmente como “sal de hartshorn”, frequentemente usado nas receitas antes da popularização do fermento em pó. No Brasil, seu uso ficou menos comum devido ao seu odor forte, mas ainda pode ser achado em algumas lojas especializadas.

Pontuações regionais e histórias feitas, vamos aos fatos: o poliéster, pode até agradar devido à sua durabilidade em nosso guarda-roupa, mas é um verdadeiro vilão para o meio ambiente. Ele leva séculos para se degradar e seu processo de reciclagem é desafiador, principalmente quando entrelaçado ao algodão. Esse “casamento têxtil”, apesar de popular e que movimentou um mercado avaliado em US$15,9 bilhões em 2023, é responsável por metade do lixo têxtil mundial.

E aqui entra o sal amoníaco. Pesquisadores da Universidade de Copenhague (Dinamarca) – liderados pelo grupo Jiwoong Lee, conhecidos por suas inovações ecológicas –, descobriram que, ao aquecer esse antigo ingrediente com algumas outras substâncias, como o etileno glicol, o poliéster se degrada, deixando o algodão intacto e pronto para ser reutilizado. E a cereja do bolo? O poliéster não apenas se decompõe, mas se transforma em BHET, a matéria-prima para produzir plásticos como… o poliéster! É a reciclagem atuando como ferramenta na economia circular.

“Vimos algo flutuando na superfície e ficamos confusos. Demorou um pouco para reconhecermos que era algodão. Realizamos vários testes para estudar a estrutura do algodão e, para nossa surpresa, ele permaneceu intacto… Então, você pode, na prática, reutilizar aquele algodão para fazer outra camiseta. Foi realmente inacreditável,” diz Shriaya Sharma, estudante de doutorado do grupo de pesquisa e uma das autoras do artigo publicado na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering.

O método é seguro, eficaz e, o melhor de tudo, não tóxico. Até mesmo estudantes escolares conseguiram replicar o processo em visitas ao laboratório. A equipe de Copenhague já deu entrada no pedido de patente e está em busca de parceiros para expandir e, quem sabe, industrializar a técnica.

Em um mundo que clama por soluções sustentáveis, essa inovação carismática, vinda de uma cozinha antiga, promete ser a próxima grande coisa no universo têxtil. E quem diria que a resposta estava, literalmente, na receita da vovó?


Créditos: Imagem Destaque – Zivica Kerkez/Shutterstock

Compartilhe esse artigo: