Do óleo de cozinha ao querosene sintético: O futuro dos combustíveis na aviação

Do óleo de cozinha ao querosene sintético: O futuro dos combustíveis na aviação

A corrida por uma aviação mais sustentável está acelerando, e a busca por alternativas aos combustíveis fósseis tornou-se um dos pilares desse movimento. A indústria da aviação, responsável por uma parcela considerável das emissões globais de dióxido de carbono, está de olho em soluções que possam, de fato, transformar o futuro dos voos comerciais.

Entre essas soluções, destacam-se três combustíveis sustentáveis que prometem não apenas reduzir as emissões, mas também redefinir o que entendemos por viagens aéreas ecologicamente corretas. Saiba mais sobre cada um eles a seguir.

1. Óleos e gorduras de cozinha: O lado verde dos resíduos domésticos

Quem diria que o óleo usado para fritar batatas poderia ajudar a salvar o planeta? Essa é a proposta dos biocombustíveis produzidos a partir de óleos e gorduras de cozinha, uma alternativa que já tem sido adotada por diversas companhias aéreas.

A KLM, pioneira no uso desse tipo de combustível, realizou, em 2011, o primeiro voo comercial do mundo parcialmente alimentado por Combustível Sustentável de Aviação (SAF) feito de óleo de cozinha usado. A empresa se comprometeu a adquirir apenas SAF produzido a partir de matérias-primas que não competem com a produção de alimentos ou afetam a biodiversidade, evitando assim o uso de óleo de soja e óleo de palma, que estão associados a altas taxas de desmatamento.

Em 2023, a Virgin Atlantic também se destacou ao realizar o primeiro voo transatlântico utilizando combustível sustentável feito a partir de resíduos de carbono e óleos de cozinha, no trajeto entre Londres e Nova York.

Além de serem uma opção mais acessível, esses combustíveis podem reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, chegando a cortes de 80 a 90% em relação aos combustíveis fósseis tradicionais. Essa alternativa aproveita um resíduo abundante, transformando o que seria descartado em uma solução para um dos maiores desafios ambientais do nosso tempo.

2. Biomassa e resíduos municipais: Transformando lixo em energia

O conceito de “lixo” está sendo redefinido na aviação. Biomassa e resíduos municipais estão se mostrando recursos valiosos para a produção de combustíveis sustentáveis. Algas, resíduos agrícolas, e até mesmo resíduos urbanos, que antes eram apenas problemas a serem gerenciados, agora são vistos como fontes potenciais de energia limpa.

Em 2021, a United Airlines deu um passo significativo ao utilizar combustível derivado de resíduos agrícolas em um voo comercial, demonstrando que essa tecnologia já não é apenas uma promessa distante. A empresa também se comprometeu se tornar 100% verde até 2050, com a meta de reduzir completamente suas emissões de gases de efeito estufa.

Embora os custos de produção ainda sejam elevados, o potencial de redução de emissões é significativo, podendo alcançar níveis comparáveis aos dos biocombustíveis de óleos e gorduras.

3. Querosene sintético: A fronteira da inovação energética

O querosene sintético é talvez o avanço mais excitante na jornada rumo à aviação verde. Produzido a partir da combinação de hidrogênio e dióxido de carbono, este combustível tem o potencial de oferecer emissões quase nulas, especialmente quando o hidrogênio é gerado a partir de fontes renováveis.

Um marco importante nesse campo ocorreu em outubro de 2021, quando a organização sem fins lucrativos atmosfair inaugurou, na Alemanha, a primeira planta de produção de querosene sintético com o objetivo de criar um produto com pegada de carbono neutra. Nessa mesma época, a Lufthansa firmou um acordo para comprar 25 mil litros desse combustível por ano, durante cinco anos, para serem misturados com querosene convencional, demonstrando um forte compromisso com a sustentabilidade.

Já a KLM, em parceria com a Shell, utilizou 500 litros de querosene sintético em um voo de Amsterdã para Madri em fevereiro de 2021. Enquanto isso, a Airbus tem colaborando com várias empresas para abrir uma nova instalação de produção de querosene sintético em Hamburgo, com previsão de operação em 2026.

Essas três opções de combustíveis sustentáveis representam um futuro promissor para a aviação; mas, para que se tornem realidade em larga escala, será necessário um esforço coordenado entre governos, indústria e consumidores. Com o avanço dessas tecnologias, podemos estar à beira de uma revolução no transporte aéreo, onde voar alto significará também cuidar do nosso planeta.


Créditos: Imagem Destaque – svitlini/Shutterstock

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