Como fazendas de algas marinhas podem dar uma nova vida ao plástico biodegradável

Como fazendas de algas marinhas podem dar uma nova vida ao plástico biodegradável

Desde que o debate sobre as mudanças climáticas salientou a necessidade por novos processos produtivos menos nocivos ao meio ambiente, a indústria, sobretudo a petroquímica, tem explorado diversas alternativas em busca de insumos, tecnologias e métodos que tornem esse novos modos de produzir possíveis, além de economicamente viáveis.

Com isso, ainda que não tão rápido quanto gostaríamos, soluções como os combustíveis sintéticos, os biocombustíveis e os plásticos biodegradáveis ficam cada vez mais próximas de se tornarem a escolha preferencial no consumo, resultando em um impacto ecológico menor.

No caso do segundo e terceiro grupos, porém, um problema pouco discutido reside no fato de que a maioria das alternativas para o petróleo está na matéria orgânica derivada de plantas. Em resumo, tal como já acontece hoje com o etanol, estamos utilizando cada vez mais o solo para produzir combustível, polímeros e outros itens, em vez de para produzir comida.

Atualmente, boa parte dos chamados bioplásticos vêm de culturas como o milho ou a mandioca, que além de serem excelentes alimentos, demandam outros recursos estratégicos para crescer, como água, energia e tempo – sem falar nas variações sazonais, sempre presentes. Mas e se houvesse uma matéria-prima capaz de solucionar todos esses problemas de uma vez só?

A resposta pode estar no fundo do mar

Nos EUA, a startup Macro Oceans, fundada em 2020, acredita que as algas marinhas são candidatas muito mais adequadas à produção de compostos sustentáveis do que o milho. E a partir de uma enorme plantação delas mantida no Alasca, a empresa já produz um plástico que consome menos recursos, visto que as algas só dependem da luz solar e da água do mar.

Em comparação com o plástico biodegradável feito de milho, o produto originado das algas também tem a vantagem de ser decomposto diretamente pela ação da natureza, sem a necessidade de antes passar por uma compostagem industrial. Além disso, as plantações marinhas não causam desmatamento, um dos maiores problemas das monoculturas.

Falando em monoculturas, Matthew Perkins, fundador e CEO da companhia, ressalta que uma de suas preocupações, enquanto precursor da chamada “indústria das algas marinhas”, é justamente impedir que as plantações desconsiderem os impactos sociais que as algas têm nas vidas dos produtores.

Para isso, a empresa aposta não só na produção de plásticos, mas também no aproveitamento do material em produtos têxteis, polímeros, surfactantes, pesticidas, fertilizantes, corantes e géis.

Dessa forma, não só é possível utilizar a planta inteira, garantindo mais rendimento a quem produz as algas, como também fazer uso de múltiplas espécies, viabilizando a operação em diferentes partes do mundo e com menos impacto para a diversidade marinha local.

Bioplásticos de algas marinhas ainda são mais caros

Por enquanto, um dos maiores desafios para empresas como a Macro Oceans está nos custos. Tendo em vista que são colhidas apenas uma vez por ano, as algas cultivadas no Alasca precisam ser secadas ou congeladas, o que implica em gastos com energia. A fim de enfrentar esse problema, a empresa desenvolveu um método que permite armazená-las úmidas por até um ano.

Quando estão prontas para o processamento, as algas são molhadas e refinadas em diferentes biomateriais – acontece que, ao menos até o momento, a escala de produção não é suficientemente grande para tornar o preço final tão competitivo.

Hoje, o refino das algas é feito em uma instalação piloto na California. Futuramente, porém, os planos da Macro Ocean envolvem espalhar biorrefinarias por todo o globo, trabalhando de forma descentralizada com grupos de pescadores, diferentes espécies de algas marinhas e produções locais.

O CEO também explica que, conforme a indústria como um todo se desenvolver, a demanda e a oferta devem contribuir para um barateamento progressivo dos materiais, inclusive com outras empresas que passam a enxergar o potencial das algas.

Um exemplo interessante é o da Running Tide: a fim de capturar carbono com a ajuda das algas marinhas, a startup islandesa pretende cultivá-las na superfície e então devolvê-las ao fundo do oceano. Já no caso da Sway, outra startup, o plano é utilizar o material produzido pela Macro Oceans em diferentes tipos de filmes plásticos não-recicláveis.

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