Categories Soluções de ImpactoPosted on 17/07/202514/07/2025O que é “overtourism” e como viajar sem causar estragos O que você vai descobrir a seguir: • O que é overtourism, como ele afeta moradores, cidades e o meio ambiente. • O que a recente paralisação no Louvre revela sobre os limites do turismo atual. • Como cada pessoa pode ser um turista mais responsável com atitudes práticas e conscientes. “Viajar é a única coisa que você compra que te deixa mais rico.” É uma frase encantadora, quase incontestável. Afinal, explorar o mundo amplia horizontes, aproxima culturas, derruba fronteiras internas e externas. Mas quando o mundo começa a não aguentar mais esse movimento? O fenômeno conhecido como overtourism tem se tornado pauta urgente em diversos destinos. Ele ocorre quando o número de visitantes ultrapassa a capacidade de um lugar de recebê-los sem comprometer seu funcionamento, sua qualidade de vida ou seus recursos culturais e naturais. Não é uma guerra contra turistas, mas um alerta sobre os limites do acolhimento quando não há planejamento e consciência coletiva. Um exemplo recente ajuda a ilustrar esse cenário: em junho de 2025, os funcionários do Museu do Louvre, em Paris, cruzaram os braços sem aviso prévio. Eles reclamavam da superlotação constante, da falta de infraestrutura básica e da escassez de equipe para lidar com mais de 30 mil visitantes diários. O maior museu do mundo virou palco de um protesto que, mais do que local, soou global. Mas o Louvre foi só um espelho. Cidades da Espanha, da Itália, da Grécia, entre outras, têm buscado alternativas para lidar com o excesso de visitantes. Algumas criaram taxas de entrada, outras limitaram o acesso de navios de cruzeiro ou controlam o número de turistas por dia em áreas históricas. No Brasil, o debate também avança, ainda que de forma mais pontual. Fernando de Noronha, por exemplo, controla rigorosamente o número de visitantes e cobra uma taxa de preservação ambiental proporcional ao tempo de permanência. Em Bonito (MS), cada trilha ou caverna tem limite diário de acesso, com agendamento obrigatório. Já em Paraty (RJ), a prefeitura vem discutindo formas de regular o fluxo em feriados prolongados, quando a cidade histórica chega a dobrar de população. São esforços locais que mostram que, mesmo em contextos diferentes, o desafio de equilibrar turismo e preservação é o mesmo. O que é overtourism (e como ele nos afeta?) O turismo em excesso não é apenas uma questão de desconforto. Seus efeitos são profundos, duradouros e afetam tanto o destino quanto quem vive nele. Entenda alguns dos principais impactos: Impacto na vida dos moradores: o aumento da demanda por hospedagem e serviços pode inflacionar preços, expulsar residentes de áreas centrais e modificar a dinâmica cotidiana de bairros inteiros. Sobrecarga de infraestrutura: transportes, coleta de lixo, abastecimento de água, segurança pública e até hospitais enfrentam uma pressão que muitas vezes extrapola a capacidade local. Danos ao patrimônio: monumentos, igrejas, museus e centros históricos sofrem desgaste acelerado. Em alguns casos, até o microclima interno de construções antigas é alterado pela aglomeração constante. Ambientalmente insustentável: praias, trilhas, florestas e parques naturais acumulam lixo, ruído e erosão. A presença humana em excesso desequilibra ecossistemas frágeis. Turismo superficial: em vez de criar conexões reais, a viagem vira uma maratona de fotos. Há pouco envolvimento com a cultura local, e muito desgaste para mantê-la “exibível”. Como ser um turista mais consciente? Não é preciso deixar de viajar. Mas é essencial repensar como viajamos. Pequenas mudanças de atitude podem fazer uma enorme diferença na forma como impactamos os lugares que visitamos. Antes de tudo, planeje com propósito. Evitar a alta temporada é uma das decisões mais responsáveis que você pode tomar. Além de fugir das multidões, você ajuda a distribuir melhor o fluxo de visitantes ao longo do ano. Também é importante conhecer o destino com antecedência: leia sobre sua história, seus desafios atuais e o que está em jogo social ou ambientalmente. E pense em alternativas: bairros, cidades e rotas que não estejam saturados costumam surpreender. Valorize experiências em vez de acumular destinos. Deixe de lado a lógica do “já fui”, que transforma pontos turísticos em itens de uma lista a ser riscada. Fique mais tempo em um só lugar, ande a pé, converse com os moradores. Em vez de correr atrás da próxima foto, permita-se viver o presente. Escolha consumir de forma local e consciente. Hotéis familiares, pousadas menores e acomodações geridas por pessoas da região são opções mais sustentáveis. O mesmo vale para restaurantes de bairro, mercados públicos e feiras. Compre de artesãos e artistas locais. E, sempre que possível, contrate guias que conhecem profundamente a realidade daquele lugar. Respeite o espaço visitado. Não encoste em obras, não pise fora da trilha, não deixe lixo. Parece óbvio, mas muitas vezes essas regras básicas são esquecidas. Leve uma sacola reutilizável para seu lixo e carregue sempre uma garrafa de água reutilizável com você. Reavalie seus meios de transporte. Em vez de voar curtas distâncias, considere o trem ou o ônibus. Dentro das cidades, caminhar ou usar bicicleta são formar de conhecer melhor o ambiente e reduzir seu impacto. E se o voo for inevitável, você pode buscar iniciativas para compensar as emissões de carbono. Por fim, viaje com empatia. Não fotografe pessoas sem autorização, principalmente crianças, pessoas em situação de vulnerabilidade ou trabalhadores em momentos de descanso. Aprender algumas palavras no idioma local – como “olá”, “por favor” e “obrigado” – é uma gentileza que diz muito sobre você. E pense duas vezes antes de negociar preços já baixos: o que para você é pouco, pode ser essencial para quem está vendendo. Viajar com consciência não reduz a magia da jornada. Pelo contrário, aprofunda e torna cada encontro mais genuíno, cada lembrança mais duradoura. Créditos: Imagem Destaque – 22Images Studio/Shutterstock Compartilhe esse artigo: