Arquitetura open-source: o movimento que quer revolucionar a urbanização de baixo-custo

Arquitetura open-source: o movimento que quer revolucionar a urbanização de baixo-custo

Você já ouviu falar em arquitetura open-source? Aos mais alheios ao assunto, o termo pode parecer oriundo de alguma discussão sobre informática ou tecnologia – muito longe disso, porém, ele descreve uma nova forma de pensar a urbanização e o papel do arquiteto.

Conforme descreve Kaley Overstreet, em seu artigo sobre o tema, a arquitetura “de código-aberto”, como poderia ser traduzida ao português, consiste, basicamente, no livre compartilhamento de projetos arquitetônicos.

Por outro lado, há quem defenda que esta seja uma visão reducionista da coisa: apenas uma das dimensões de um conceito que propõe revolucionar a urbanização, sobretudo em comunidades mais pobres.

Nesse sentido, os arquitetos pró-open-source defendem que, para além do fornecimento de projetos, a iniciativa presume um reposicionamento do arquiteto. Dessa forma, o profissional deixaria de ser associado somente a grandes edificações, ou construções de luxo, e usaria da liberdade de informação para impactar positivamente a urbanização das massas.

Descrevendo dessa forma, pode parecer até que o que proposto aqui é caridade, quer seja, que os arquitetos forneçam seu trabalho “gratuitamente” para a construção de um bem maior. Contudo, não se trata de nada disso, uma vez que, na arquitetura open-source, o papel do profissional é sim remunerado, mas de forma diferente.

De acordo com o que afirma Overstreet, os defensores da iniciativa propõem que o arquiteto deixe de estar vinculado a obras específicas, passando a ser um facilitador no trabalho de outras pessoas.

Em termos simples, não bastaria fornecer os projetos abertamente, mas re-elaborá-los, de forma que o projeto arquitetônico pudesse ser compreendido e, sobretudo, executado, por outros profissionais capacitados.

Aqui, seria possível alegar que a proposta retira o protagonismo do arquiteto. Entretanto, os profissionais da área que são simpáticos à ideia garantem que, na verdade, trata-se de um reposicionamento da categoria.

Ao final das contas, o arquiteto passaria a fornecer seus conhecimentos de uma forma mais eficiente, fazendo isso ao permitir que mais edificações contem com projetos arquitetônicos.

Para além disso, a iniciativa também busca colocar o arquiteto dentro de um corpo colaborativo de pessoas e entidades, já que seu trabalho poderia ser aproveitado por políticas governamentais, organizações privadas com e sem fins lucrativos, projetos sociais pontuais e mais.

Adicionalmente, a arquitetura open-source também promete trazer mais vozes à prancheta de desenho do arquiteto. Isso porque, ao acrescentar mais pessoas à esteira de execução dos projetos, mais opiniões e impressões passariam a ser fornecidas também.

Como resultado, isso aproximaria as intenções do projeto às necessidades de seus destinatários, produzindo edificações mais eficientes em alcançar seus respectivos propósitos.

Urbanização de baixo-custo seria a maior beneficiada pela arquitetura open-source

Segundo detalha no artigo, o principal benefício da cultura open-source na arquitetura seria percebido na urbanização de periferias e regiões mais pobres.

No Brasil, inclusive, estima-se que mais de 85% das construções sejam levantadas sem a participação de um arquiteto ou engenheiro, já que o custo desses profissionais seria considerado proibitivo pela a maioria das famílias. Os dados são de 2015.

Dessa forma, a elaboração de projetos que possam ser distribuídos e executados mais facilmente, leia-se, com custos menores, poderia reverter essa realidade.

Ao mesmo tempo, a medida também poderia beneficiar aos profissionais, que deixariam de contar com projetos pontuais, de dedicação exclusiva e que, portanto, exigem cobranças elevadas, para um modelo baseado em volume de vendas.

Como exemplo de um caso de sucesso da arquitetura open-source, Overstreet cita um dos ganhadores do Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura internacional. Em 2016, o chileno Alejandro Aravena, diretor-executivo do escritório ELEMENTAL, anunciou que havia liberado os direitos de quatro de seus projetos de habitação social.

Tal como é possível imaginar, o objetivo de Aravena foi promover um movimento que levasse o melhor da arquitetura para um dos maiores problemas sociais do mundo: a falta de moradia acessível, problema agravado especialmente com as recentes crises migratórias.

Mais do que uma contribuição concreta contra o drama de famílias, bem como de comunidades inteiras, que vivem sem acesso a residências dignas, o ato inaugurou a discussão sobre a arquitetura open-source, ainda que, ao menos por enquanto, não tenha alavancado o movimento mundial idealizado por Aravena.

Por fim, vale ressaltar que o assunto ainda requer muita discussão para chegar a um ponto comum, visto que suscita preocupações concretas acerca de sua viabilidade e segurança, tanto para os destinatários dos projetos, quanto para os arquitetos em si.

Apesar disso, não há como negar que a premissa da arquitetura open-source é louvável, considerando que consiste na livre disseminação de informações que possam contribuir com o objetivo final da arquitetura, materializado no fornecimento de edificações seguras e confortáveis para o máximo número de pessoas.

Por sua vez, somado a isso, também há o fato de que a iniciativa surge em momento muito oportuno, no qual já dispomos de tecnologias e recursos para a construção de modelos habitacionais mais amigáveis ao meio ambiente, além de mais eficientes na promoção do desenvolvimento social.

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