De gênio a bilionário do mal: As diferentes faces de Elon Musk

De gênio a bilionário do mal: As diferentes faces de Elon Musk

Filantropo ou gênio do mal? Todos os dias, antes de iniciar suas tarefas diárias, Elon Musk joga uma moeda para o alto e, aleatoriamente, escolhe o seu perfil do dia. Sei que muitos odeiam o bilionário sul-africano, mas muitos também o admiram. E essa dualidade de sentimentos é muito justificável. Musk não é uma das pessoas mais fáceis do mundo. Um dia ele está salvando a humanidade do consumo desenfreado de petróleo, e no outro está sendo acusado de violar os direitos dos animais.

É uma montanha russa de momentos e, como diria Einstein, “Deus não joga dados com o Universo”; mas o humor de Elon Musk parece ser um elemento que vai contra todas as probabilidades da realidade quântica. Uma verdadeira caixinha de surpresas do caos. O objetivo deste texto não é, nem de longe, definir se Elon Musk está certo ou errado. A ideia é que você tire suas próprias conclusões (ou não).

As duas faces da mesma moeda de Elon Musk

Vamos começar pela filantropia. Recentemente, segundo um documento da Securities and Exchange Commission, do governo dos EUA, foi divulgado que Elon Musk doou (entre 19 e 29 de novembro de 2021) mais de 5 milhões de ações da Tesla para instituições de caridade. Naquele período, as ações representavam cerca de US$ 5,7 bilhões e o montante foi considerado uma das maiores doações filantrópicas da história. Curiosamente, este é o mesmo valor que esteve no centro de uma polêmica envolvendo Musk e o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA/UN).

Em declaração para a CNN, o diretor executivo do PMA/UN, David Beasley, afirmou que apenas 2% da fortuna de Musk poderia “ajudar a resolver a fome no mundo”. Imediatamente o executivo da Tesla publicou em seu Twitter: “Se a PMA puder descrever nesta thread exatamente como US$ 6 bilhões resolverão a fome no mundo, venderei as ações da Tesla agora e farei isso” (veja neste link — em inglês).

Leia também: Dossiê InovaSocial: Quem é Elon Musk?

O grande ponto é que não sabemos o fim das maiores doações da história. Musk não divulgou nada. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA também não. E a história ficou apenas nos registros censurados (se a operação tivesse sido efetuada via blockchain, talvez saberíamos os destinos — entenda mais no podcast abaixo). Outro ponto que vale dizer é que Musk simplesmente não se desfez do dinheiro. Ele tinha interesse em doar o valor para, provavelmente, “fugir” de uma cobrança de US$ 11 bilhões em impostos. Ou seja, ele doou as ações e ainda saiu no lucro. 

A pergunta que fica no ar é: Seria melhor Musk ter pago US$ 11 bi para os cofres públicos ou entregar US$ 6 bi para a caridade e sair com um grande “desconto” na dívida? É a dualidade permanente de valores da vida de Elon Musk.

Outro ponto que divide opiniões está no espaço, mas gera impactos positivos e negativos aqui na Terra. A frota de satélites da Starlink, outra empresa de Elon Musk, segue levando internet para os pontos mais longínquos do planeta. Recentemente a Anatel autorizou a empresa a oferecer internet via satélite no Brasil. Talvez você ache salgado os R$ 530 de mensalidade do serviço, mas para quem está em regiões rurais e longe dos centros urbanos, a internet por satélite é a única solução e o valor da Starlink não está muito longe dos concorrentes (pelo contrário, tem empresa que chega a cobrar mais de R$ 800 por mês pelo serviço).

“É do interesse da empresa o provimento do acesso à internet para clientes distribuídos em todo o território brasileiro, o que certamente será bastante oportuno para escolas, hospitais e outros estabelecimentos localizados em áreas rurais e remotas”, afirmou o conselheiro e presidente interino da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Emmanoel Campelo.

Nós bem sabemos que a digitalização é essencial para evoluirmos como sociedade. De nada adianta ficar discutindo as maravilhas do 5G, se ele só chega nos grandes centros urbanos. A agricultura inteligente e o IoT no setor rural também dependem de uma boa conexão. Logo, o serviço da Starlink é uma ótima solução… Mas essa não é a opinião da NASA.

Efeito Elon Musk: rastro luminoso formado pelos satélites da Starlink em um registro fotográfico da constelação de Andrômeda.

A nova geração de satélites da Starlink e o volume do “trenzinho espacial” (caso nunca tenha visto, os satélites da empresa orbitam um atrás do outro, formando uma fila de pontos luminosos no céu noturno), segundo a NASA, podem aumentar os riscos de colisões na órbita baixa da Terra e atrapalham as observações astronômicas. Segundo Przemek Mróz, pós-doutorando na University of Warsaw, “os satélites da Starlink já representam mais de 5.000 rastros luminosos em imagens capturadas pelo Zwicky Transient Facility (ZTF), instrumento que opera no Palomar Observatory” — ao lado, o rastro luminoso formado pelos satélites da Starlink em um registro fotográfico da constelação de Andrômeda.

Já o governo chinês informou que precisou fazer manobras na Estação Espacial de Tiangong para evitar colisões com os equipamentos da Starlink. Segundo a nota enviada à ONU, os incidentes ocorreram nos dias 1 de julho e 21 de outubro de 2021. “Os satélites estão colocando em risco a vida e a saúde dos astronautas que estão a bordo da Estação Espacial Chinesa”, diz o documento.

Apesar de se esquivar das reclamações chinesas, o governo dos EUA também está preocupado com os satélites da SpaceX. “A NASA quer garantir que a implantação da 2º geração Starlink seja conduzida com prudência, de forma que apoie a segurança dos voos espaciais e a sustentabilidade do ambiente espacial a longo prazo”, afirmou Samantha Fonder, representante da NASA no Commercial Space Transportation Interagency Group.

Por fim, mas não menos importante, chegamos à Neuralink e OpenAI. Ambas buscam atuar no campo da biotecnologia e inteligência artificial, mas parecem formar um Yin-yang da tecnologia. Enquanto a Neuralink busca criar um sistema que conecte mente e máquina por meio de um implante de chip no cérebro, resultando em uma série de questionamentos no campo da bioética; a OpenAI é é uma instituição sem fins lucrativos de pesquisa em inteligência artificial, que tem como objetivo promover e desenvolver inteligência artificial amigável, de tal forma a beneficiar a humanidade como um todo.

Leia também: Trabalho remoto não é o futuro. Então, o que é? A visão de Musk e seus robôs

Apesar de ter um potencial imenso para expandir a saúde humana, pouco se sabe sobre a real utilização dos chips da Neuralink. Por enquanto, eles podem ser usados para qualquer coisa ou para nada. Pode ser que resultem em uma solução para melhorar a vida de pessoas com Parkinson ou Alzheimer, ou sejam feitos para interagir com produtos, como os carros da Tesla.

Além disso, a Neuralink passa por um momento conturbado. Em abril de 2021, a empresa compartilhou um vídeo de um macaco jogando Pong “com o poder da mente”. Seria um avanço incrível, mas o Comitê de Médicos para Medicina Responsável (Physicians Committee for Responsible Medicine – PCRM), grupo que luta pelos direitos dos animais, denunciou a Neuralink por causar e ocultar a morte de 16 macacos durante experimentos. As mortes teriam ocorrido entre 2017 a 2020.

Em paralelo, a OpenAI tem permitido que pesquisadores e estudantes utilizem uma potente ferramenta de inteligência artificial gratuitamente (veja abaixo um exemplo passo a passo). A instituição também possui um fundo de US$ 100 milhões para ajudar as empresas de IA a ter um impacto profundo e positivo no mundo. E qualquer startup pode se candidatar.

Use a Inteligência Artificial do Elon Musk de Graça - Tutorial Crie Textos e Conteúdos com IAUse a Inteligência Artificial do Elon Musk de Graça – Tutorial Crie Textos e Conteúdos com IA

SpaceX, Tesla, Neuralink e OpenAI são apenas alguns exemplos da dualidade de Musk. É essa inconsistência, este caos, que nos impede de “cancelar” ou admirar ele definitivamente. E, parando para pensar melhor, talvez Musk seja tão irritante porque explicita a essência da nossa humanidade. Ele não é nem certo e nem errado 100% do tempo. Na verdade, não existe uma dualidade em Elon Musk e, usando um termo da astronomia, não existe uma dicotomia (aspecto que tem um planeta ou um satélite ao se apresentar dividido ao meio; metade claro, metade escuro) na sua personalidade. Existe uma infinidade de espectros que o fazem com que ele seja transportado de gênio filantrópico a bilionário evil em menos de 24 horas.

Compartilhe esse artigo: