Agricultura vertical: O futuro da produção de alimentos?

Agricultura vertical: O futuro da produção de alimentos?

Estima-se que a indústria agrícola produza mais de 6,4 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa anualmente – o que equivale a aproximadamente 8,5% das emissões anuais do planeta. Apesar dos efeitos inevitáveis das mudanças climáticas – como acesso limitado à água, padrões climáticos inconsistentes e má qualidade do solo –, com o crescimento contínuo da população, as demandas da indústria de alimentos terão que ser atendidas. Por isso, as inovações agrícolas serão necessárias para contornar os obstáculos e cultivar quantidades substanciais de produtos para atender às nossas necessidades.

A agricultura vertical é um dos processos agrícolas que poderão assumir esse papel.

Atuando como uma subcategoria da Agricultura de Ambiente Controlado (AAC), a agricultura vertical não é uma prática nova; pelo contrário, os jardins verticais datam da época dos babilônios, há quase 2.500 anos, e os historiadores acreditam que seus jardins suspensos sejam a forma mais antiga de fazendas verticais. Em 1600, a agricultura vertical foi usada na Europa para manter o conforto térmico usando paredes de frutas; em um sistema onde as plantas cresceriam ao longo das paredes de alvenaria que absorveriam o calor e dariam mais estabilidade térmica às pessoas – e essa estabilidade térmica permitiria que as culturas mediterrâneas crescessem em lugares como Inglaterra e Holanda.

Atualmente, a agricultura vertical empilha as colheitas em ambientes fechados e usa luzes LED para substituir a luz solar e os sistemas de água em circuito fechado. Como os produtos são cultivados em espaços fechados, não há necessidade de pesticidas e os alimentos não precisam ser lavados antes do consumo. As fazendas internas não usam solo e podem crescer usando sistemas hidropônicos (com plantas cultivadas em uma solução à base de água e nutrientes), aeropônicos (em uma técnica que suspende as plantas no ar e as mistura com a solução nutritiva) ou aquapônicos (que usa a mesma metodologia para armazenar plantas que a hidroponia, mas combina o cultivo de plantas e o cultivo de peixes, usando seus resíduos para tornar a água uma solução rica em nutrientes).

Pontos Positivos

Quando analisamos a quantidade de espaço ocupado pelas fazendas vertical, é possível afirmar que elas são extremamente eficientes. Os sistemas verticais podem acomodar 280 hectares num espaço de cerca de 2.000 m2.

Já abordando o consumo de água, os métodos de cultivo indoor usam até 90% menos água que os métodos tradicionais (estima-se que 70% da água doce que é facilmente acessível seja usada para a agricultura). A maior parte da água usada em uma fazenda vertical pode ser reutilizada em sistemas de irrigação para limitar o desperdício.

Outra vantagem dos sistemas AAC é que, ao otimizar o crescimento das plantas, vários tipos de produtos podem ser cultivados ao longo do ano, de forma consistente – o que significa que não é necessário que existam cultivos sazonais. A otimização das culturas também permite ciclos de crescimento reduzidos, onde os ciclos são tão rápidos que todo o seu crescimento pode ser reduzido para um período de 10 dias; o que é muito mais econômico e pode resultar em um aumento de rendimento de 700% em comparação com a agricultura tradicional, dependendo do tipo de alimento.

E, como as fazendas verticais estão localizadas em áreas urbanas e usam tecnologias avançadas, elas podem reduzir alguns custos. Devido às possibilidades de localizações mais acessíveis, há menos transporte necessário para levar os produtos frescos para os pontos de venda; resultando em menos emissões relacionadas ao transporte, o que também beneficia o planeta.

Desafios

Apesar de ser muito interessante e promissora, a agricultura vertical tem muitos desafios a serem superados. Um deles é que com os avanços tecnológicos atuais a produção vertical de alimentos pode ter custos elevados, uso excessivo de energia e enormes emissões de carbono.

A energia necessária para alimentar a luz fotossintética das lâmpadas LED é uma das principais preocupações. Por exemplo, para cada pé de alface cultivado, as emissões de dióxido de carbono podem encher três tambores de 250 litros. Ao cultivar 4.000 pés de alface, a energia necessária seria a mesma que as emissões anuais de um carro de passeio. Embora a energia renovável possa ser usada para aliviar algumas dessas preocupações relacionadas às emissões de gases de efeito estufa devido às questões energéticas, certas formas de energia renovável podem não ser suficientes para a autossuficiência da fazenda vertical. Além disso, nem todos os sistemas internos são compatíveis com certas formas de energia renovável.

Além disso, algumas culturas podem ser mais sustentáveis usando fazendas verticais do que outras. Enquanto plantas pequenas como folhas verdes e morangos são fáceis de se cultivar, cereais como milho e trigo são difíceis de empilhar de forma eficiente e requerem muita luz fotossintética. Isso significa que um pão produzido com trigo cultivado verticalmente teria um custo extremamente alto, apenas para compensar as luzes de LED.

O futuro da agricultura vertical

A população mundial está crescendo rapidamente e deve chegar a aproximadamente 10 bilhões em 2050, o que significa que precisaremos de um aumento de 70% na produção de alimentos. Os resultados atuais da agricultura tradicional não conseguem acompanhar essas demandas, especialmente por causa dos fatores induzidos pelas mudanças climáticas que afetam a produção e a qualidade dos alimentos. Até 2026, estima-se que a agricultura vertical aumente quase 25%. Com isso, é provável que as pesquisas na área também aumentem.

Ao maximizar a sustentabilidade de nossos métodos agrícolas, podemos torná-los mais eficientes e encontrar uma alternativa à agricultura tradicional. Embora não possamos mudar imediatamente para sistemas de AAC mais eficientes, como a agricultura vertical, podemos trabalhar lentamente para incorporar e adaptar métodos que tenham uma pegada de carbono menor para atender às demandas de alimentos humanos.

Então, é possível afirmar que a agricultura vertical é o futuro da produção de alimentos? A resposta para esta pergunta não é um simples “sim” ou “não”. Mas, a esta altura, podemos dizer que já aprendemos muito sobre o que funciona e, principalmente, o que não funciona na agricultura tradicional – e o que gostaríamos que um novo formato de agricultura suprisse. Considerando todas as suas possibilidades e limitações, não é possível dizer que a agricultura vertical, sozinha, é o futuro da produção de alimentos, mas sim que o caminho para esse futuro consiste em encontrarmos a proporção ideal entre ela e a agricultura tradicional, cultivando aquilo que precisamos (e da forma como precisamos) e atendendo às necessidades ambientais para que possamos fazer isso por muito mais tempo.

Imagem Destaque: YEINISM /Shutterstock

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