A inovação social na África e os seus cases – Parte 1

A inovação social na África e os seus cases – Parte 1

No primeiro dia útil de 2017, ao abrir o site da Folha de S. Paulo, me deparei com a seguinte manchete “Recessão leva à queda da inovação no setor industrial”. Nas palavras de Guto Ferreira, presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), “A indústria (brasileira) passou a viver de subsídio do governo e deixou de se preocupar com inovação, marca, design”. Antes de dar continuidade na matéria, já me perguntava como a recessão poderia ter impactado um dos principais fatores de crescimento na maré baixa. Vou explicar melhor. Quando se tem recessão, são as soluções criativas e inovadoras que ajudam as empresas sobreviverem, por isso, hoje veremos exemplos de inovação na África. Ao contrário de algumas empresas do mercado brasileiro, que ainda vê a inovação como algo muito atrelado ao investimento em tempos de abundância, algumas regiões africanas tem vivenciado um cenário de inovações sociais pungentes.

“Design Thinking é um método para a resolução criativa de problemas e criação de soluções, com o intuito de melhorar resultados futuros” – Nigel Cross, acadêmico britânico, professor emérito de estudos de Design da Open University, Reino Unido, e editor-chefe da revista Design Studies.

Agora vamos atravessar o Atlântico e olhar o continente africano, mais especificamente sob a ótica do Innovative Finance in Africa Review, um relatório desenvolvido pelo Centro de Inovação Social e Empreendedorismo Bertha, da Universidade de Cape Town. Ao contrário do Brasil, algumas realidades africanas são bem ruins, mas isso não quer dizer que a inovação (principalmente a social) tem reduzido.

  1. O acesso a casa e o International Housing Solutions

Um dos grandes problemas da África subsaariana é a moradia. A região reúne 973 milhões de pessoas e a metade recebe menos de US$1,25 por dia. Além disso, apenas 4% desta população ganham mais de US$ 10 por dia (algo em torno de mil reais por mês, segundo a atual cotação do dólar). Foi neste cenário que a International Housing Solutions (IHS), um fundo imobiliário viu uma grande oportunidade de inovação social. A IHS investe na aquisição e desenvolvimento de imóveis comerciais, residenciais e de apoio na África do Sul e na África Subsaariana, proporcionando preços acessíveis para a população de baixa renda.

Investimento e o Modelo de Negócio: A IHS facilita a construção dos empreendimentos habitacionais através da colaboração de instituições financeiras, grupos de capital privado e autoridades governamentais. Atualmente o Fundo Sul-Africano de Habitação da Força de Trabalho (SAWHF, em inglês), ativo desde 2007, reúne US$ 240 milhões e é totalmente direcionado para o desenvolvimento de 26.500 unidade de habitação na região. As receitas geradas por meio de vendas e aluguéis das unidades proporcionam o retorno de capital para o fundo e seus investidores.

  1. O acesso à educação e o financiamento de prodígios

Atualmente, cerca de 127 milhões de jovens (com idade entre 15 a 24 anos) são analfabetos. Deste número, 47 milhões moram na África Subsaariana. Se muitos não possuem nem o básico, imagina uma pós-graduação. Para aqueles que completaram a graduação, a Prodigy Finance fornece empréstimos estudantis sem fronteira, ou seja, em qualquer país do mundo, com condições acessíveis, juros baixos e com período de carência de 1 a 2 anos. Detalhes que mais chamam a atenção sobre os estudantes que usam o sistema da Prodigy, 75% são de países emergentes e 82% não possuem fonte alternativa de financiamento.

Investimento e o Modelo de Negócio: A comunidade da Prodigy Finance reúne ex-alunos, investidores institucionais e investidores privados que têm como compromisso apoiar alunos que desejam completar os estudos de pós-graduação. Enquanto os estudantes têm acesso ao ensino superior que, provavelmente, não conseguiriam pagar, a comunidade da Prodigy recebe um retorno financeiro através do investimento de baixo risco.

  1. O acesso à saúde e as plataformas móveis da África Central

O tema saúde é, sem dúvidas, um dos mais críticos na África Subsaariana. A mortalidade infantil da região é de 63 em cada 1000 crianças, quase o dobro da média mundial, atualmente em torno de 35/1000. Já as mortes de adultos superam o dobro da média mundial (156/1000), atingindo cerca de 320 mortes em cada 1000 adultos, isto faz com que a expectativa de vida não ultrapasse os 58 anos (a média mundial é de 70 anos). Infelizmente a situação não acaba aí. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, dois terços das doenças desta região são causadas por doenças transmissíveis. Cerca de 60% dos casos de Malária e 66% de HIV estão na região.

Em um cenário tão inóspito, a GiftedMom tem impactado a vida de mais de 3 mil grávidas. O sistema, desenvolvido pela empresa camaronesa (país onde apenas 1 em cada 5 mulheres visitam o médico durante a gravidez), é uma plataforma móvel de saúde para mulheres que vivem em regiões rurais. A plataforma funciona como uma porta de entrada entre grávidas e serviços médicos especializados, incluindo acompanhamento pré-natal, por meio de notificações via SMS.

Investimento e o Modelo de Negócio: A principal fonte de renda do GiftedMom está na venda da plataforma automatizada, assim como o fornecimento de serviços de coleta de dados e soluções de análise para ONGs que trabalham na saúde materna e infantil. As mulheres se inscrevem no GiftedMom enviando um código (“MOM” para 8566, em Camarões, e 30812, na Nigéria) ou uma pergunta de saúde via SMS, o que aciona a inscrição e a resposta de um médico. Com isso, é cobrado uma taxa única de US $ 1 por usuário, que cobre os custos da operação. A empresa também está desenvolvendo uma tecnologia de voz para prestar serviços as mulheres camaronesas que são analfabetas (algo em torno de 17% da população).

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