Empreendedorismo Inclusivo: Programa gera novos negócios geridos por pessoas com deficiência e seus familiares

Empreendedorismo Inclusivo: Programa gera novos negócios geridos por pessoas com deficiência e seus familiares

Desde 2019, novos negócios estão surgindo no país com uma característica em comum: a inclusão. Por meio de formações na área de empreendedorismo, a Ação Social para Igualdade das Diferenças – ASID Brasil ajudou a colocar no mercado 92 negócios conduzidos por pessoas com deficiência e seus familiares em nove estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O resultado é fruto do Programa Empreenda, iniciativa inclusiva que oferece oficinas temáticas multidisciplinares, mentorias e acompanhamento para adaptação e inserção no mercado de trabalho e no empreendedorismo.

Nos últimos três anos, a ASID realizou seis edições do Programa Empreenda em parceria com empresas, beneficiando 164 famílias de 34 cidades. Uma dessas edições foi realizada em parceria com a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência da Cidade de São Paulo. Para 76% das pessoas formadas, o curso deu a confiança de que elas podem empreender e 52% indicaram que saíram do curso colocando em prática as ferramentas e os conteúdos que aprenderam. Com isso, ganharam uma fonte de renda e a oportunidade de traçar um novo rumo para suas vidas.

Leia também: Como empresas podem avançar na inclusão das pessoas com deficiência

A inclusão de pessoas com deficiência ainda são um desafio no país. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social, em 2019, cerca de 2,6 milhões de famílias cujo algum integrante é pessoa com deficiência estavam em situação de pobreza. Por isso, a capacitação dessas pessoas para o empreendedorismo pode ser uma forma de promover autonomia financeira e qualidade de vida. “Permite que elas possam comprar remédio, ter plano de saúde, investir em lazer ou até guardar dinheiro. Além do poder de consumo, a geração de renda dá a perspectiva de um futuro melhor”, avalia a diretora executiva da ASID, Isabela Bonet.

Além de promover a autonomia financeira, o Programa Empreenda dá mais visibilidade para as pessoas com deficiência e familiares e gera o sentimento de pertencimento. “Elas passam a fazer parte de um grupo em que se sentem à vontade para falar sobre suas inseguranças, é um espaço em que elas se identificam e se apoiam”, complementa Isabela Bonet.

A próxima edição será realizada em Curitiba (PR) e pessoas com deficiência residentes na cidade, maiores de 18 anos, poderão participar da sétima edição do Programa Empreenda, que oferece 40 vagas e acontecerá entre os meses de abril e maio em dois turnos: manhã (das 8h às 12h) e tarde (das 13h às 17h), totalizando 320 horas de capacitações em temas como vendas, marketing, precificação, gestão financeira e formalização, sem contar o processo de mentoria. O público-alvo é formado por pessoas que desejam empreender, que estão buscando se inserir no mercado de trabalho ou que já estejam trabalhando. Os interessadores podem fazer inscrição até o dia 15/04 pelo acessando este formulário.

O curso, com módulos básicos e específicos (carreira no mercado de trabalho formal ou empreendedorismo), mentorias e acompanhamento, terá aulas ministradas presencialmente e a nova edição terá novidade: a vitrine virtual. “Além das aulas e mentorias, a gente aprofunda a divulgação dos novos empreendimentos na internet montando um catálogo on-line para postar nas nossas mídias e incentivar que outras pessoas comprem desses negócios. A partir dessa ideia, vamos criar vitrines temáticas aproveitando datas como Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Namorados”, detalha Isabela.

Um recomeço de impacto

Com hemofilia, Everaldo Antunes trabalhou por 30 anos em um hospital de São Paulo. Faltando pouco para conquistar a tão sonhada aposentadoria, foi demitido e entrou em depressão. A porta que foi fechada, no entanto, abriu uma janela de oportunidade. A esposa de Antunes, Cleia, sempre gostou de costurar e sugeriu ao marido que eles tentassem empreender na área. Talento havia de sobra, mas faltava conhecimento técnico. Por meio de uma associação para hemofílicos, Antunes ficou sabendo do Programa Empreenda e integrou a edição realizada em parceria com o município de São Paulo, que aconteceu entre junho e setembro de 2021.

“Aprendi sobre muita coisa importante para montar um negócio: como precificar, definir público-alvo, fazer divulgação, logística e faturamento. Foi um divisor de águas”, afirma Antunes. Com o conhecimento, Antunes sentiu segurança para dar mais um passo: comprar uma máquina de costura industrial. “Eu peguei a minha rescisão do trabalho e estava com dúvida se comprava uma geladeira, porque a nossa não estava funcionando direito, ou se comprava a máquina de costura industrial. Mas os mentores do curso me ajudaram a ver que investir na máquina era a melhor opção porque daria retorno financeiro. Aí peguei o dinheiro da rescisão, comprei uma máquina e materiais”.

Com equipamento, conhecimento técnico e o talento de Cléia, que se inspirou para fazer um curso de aperfeiçoamento em técnicas de costura, o casal abriu a “Cléia Cores e Panos”, uma empresa que atua com costura criativa, patchwork e trabalhos artesanais. “Eu faço ecobag, almofadas, kit higiênico e necessaire customizada, que é o que mais vende. Como eu também trabalho fora, fico na produção e o meu marido faz toda a parte de logística, divulgação, compra de materiais e emissão de notas. Assim a gente segue e faz entrega para todo o país”, explica a empreendedora. Agora, o sonho do casal é abrir uma loja física. “Queremos que nossa marca seja reconhecida, isso não é apenas um hobby, é nossa vida”, finaliza Antunes.

De Manaus vem outro caso de sucesso do Programa Empreenda. A pedagoga Helen Regina participou em 2021 de uma edição realizada em parceria com o Banco Bradesco, no formato on-line. Na formação, ela conseguiu o impulso que precisava para transformar um sonho em realidade: produzir e vender biojoias. Mãe de uma menina com deficiência intelectual, Helen ficou sabendo do Empreenda pela Fundação Pestalozzi, depois de ter sido demitida do emprego em razão da crise gerada pela pandemia.

“Eu sempre gostei de bijuterias, principalmente biojoias, e comecei a fazer e dar para família e amigos. Foi aí que decidi seguir esse ramo. Faço biojoias com semente de açaí, buriti e paxiúba. O Empreenda fez muita diferença para que eu entendesse a importância de formalizar meu trabalho, não basta ter só o dom, é preciso ter embasamento teórico e pensar em estratégias de vendas. Percebi, por exemplo, que aqui em Manaus as pessoas também têm interesse em bijuterias feitas com miçangas, por isso, incluí no meu negócio”, conta Helen. “Outro ponto fundamental é a acolhida e o ânimo que a equipe o grupo nos dá durante a formação. Faz toda a diferença para que a gente não desista”.

Helen Regina fundou a Regi Bijoux e atualmente comemora seus primeiros resultados. Já começou a participar de grandes feiras, receber pedidos de outros estados e ver a renda mensal aumentar mais de 100%. “Quando eu comecei, conseguia ganhar, no máximo, R$ 200 por mês. Agora estou na faixa dos R$ 700 e a próxima meta é chegar aos R$ 1 mil, mas meu sonho mesmo é poder participar de uma feira nacional e depois começar a vender minhas peças para outros países”.

Ouça abaixo o nosso podcast #44: Os desafios da inclusão, com Matheus Garcia, da ASID Brasil

Imagem Destaque: BAZA Production/Shutterstock

Compartilhe esse artigo: