“Chuva de peixes” vira complemento de renda em cidade de Honduras

“Chuva de peixes” vira complemento de renda em cidade de Honduras

Localizada no interior de Honduras, a cidadezinha de Yoro é palco de um fenômeno intrigante: cerca de uma ou duas vezes por ano, durante a temporada de chuvas na região, peixes caem literalmente do céu. A cena é digna dos contos bíblicos mais impressionantes, e a lluvia de peces – chuva de peixes, como é chamada em espanhol – tem ocorrido regularmente há mais de um século.

Segundo especialistas, o fenômeno acontece quando uma tromba d’água, isto é, um tipo de tornado localizado no mar, suga os peixes do oceano e os lança na costa (neste caso, na cidade de Yoro). Apesar de não ser cientificamente observável, dadas as condições em que acontece, a hipótese é a mais aceita para as diversas ocasiões em que peixes, além de sapos, moluscos e cobras (!) caem do céu ao redor do mundo.

Mas para além de bastante extraordinária, a chuva de peixes em Yoro é também um componente importante da economia local. Com pouco mais de 100 mil habitantes, boa parte da cidade vive de trabalhos informais e, nos períodos chuvosos, da coleta dos peixes que caem do céu. Mesmo assim, embora as tempestades sejam fartas, a renda média dos habitantes não passa de US$ 1 por dia.

Foi com essa incongruência em mente – uma população tão pobre em um local onde a comida literalmente cai do céu – que Edgardo Melgar, líder de comunicações da agência britânica, Ogilvy, decidiu transformar a lluvia de peces em um negócio estruturado, e com a capacidade de melhorar as condições de vida da comunidade de Yoro.

Após considerar sobre como isso poderia ser feito, a agência uniu esforços com a Regal Springs, gigante dos pescados que é parte de sua carteira de clientes. Baseada nos EUA, a companhia se autointitula “a maior produtora de tilápia sustentável do planeta”, dominando boa parte do mercado na América Latina.

Juntas, e com a colaboração da prefeitura de Yoro, as empresas criaram um modelo que, além de pagar aos cidadãos por cada peixe coletado, os distribui entre mais de 200 pontos de venda espalhados pelo país.

O negócio funciona da seguinte forma: durante uma chuva de peixes, os habitantes costumam apanhar tilápias, peixes pargo e robalos. Em seguida, os espécimes são entregues nos centros de triagem da Regal Springs, onde são limpos, processados e embalados.

Na fábrica, eles também recebem a marca sob a qual são vendidos: Heaven Fish – ou “Peixe do Paraíso”, em tradução para o português. Além da embalagem 100% sustentável, produzida a partir de cascas de banana, a origem curiosa do produto também permite posicioná-lo como premium, o que, por sua vez, aumenta o valor pago aos cidadãos de Yoro.

Segundo Melgar, de início, a proposta foi recebida com ceticismo pelos locais. Isso porque, mais do que uma benção vinda diretamente dos céus, a chuva de peixes é a principal fonte de frutos do mar para a comunidade local, cuja dieta se baseia principalmente em feijões e milho.

Conforme ele também ressalta, porém, o objetivo está longe de mitigar o aspecto cultural do fenômeno, que movimenta paradas e festivais anuais. Em vez disso, a proposta é adicionar o que ele chama de “oportunidade econômica” – o que parece estar dando certo, uma vez que, só em 2023, um quarto da população se inscreveu no programa de “pesca” da Regal Springs.

Da mesma forma, apesar de não ser uma renda para o ano todo, a iniciativa gera um complemento considerável. A cada meio quilo de peixe coletado, as famílias recebem, em média, US$ 6, visto que o valor varia conforme a espécie. Também segundo Melgar, há famílias que conseguem recolher mais de 10kg, chegando a lotar pequenas vans.

Para saber mais, clique aqui e confira o vídeo a seguir.

Heaven Fish Case StudyHeaven Fish Case Study
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