Vício em trabalho: Ser um workaholic não faz de você um profissional melhor

Vício em trabalho: Ser um workaholic não faz de você um profissional melhor

Ser considerado um workaholic já foi motivo de orgulho para muitas pessoas — e, para algumas, ainda é. Mas felizmente hoje sabemos que trabalhar por longas horas pode resultar em uma série de problemas físicos e psicológicos. De acordo com estudos realizados por Marianna Virtanen, do Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, o excesso de trabalho e o estresse resultante dessa prática podem levar a diversos problemas de saúde, como: problemas para dormir, depressão, consumo excessivo de álcool, diabetes, problemas de memória e doença cardíaca. Basicamente, quanto mais trabalhamos, menos saudável fica nosso corpo.

E esse problema não atrapalha a nós como indivíduos, mas as empresas também sofrem com as consequências negativas das longas horas de trabalho, pois todos esses sintomas levam ao aumento do absenteísmo, da rotatividade e da insatisfação dos funcionários. Além disso, pesquisadores também descobriram que o excesso de trabalho piora a comunicação interpessoal, o que engloba habilidades como a forma como fazemos julgamentos, lemos o rosto de outras pessoas e gerenciamos nossas próprias reações (ou seja, afeta grande parte dos aspectos que nos tornam bons profissionais e bons colegas de trabalho).

Em resumo: quem trabalha demais pode até achar que está contribuindo positivamente para sua carreira e para a empresa onde trabalha, mas os efeitos disso a médio e longo prazo mostram que os resultados podem ser exatamente o contrário do que imaginávamos.

Mas um workaholic não é apenas aquele profissional que trabalha por longas horas. Você ainda pode ter que lidar com todas as consequências negativas físicas e mentais do “vício em trabalho” e trabalhar o mesmo tempo que as pessoas ao seu redor (ou menos).

Então, se uma carga horária menor não é a garantia de que vamos evitar os problemas causados pelo excesso de trabalho, o que pode ser? Para responder a essa pergunta, precisamos nos aprofundar exatamente no que significa ser um workaholic e entender por que ser um workaholic é algo tão perigoso, para então identificar se você cruzou a linha que divide o “trabalho duro” da obsessão com o trabalho.

O termo “workaholic” foi cunhado pelo psicólogo Wayne E. Oates, em 1968, para defini alguém com uma “incontrolável necessidade de trabalhar incessantemente”. Oates viu o relacionamento de algumas pessoas com o trabalho como um vício semelhante ao alcoolismo ou abuso de drogas. No entanto, apesar dessa palavra ser parte da cultura corporativa há muitos anos, ainda não há uma definição médica para o que é um workaholic.

Para o psicólogo Bryan Robinson, o vício em trabalho é “o problema de saúde mental mais bem vestido”. E, de fato, até mesmo os sinais do vício e trabalho (originalmente definidos por Oates) soam como alguém respondendo a uma entrevista sobre suas “piores qualidades”. Como:

  • Sentir um impulso interno compulsivo para trabalhar muito;
  • Pensar em trabalho constantemente;
  • Sentir-se culpado e inquieto quando não estão trabalhando.

Essas ações podem estar presentes na rotina de uma pessoa que ficou obcecada com sua carreira. Mas esses também poderiam facilmente ser sinais de um momento particularmente atribulado ou estressante.

Então, o que diferencia o workaholic de um empregado apaixonado e dedicado? Como você sabe se está enfrentando um momento estressante no trabalho ou se entrou em um quadro de vício em trabalho e precisa de ajuda?

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Imagem: Adam J. Kurtz / Instagram

A desculpa comum para os workaholics é que eles são apaixonados pelo trabalho. Já dizia Confúcio: “Encontre um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”, não é mesmo? Infelizmente, esse ditado exaltado por tantas pessoas no mundo todo não se sustenta quando falamos sobre a realidade do vício em trabalho.

Muitos viciados em trabalho estão cientes dos seus maus hábitos, mas sentem que não há outra escolha. Os workaholics tiveram seus hábitos reforçados por anos de resultados positivos. Eles trabalham duro, e a obsessão por seus empregos rende muito, eles recebem promoções, aumentos e reconhecimento. Mas, em algum momento, essas pessoas se tornam incapazes de acompanhar suas próprias expectativas ou as recompensas acabam.

É aí que entra o verdadeiro problema de ser um workaholic. Segundo a especialista em vício em trabalho Barbara Killinger, o trabalho tornou-se uma parte tão integral de nossa identidade que, quando ele se torna um vício, paramos de nos dedicar a nossos amigos, familiares, aos objetivos pessoais e aos hobbies.

“Essas pessoas brilhantes, energéticas e competitivas raramente relaxam e aparentemente precisam de pouco sono. Elas são compulsivamente seduzidas pelas vantagens que o vício em trabalho oferece.”

