Agricultores familiares usam tecnologia para obter crédito e vender produtos sem intermediários

Agricultores familiares usam tecnologia para obter crédito e vender produtos sem intermediários

No Brasil, apenas 15% do financiamento agrícola total oferecido pelos bancos tradicionais é distribuído entre 85% dos agricultores familiares. E nem sempre estas famílias conseguem receber os recursos nas datas adequadas para iniciar a produção, o que acaba atrapalhando os negócios e impedindo boas oportunidades.

No caso da Cooperativa das Quebradeiras de Coco Babaçu de Itapecuru-Mirim, associação maranhense formada em 2015 que reúne 72 mulheres, não havia capital de giro para iniciar a produção mesmo depois de elas terem vencido o edital para comercializar seus produtos pelo Procaf (Programa de Compras da Agricultura Familiar), do Governo do Estado do Maranhão. “Não tínhamos verba para adquirir matéria-prima e não conseguimos empréstimo pelas vias tradicionais”, conta Maria Domingas Marques, presidente da Cooperativa.

Para associações como essas, a obtenção de crédito encontra obstáculos de diferentes naturezas. Uma delas é a desbancarização do pequeno produtor, que representa um problema no Brasil.

“A segunda é por questões documentais. Nem sempre o agricultor familiar possui escritura de seu terreno, por exemplo, o que inviabiliza a aquisição de empréstimo”, explica Cláudio Rugeri, CEO da Culte, empresa maranhense que nasceu em 2018 com o propósito de ser um ecossistema completo de apoio ao pequeno produtor.

O sonho de criar uma empresa para ajudar esta parcela da população sempre moveu Rugeri e sua esposa, Bianca Ticiana. Quando se conheceram, há 21 anos, adquiriram juntos uma fazenda no Estado do Maranhão, onde moravam. E perceberam que alguns de seus vizinhos tinham grandes extensões de terra, mas não produziam absolutamente nada – o que os fez questionar os motivos. “Entendemos a realidade deles e tivemos a ideia de reunir outros fazendeiros para financiar o plantio e a criação de pequenos agricultores. Fizemos isso durante um bom tempo e enxergamos a possibilidade de mudar a vida de muita gente”, diz ele.

Anos depois, o antigo sonho amadureceu e o casal decidiu transformar os empréstimos praticados no Maranhão em startup – a Culte. Por meio dela, os pequenos produtores podem obter ajuda para alavancar seus negócios (seja no plantio ou na pecuária), contar com uma conta digital que facilita a geração de links de pagamento, emissão de boletos e outras funcionalidades e também criar sua própria loja para vender mercadorias sem intermediários. Foi assim que Domingas e as demais 71 mulheres puderam concretizar o sonho de fornecer itens como biscoito, azeite, mesocarpo, sabão, sabonete e óleo de coco babaçu por meio do Programa do Governo do Estado do Maranhão.

Outra propriedade que se beneficiou dos empréstimos alternativos foi a Granja Fandango, do produtor Neilson dos Santos Sousa. Ele esbarrou na burocracia ao buscar financiamento para aquisição de animais e melhoria da infraestrutura de seu negócio. “Embora minha propriedade seja grande, trata-se de uma herança e não possui todos os documentos necessários para atender às exigências de uma instituição financeira. Além disso, os prazos para liberação de recursos eram enormes, o que me levou a buscar outras formas de conseguir verba”, revela ele, que recorreu à Culte para atingir seus objetivos.

Depois de passar por programas de aceleração, como Inovativa Brasil e LIFT Lab, nos últimos 6 meses a Culte recebeu mais de R$ 15 milhões em solicitações de empréstimos, sendo que 70% dos agricultores que solicitaram nunca tiveram acesso a crédito. Hoje, a startup está presente em 20 estados brasileiros, reunindo mais de dois mil pequenos agricultores; destes, mais de 30% são mulheres.

Em setembro, a startup lançou uma criptomoeda que permite a compra antecipada da produção destes pequenos agricultores: a cultecoin. “A ideia é possibilitar a conexão entre o produtor e empresas que estão precisando das mercadorias – como agroindústrias, cooperativas, hospitais, hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos que necessitam de grandes volumes – para uma compra maior”, esclarece o executivo.

Por outro lado, os agricultores também podem realizar compras em conjunto conseguindo melhores condições junto aos fornecedores. “Nós acreditamos que todos usufruímos dos frutos do agronegócio, portanto temos o dever de apoiar os agricultores e produtores rurais”, diz o CEO. Para Cláudio. é preciso impulsionar o agronegócio familiar brasileiro.

“O sistema bancário tradicional não é capaz de suprir com recursos financeiros subsidiados e tecnológicos de maneira abrangente e no período adequado”, afirma. “O aumento persistente na demanda de alimentos, causada pelo crescimento populacional, e a mudança na dieta à medida em que a classe média global se expande, cria nichos de mercado atrativos no agronegócio, oferecendo oportunidades de investimento em tecnologia e infraestrutura.”

Culte: Apresentação em VídeoCulte: Apresentação em Vídeo
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