Facebook Reality Labs: Os próximos passos da realidade aumentada e dos wearables

Facebook Reality Labs: Os próximos passos da realidade aumentada e dos wearables

Nas últimas semanas tenho usado mais constantemente o meu Apple Watch. Depois de um ano seguindo as regras do isolamento social à risca, relógio e outros acessórios já não faziam mais tanto sentido, já que as caminhadas são limitadas aos poucos metros do apartamento e dificilmente vou perder a hora para a próxima reunião. No entanto, quem está acostumado com o Watch sabe que ele faz muito mais do que um simples relógio de pulso. Ele controla minhas horas de sono, meu ritmo cardíaco, minha oxigenação do sangue (funcionalidade disponível no Series 6) e muito mais.

Já o óculos é algo que não posso abdicar. Até posso, mas o mundo soa um pouco embaçado sem as lentes. Ao contrário do meu Watch, o óculos é só um óculos. Em um mundo de wearables, dizer que um acessório só faz aquilo para o qual foi criado soa antigo. O seu relógio só mostra o horário? Ele não mede quantos passos você andou ou quando é hora de levantar da cadeira do escritório?!

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Se depender do Facebook, esse cenário deve mudar em breve. Em setembro de 2020, Mark Zuckerberg anunciou que a empresa estava trabalhando para lançar um óculos de realidade aumentada em 2021. Na época do anúncio, segundo o CNet, “a empresa fez parceria com a EssilorLuxottica, que possui marcas de óculos, incluindo Ray-Ban, para oferecer suporte na criação de diferentes designs e estilos para os próximos óculos.” No entanto, um ‘Ray-Ban conectado’ foi apenas o primeiro passo. De acordo com uma nova publicação no blog do Facebook Reality Labs (FRL), a empresa espera conectar os óculos de realidade aumentada a uma “pulseira macia” projetada para ler sinais da medula espinhal, que pode controlar os óculos.

De acordo com o FRL, até o fim do ano teremos “alguns trabalhos inovadores em robótica para construir dispositivos vestíveis [wearables] confortáveis ​​para o dia todo e compartilharemos uma atualização sobre a nossa pesquisa de luvas hápticas.” Eles completam, “pode soar como ficção científica, mas é um futuro que o Facebook está construindo dentro de nossos laboratórios.”

O cientista-chefe do Facebook Reality Labs (FRL) Michael Abrash chamou a interação da realidade aumentada de “um dos problemas multidisciplinares mais difíceis e interessantes”, porque é uma mudança completa de paradigma na forma como os humanos interagem com os computadores. A última grande mudança começou na década de 1960, quando a equipe de Doug Engelbart inventou o mouse e ajudou a pavimentar o caminho para as interfaces gráficas do usuário (GUIs) que dominam nosso mundo hoje. Mas os óculos de realidade aumentada que podem ser usados ​​o dia todo exigem um novo paradigma porque serão capazes de funcionar em todas as situações no decorrer do dia. Eles precisam ser capazes de fazer o que você quer que eles façam e dizer o que você quer saber, quando quiser, da mesma forma que sua própria mente funciona. “Para que a RA se torne realmente onipresente, você precisa de uma tecnologia de baixo atrito e sempre disponível que seja tão intuitiva de usar que se torne uma extensão do seu corpo”, diz Abrash.

Voltando a pulseira que lê sinais da medula espinhal, o FRL afirma que o sistema funcionaria assim: “Digamos que você decida ir a pé até o café local para trabalhar. Você está usando óculos de realidade aumentada e uma pulseira macia. Quando você sai pela porta, o assistente virtual pergunta se você gostaria de ouvir o episódio mais recente do seu podcast favorito. Um pequeno movimento de seu dedo permite que você clique em ‘reproduzir’. Quando você entra no café, seu assistente pergunta: ‘Quer que eu peça um Americano de 350 ml?’ Se não estiver com humor para o de costume, você novamente balança o dedo para ‘dizer’ não.” A nova interface (visual) seria mais ou menos como o exemplo mostrado pelo FRL (veja abaixo).

O Facebook está ciente de que a adoção de tais dispositivos de realidade aumentada não acontecerá da noite para o dia, afinal, além de questões tecnológicas, existem questões culturais e jurídicas. Por exemplo, quem terá acesso a toda essa informação dos óculos?   A empresa espera “colocar essa interface nas mãos das pessoas nos próximos 10 anos, mesmo que continue a evoluir nas próximas décadas”. Mas, se hoje existem leis como a LGPD para discutir temas relacionados à privacidade digital e dos dados pessoais, ter que regulamentar uma tecnologia como esta, onde a interação homem-computador extrapola o cenário dos últimos 60 anos. Talvez sejam questões que não teremos que tratar de forma local, mas de forma global, assim como foi o “Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, inclusive a Lua e demais Corpos Celestes“, conhecido como o “Tratado do Espaço”, assinado na década de 60.

Outra questão a ser levantada. O quanto este tipo de tecnologia pode ser utilizada para diminuir desigualdades, ou ela só irá aprofundar o abismo que temos atualmente? Nos próximos dias falaremos sobre como a tecnologia, quando bem utilizada, pode reduzir desigualdades entre, por exemplo, o campo e a cidade, sem que seja necessário abrir mão da inovação.

Imagem Destaque: Syda Productions/Shutterstock

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