Provavelmente, o sinal mais forte de um workaholic é não ser capaz de se desconectar do trabalho. Para os viciados em trabalho, seus empregos, tarefas, responsabilidades e estresse ocupam a maior parte de seu espaço mental. Em um estudo, as pessoas que não conseguiram se desconectar do trabalho relataram uma ter mais problemas de sono, mais exaustão emocional e mais sentimentos depressivos, independentemente de quantas horas estivessem trabalhando.

O estresse é praticamente inevitável na maioria dos empregos. No entanto, enquanto a maioria das pessoas só lida com estresse agudo (em torno de prazos ou momentos específicos), os workaholics sentem isso o tempo todo.

Você pode pensar que para ser um workaholic, você precisa amar verdadeiramente o que faz. Mas, ironicamente, é mais provável que a realidade mostre o oposto. O fato é que os workaholics se sentem obrigados a trabalhar. Em outras palavras, eles acham que deveriam estar trabalhando, mesmo sem querer fazer isso.

Ter um alto nível de envolvimento com o trabalho não significa que você é um workaholic. Existem colaboradores engajados que se dedicam ao trabalho por simplesmente achá-lo prazeroso, enquanto os workaholics são trabalham porque sentem uma compulsão interna para isso.

Se todos esses detalhamentos te deixaram confuso, vamos simplificar. Todos passamos por períodos em que temos que trabalhar por longas horas ou estamos mais estressados no trabalho. Então, como saber se você é um workaholic ou se só está passando por um momento mais atribulado?

Uma forma de descobrir isso é realizando um teste simples de sete perguntas, desenvolvido por pesquisadores noruegueses, o Bergen Work Addiction Scale. Para cada uma das seguintes perguntas, avalie-as como coisas que você faz Nunca, Raramente, Às vezes, Frequentemente e Sempre:

  • Pensa em como você pode liberar mais tempo para trabalhar.
  • Gasta muito mais tempo trabalhando do que o inicialmente planejado.
  • Trabalha para reduzir sentimentos de culpa, ansiedade, desamparo e depressão.
  • Outras pessoas já disseram que você deve reduzir o nível de trabalho da sua rotina.
  • Se sente estressado caso esteja proibido de trabalhar (por indicação médica, por exemplo).
  • Não dá atenção para hobbies, atividades de lazer e exercícios, por causa do seu trabalho.
  • O trabalho já influenciou negativamente em sua saúde.

Se você responder “Frequentemente” ou “Sempre” em pelo menos quatro dos sete critérios, você é um workaholic ou corre sério risco de se tornar um.

Embora não haja uma solução fácil para o vício em trabalho, há algumas coisas que você pode fazer agora para se ajudar. Primeiro, admita que você tem um problema. Em nossa cultura obcecada por produtividade, é fácil ignorar sua compulsão pelo trabalho. Mas, para criar um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, é preciso aceitar quando já se foi longe demais em uma direção.

Em seguida, procure a causa raiz. É fácil mentir para si mesmo, se convencer se que você está trabalhando duro para passar por um projeto intenso ou entregar algo no prazo. Seja honesto consigo e tente identificar os reais motivadores que fazem com que você aja dessa maneira. Por exemplo, você pode pensar que está apenas tentando atingir um prazo, mas a real motivação que faz com que você tenha uma relação tóxica com seu trabalho pode ser um sentimento de insegurança, síndrome de impostor, um medo subjacente de fracasso ou o perfeccionismo. Entender o que realmente faz com que você seja um workaholic pode te ajudar a dar o próximo passo.

Por fim, faça um plano e siga em frente. Isso pode significar a estipulação de horas de trabalho específicas, concentrando-se em uma coisa de cada vez, em vez de optar por um dinâmica de trabalho multitasking. Aprenda a redefinir suas prioridades quando as coisas surgem, em vez de caoticamente tentar fazer tudo caber em um dia. Ou até mesmo estabeleça limites rígidos com relação ao seu trabalho, para que você possa aprender a se desconectar (como não olhar os emails ou o grupo de WhatsApp da empresa antes de, de fato, estar em seu ambiente de trabalho).

Nós não podemos trabalhar incessantemente, então por que deveríamos pensar nisso 24 horas por dia?

Há mais na vida do que trabalho. Desconectar e dedicar um tempo longe do seu trabalho não faz de você um funcionário menos dedicado. Na verdade, as pessoas mais produtivas geralmente trabalham menos e têm mais tempo livre.

Se você está obcecado com o seu trabalho, lembre-se de que você não pode fazer tudo. Tome um minuto para entender por que você se tornou um workaholic e então se dê o espaço necessário para viver uma vida feliz e equilibrada.


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