Este acampamento se reinventou para receber pessoas com deficiência visual

Este acampamento se reinventou para receber pessoas com deficiência visual

O que você vai descobrir a seguir:

  • • Como o Enchanted Hills Camp se transformou em um espaço completamente acessível para cegos e pessoas com baixa visão.
  • • As soluções arquitetônicas inovadoras que priorizam a navegação tátil e auditiva no ambiente natural.
  • • O impacto social dessa renovação na vida dos campistas e no debate sobre inclusão.

Encravado nas colinas de Napa (Califórnia, EUA), o Enchanted Hills Camp tem uma história longa e curiosa. Criado no início do século XX, acabou se tornando um dos poucos acampamentos nos Estados Unidos dedicados a cegos e pessoas com baixa visão. Só que havia um detalhe desconfortável nessa história: mesmo sendo frequentado por pessoas cegas há mais de 75 anos, o espaço nunca havia sido projetado para elas.

Essa situação mudou depois de um evento inesperado. Em 2017, um incêndio devastador destruiu grande parte do acampamento. Mas, em vez de focar apenas nas perdas, a equipe viu ali uma oportunidade única de reconstruir o Enchanted Hills do jeito que ele sempre deveria ter sido: pensado para as pessoas que realmente o utilizam.

O escritório de arquitetura Perkins & Will, em parceria com a organização sem fins lucrativos Lighthouse for the Blind and Visually Impaired, abraçou essa missão. O diferencial foi claro desde o início: não se tratava apenas de aplicar regras de acessibilidade ou fazer ajustes pontuais. O projeto foi desenvolvido em colaboração direta com os campistas cegos e com baixa visão, colocando suas experiências no centro do processo criativo.

O vestiário foi projetado com navegação intuitiva, incluindo bordas-guia ao redor da piscina e nas áreas de troca de roupas e chuveiros.

A nova versão do Enchanted Hills nasceu dessa escuta ativa. Agora, trilhas contam com texturas específicas que podem ser sentidas por bengalas, facilitando a navegação. Pistas sonoras foram incorporadas ao ambiente, guiando os campistas por sons e não por placas visuais. Áreas internas, como o refeitório, foram desenhadas para melhorar a acústica, evitando o eco que costuma confundir e dificultar a comunicação.

Os detalhes também fazem a diferença: o balcão da recepção tem recortes estratégicos para apoiar bengalas; nichos e prateleiras foram posicionados de modo que possam ser encontrados facilmente pelo toque; e, pensando na segurança – especialmente após o incêndio –, o acampamento foi reconstruído com materiais mais resistentes ao fogo e sistemas inteligentes para evitar futuros desastres.

Bancos foram projetados e esculpidos antes do incêndio por um marceneiro cego. Os bombeiros se esforçaram para salvá-los do fogo.

Apesar das cicatrizes deixadas pelo incêndio de 2017, o acampamento renasceu com propósito renovado. Hoje, o Enchanted Hills Camp representa como situações adversas podem dar origem a ambientes mais justos, inclusivos e verdadeiramente acolhedores.

Mais do que arquitetura inclusiva, o impacto dessa transformação é sentido no cotidiano dos campistas. O novo Enchanted Hills permite algo que muitos nunca haviam experimentado: autonomia. Crianças e jovens que antes precisavam de ajuda constante agora exploram trilhas, encontram suas cabanas e participam das atividades por conta própria. É um espaço que promove não apenas lazer, mas também um senso real de independência.

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