Categories Tecnologias SociaisPosted on 01/08/202501/08/2025Mais rápidos, mais solitários: como as cidades estão perdendo sua alma O que você vai descobrir a seguir: Como a velocidade dos pedestres aumentou 15% e o tempo de permanência caiu 14% nas últimas décadas. O que a inteligência artificial revelou sobre nosso comportamento em espaços públicos. Por que projetar cidades mais humanas virou um desafio urgente para arquitetos e urbanistas. Vivemos em um tempo em que atravessar a cidade deixou de ser uma experiência e virou uma missão. De acordo com um estudo recente do Massachusetts Institute of Technology (MIT), estamos literalmente passando mais rápido pelas ruas e parando cada vez menos para observar, conversar, sentir. As cidades, ao que parece, estão perdendo sua alma – ou pelo menos, o tempo necessário para que a alma floresça. O projeto em questão se chama Street Scores, desenvolvido pelo Senseable City Lab do MIT. Ele usa visão computacional e inteligência artificial para analisar mudanças no comportamento dos pedestres ao longo de 30 anos em quatro espaços públicos: em Nova York, Boston e Filadélfia. Sua estreia ocorreu na Bienal de Arquitetura de Veneza, sob o título “Eyes on the Street” – uma homenagem direta ao conceito de vigilância coletiva proposto por Jane Jacobs em sua obra seminal “The Death and Life of Great American Cities” – e conta com a colaboração de pesquisadores de instituições como Yale, Harvard e Universidade de Hong Kong. Foram analisadas mais de 600 horas de vídeo, combinando registros manuais feitos pelo urbanista William H. Whyte nos anos 1980 com imagens atuais gravadas por equipes lideradas pelo sociólogo Keith N. Hampton. A conclusão: entre 1980 e 2010, o ritmo dos pedestres aumentou 15%, enquanto o número de pessoas que paravam para interações sociais ou simplesmente para contemplar caiu 14%. O que impulsionou essa transformação? Algumas hipóteses apontam para a gentrificação, o aumento do poder aquisitivo e, claro, a ascensão dos celulares, que tornaram obsoletos os encontros casuais e os pontos de espera em praças ou degraus de museus. Aos poucos, também começamos a trocar os espaços públicos por ambientes fechados, como cafés, coworkings e centros comerciais. Com o tempo, deixamos de marcar encontros nas calçadas para preferir lugares com ar-condicionado, poltronas acolhedoras e wi-fi. Lugares onde, para permanecer, é preciso consumir. É uma mudança sutil, quase invisível, mas que transformou o modo como ocupamos as cidades. Curiosamente, a tecnologia agora tenta entender o que a própria tecnologia pode ter ajudado a diluir: a essência da convivência urbana. Se antes William H. Whyte gastava horas anotando quadro a quadro o comportamento dos nova-iorquinos, hoje algoritmos fazem isso em segundos. Mas revelam a mesma angústia: estamos nos distanciando, mesmo quando estamos juntos. No entanto, ainda existem pequenas resistências. Os degraus do Metropolitan Museum, em Nova York, por exemplo, continuam atraindo pessoas, mesmo que em menor número do que antes. Talvez seja a vista ampla, o vai e vem constante ou o simples fato de ser um espaço onde se pode sentar sem pressa, sem precisar consumir nada. Ali, entre desconhecidos e ruídos da cidade, ainda é possível parar, observar, respirar. É nesses poucos lugares que a vida urbana volta a pulsar em ritmo humano, onde o encontro é possível e o tempo deixa de ser urgência. Essa permanência discreta mostra que o desejo de estar continua vivo, só precisa de espaço para florescer. O estudo segue agora para a Europa, onde 40 praças públicas serão analisadas. Mas a pergunta já está lançada: como resgatar a humanidade das cidades que criamos para viver e acabamos usando apenas como corredores de passagem? Street Scores by MIT Senseable City Lab Créditos: Imagem Destaque – VTT Studio/Shutterstock Compartilhe esse artigo: