Agora a Barbie também é engenheira robótica – e eu invejo as crianças dessa geração

Agora a Barbie também é engenheira robótica – e eu invejo as crianças dessa geração

Nos anos 90, eu era uma daquelas crianças que amavam brincar na rua, não se importavam em sujar a roupa brincando e viviam de joelho ralado. Diziam que eu “me comportava como um menino” e, em algum momento, comecei a pensar que havia algo de errado comigo. Me sentia mal por, tão cedo, não conseguir me encaixar no estereótipo feminino e, ao mesmo tempo, isso era algo que eu não queria.

Lembro-me de quando minha avó me deu uma camiseta com uma estampa dos Cavaleiros do Zodíaco: eu nunca usei aquela camiseta, porque era “coisa de menino”. Todas as coisas de menino eram tão legais quanto as coisas de menina, e eu não conseguia entender por que eu simplesmente tinha que escolher um dos lados. Eu não podia simplesmente ser a menina que brinca de Barbie e depois vai brincar descalça na rua? Infelizmente, não.

E quando o assunto era o futuro e todas as meninas queriam ser professoras, eu mentia, dizendo que também queria ser professora. Eu não sabia o que eu queria ser quando crescer. Na verdade, eu sabia quais eram as opções dentro da minha caixinha de estereótipos (professora, dançarina, veterinária…) e nenhuma delas me agradava de alguma forma.

Então, eu cresci. E os itens nas listas de estereótipos mudaram, mas as caixas continuavam as mesmas. No último ano do colegial, às vésperas de escolher minha futura profissão, a descoberta: existiam profissões femininas e profissões masculinas. Na verdade, a lista ultrapassava os gêneros e alcançava até mesmo orientações sexuais: “Homem cursando pedagogia? Definitivamente, gay.”

Homens vão para exatas, mulheres para humanas. Qualquer coisa diferente disso era recebida com maus olhos e piadinhas eternas. Mas, mesmo coincidentemente escolhendo algo não tão estereotipado (me formei em Comunicação Social / Publicidade e Propaganda), em uma turma bem equilibrada em questão de gênero, as caixinhas ainda existiam dentro da sala de aula, onde aprendi que as mulheres se “encaixavam melhor” na área de Atendimento e os homens em Planejamento, Criação, Mídia.

Nunca pensei em escolher uma profissão ou outra por achar que aquilo se encaixaria melhor dentro do meu “papel de gênero”, sinceramente tenho a sensação de que escolhi fazer o que eu faço simplesmente porque foi algo com o qual eu me identifico e me sinto realizada desde sempre. Mas, às vezes, a pergunta que gosto de me fazer é: Se alguém tivesse me mostrado opções diferentes, onde meu gênero não fosse uma questão importante para isso (porque, afinal, não é), eu teria escolhido essa mesma profissão?

Talvez sim, talvez não. Isso é algo que jamais vou saber. Mas a boa notícia é que, muito provavelmente, as próximas gerações poderão saber. Tudo é uma questão de incentivo. E não é necessário ser um especialista em qualquer coisa para saber que esse tipo de incentivo deve ser dado desde sempre.

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Ontem, a Mattel anunciou o lançamento da Barbie engenheira robótica, que chega para se unir a outras Barbies cientistas, como a astronauta, a programadora e a paleontologista. Mas, desta vez, há algo a mais: a Mattel também criou o site Tynker.com, para ensinar às crianças conceitos básicos de programação. Talvez muitas pessoas vejam a Barbie como um simples brinquedo, mas ela vai muito além disso. A Barbie é um ícone, que há décadas vem captando não só a cultura de cada época, mas também nossas aspirações.

Confesso que tenho uma leve inveja das crianças dos tempos de hoje, porque, apesar de vivermos em um mundo que está muito longe da perfeição em diversos aspectos, eu sei bem que nós estamos muitos passos além do que estávamos 20 anos atrás. Mas ao mesmo tempo, acredito (e espero) que essas mesmas crianças, em 20 anos, sintam essa mesma inveja das crianças de sua geração. E talvez essa seja a grande questão das pessoas de mentes abertas e inovadoras: enquanto muitos gostariam de vivenciar os anos 60 ou 70, nós queremos viver no futuro. A boa notícia é que ele será construído por nós. A notícia ruim é que nós nunca estaremos satisfeitos – mas, sem dúvidas, é isso o que nos move.

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