Categories Tecnologias SociaisPosted on 01/11/202431/10/2024Guarani, Nheengatu e mais: Como a tecnologia está revitalizando línguas indígenas É impossível falar de cultura sem falar de língua. Cada idioma traz em si uma maneira única de ver o mundo, uma herança que atravessa gerações e se transforma em histórias, valores e saberes ancestrais. Mas, em pleno século XXI, o que antes era apenas uma preocupação para linguistas e antropólogos, hoje virou uma corrida contra o tempo: mais da metade das línguas faladas atualmente corre o risco de desaparecer até o final do século. É nesse cenário urgente que a IBM e a Universidade de São Paulo (USP) uniram forças, propondo uma solução inovadora que alia tecnologia de ponta à preservação cultural. Em meio à Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), promovida pela UNESCO, o projeto nasce para fazer mais do que arquivar registros de idiomas em extinção. A ideia é revitalizar a experiência dessas línguas, fazendo com que elas voltem a ser vivas e relevantes para as novas gerações. Em colaboração com comunidades indígenas, a IBM e a USP desenvolvem ferramentas de Inteligência Artificial (IA) que auxiliam no fortalecimento de línguas ameaçadas, possibilitando seu uso nos mais variados espaços, desde escolas até as redes sociais. Em 2023, o primeiro projeto saiu do papel e chegou até a aldeia Tenondé Porã, no extremo sul de São Paulo. Com uma abordagem que integra tecnologia e participação ativa, os pesquisadores e professores da comunidade uniram forças para criar ferramentas de Processamento de Linguagem Natural (PLN) que permitem aos alunos, falantes do Guarani Mbya, escrever e interagir com sua língua de forma digital. Ali, as oficinas semanais foram mais do que aulas: tornaram-se laboratórios de expressão cultural e resistência linguística. E o movimento não para por aí. Outra frente do projeto busca reviver o Nheengatu, uma língua histórica que já foi amplamente utilizada no período colonial e hoje é símbolo de resistência cultural. Através de uma ferramenta de tradução que converte frases do português para o Nheengatu, a iniciativa pretende transformar o idioma em algo prático, especialmente para o uso entre jovens, reforçando o valor dessas línguas no cotidiano e no mundo digital. Mas a grande inovação do projeto vai além dos recursos técnicos. A intenção é que as próprias comunidades indígenas sejam protagonistas no fortalecimento de suas línguas, capacitando jovens a serem não só falantes, mas promotores ativos de sua herança cultural em ambientes digitais. Ferramentas como dicionários digitais, corretores ortográficos e aplicativos para o ensino e uso das línguas indígenas são passos cruciais para garantir que essas tradições estejam tão presentes nas telas de um celular quanto na tradição oral das aldeias. Com planos de expansão que incluem o desenvolvimento de aplicativos e editores de texto para escolas bilíngues na Amazônia, além de iniciativas para outras línguas como o Baniwa e o Tukano, a IBM e a USP demonstram que tecnologia e tradição não só podem andar juntas, mas se complementam. É a inovação que entende o valor da ancestralidade e reconhece que a cultura digital tem espaço – e muito – para a riqueza das línguas indígenas. Créditos: Imagem Destaque – Martine Perret Compartilhe esse artigo: