Categories Inova+Posted on 05/05/202504/05/2025Origami: dobraduras que curam e constroem com propósito O que você vai descobrir a seguir: • Como a arte do origami está ajudando a criar soluções reais em saúde e arquitetura. • Exemplos práticos de dobraduras aplicadas a cirurgias menos invasivas e a abrigos emergenciais. • O que essa tradição milenar japonesa revela sobre inovação com propósito. Dobrar papel pode parecer um gesto simples (ou até banal) mas carrega uma história milenar que atravessa culturas e se reinventa com o tempo. O origami, como conhecemos hoje, nasceu da fusão entre espiritualidade, arte e engenhosidade. Embora o papel tenha sido inventado na China por volta do ano 105 d.C., foi no Japão, no século VI, que a prática de dobrá-lo ganhou identidade própria. Inicialmente ligada a rituais xintoístas, essa técnica era usada como oferenda simbólica aos deuses. No período Edo (1603-1868), o origami se popularizou, ganhou seus primeiros manuais e passou a fazer parte do cotidiano japonês como passatempo, forma de expressão e até recurso educativo. No século XX, esse legado ancestral foi levado a outro patamar com o trabalho de Akira Yoshizawa, considerado o pai do origami moderno. Ele desenvolveu técnicas como a dobra úmida e criou um sistema de notação que permitiu ao mundo inteiro aprender e inovar dentro dessa arte. Além da beleza, o origami passou a ser visto como uma linguagem de precisão e criatividade – uma lógica de transformação que hoje inspira soluções reais em áreas como saúde e arquitetura. Dobrar, neste caso, é também expandir possibilidades. Origami na saúde: precisão e cuidado Na área da saúde, o origami tem inspirado avanços que antes pareciam coisa de ficção científica. Engenheiros biomédicos e médicos cirurgiões vêm se apoiando nas lógicas de dobra para criar soluções surpreendentes: curativos que se abrem sozinhos dentro do corpo, stents expansíveis que se ajustam a vasos milimétricos, instrumentos cirúrgicos que entram em formato compacto e só revelam sua forma funcional no momento exato do procedimento. Um exemplo notável é o desenvolvimento de curativos internos biodegradáveis, capazes de envolver órgãos delicados como intestinos ou pulmões, se expandindo com precisão no ponto da lesão. Esses materiais são ativados por umidade ou calor corporal e, após cumprirem sua função, simplesmente se dissolvem, sem necessidade de retirada. Isso representa um avanço importante em cirurgias minimamente invasivas, reduzindo riscos, acelerando a recuperação e eliminando o trauma de uma segunda intervenção. Stents inspirados em origami também vêm sendo aplicados em cirurgias cardiovasculares e neurológicas, permitindo acesso a áreas do corpo antes consideradas difíceis ou perigosas de alcançar. A lógica é sempre a mesma: chegar pequeno, agir com eficiência e causar o mínimo de impacto possível. Uma tecnologia de ponta que, ironicamente, se baseia em uma prática ancestral. Mas o impacto do origami na saúde vai além da sala de cirurgia. Em muitos centros de reabilitação e saúde mental, dobrar papel é parte do tratamento. A atividade melhora a coordenação motora, estimula o cérebro, promove foco e reduz sintomas de ansiedade. Pacientes com Parkinson, sequelas de AVC ou em recuperação emocional encontram nas dobraduras um espaço de reconexão com o corpo e com o tempo. O ritmo das dobras, o cuidado com o gesto, a conquista de uma forma completa, tudo isso se traduz em bem-estar. Origami-inspired medical patch for sealing internal injuries Curativo inspirado em origami criado pelo MIT sela lesões internas com precisão, sendo aplicado por instrumentos minimamente invasivos e degradando-se após a cicatrização. Arquitetura inspirada no origami Agora pense em arquitetura. E imagine a urgência de oferecer abrigo a vítimas de enchentes, terremotos ou guerras. Em cenários de desastre, onde cada minuto conta e os recursos são limitados, a resposta precisa ser rápida; mas também humana. A dignidade não pode ser deixada de lado. É nesse ponto que o origami, com sua lógica precisa e adaptável, entra como inspiração para algo maior: estruturas que protegem, acolhem e se adaptam. Engenheiros e arquitetos ao redor do mundo vêm desenvolvendo abrigos temporários baseados nos princípios do origami. Essas estruturas são projetadas para serem dobradas como uma peça de papel – e depois, com um movimento simples, se expandirem em construções funcionais. São leves o suficiente para serem transportadas em caminhões ou helicópteros, e robustas o bastante para resistir à chuva, ao vento e até a mudanças bruscas de temperatura. Há modelos que se montam em menos de uma hora, sem necessidade de ferramentas ou equipes especializadas. Com painéis dobráveis, encaixes precisos e materiais sustentáveis, esses abrigos ocupam pouco espaço quando armazenados e oferecem conforto e segurança quando instalados. Alguns contam com isolamento térmico, ventilação natural e até sistemas modulares que permitem conectar várias unidades. Mais do que praticidade, esse tipo de arquitetura carrega um valor simbólico poderoso. Ele mostra que é possível unir design e empatia. Que o abrigo emergencial não precisa ser improvisado ou provisório no sentido negativo, mas pode ser uma solução inteligente, respeitosa e inspiradora. Um gesto técnico que, ao mesmo tempo, é profundamente humano. O que uma folha de papel pode ensinar O origami nos lembra que inovação não precisa ser barulhenta. Às vezes, ela chega com silêncio e precisão, na dobra certa, na escolha do ângulo. E se hoje essa arte milenar serve de inspiração para novas formas de cuidar, proteger e abrigar, talvez o que ela ensina seja justamente isso: que há poder nas coisas simples. Que transformar não é sempre inventar do zero, é olhar com mais atenção para o que já existe. Dobrar uma folha de papel, no fim das contas, pode ser só o começo de uma nova forma de pensar o mundo. How origami is inspiring new kinds of emergency shelters Créditos: Imagem Destaque – De Free/Shutterstock Compartilhe esse artigo: