Categories Soluções de ImpactoPosted on 18/12/2025Produção científica no Brasil retoma crescimento após dois anos de queda • O número de artigos científicos com autores no Brasil em 2024 cresceu 4,5% em relação a 2023; aumento observado em 2024 reverte a tendência de queda observada nos dois anos anteriores. • Entre os 54 países analisados, somente Rússia (-6,3%) e Ucrânia (-0,6%) tiveram variação negativa na produção científica. • Entre 2014 e 2024, a produção científica do Brasil teve TCAC de 3,4% ao ano (taxa média anual de crescimento no período), ficando na 39ª posição entre 54 países com mais de 10 mil artigos em 2024. A produção científica brasileira voltou a crescer em 2024 em relação ao ano de 2023, de acordo com novo relatório Bori-Elsevier publicado nesta quinta (18). Os dados mostram que a quantidade de artigos científicos produzidos em instituições de pesquisa do Brasil cresceu 4,5% em relação ao ano de 2023 – e chegou a 73.220 documentos. Apesar disso, a ciência brasileira ainda não recuperou a produção acadêmica de 2021, de 82.440 artigos científicos, quando teve início um período de queda nas publicações assinadas por pesquisadores do país. Como mostraram dois relatórios Bori-Elsevier anteriores, a quantidade de artigos científicos produzidos no Brasil havia caído de maneira inédita em 2022 em relação ao ano anterior: um decréscimo de 7,4%. No ano seguinte, em 2023, houve uma nova queda de 7,2% na produção, em relação a 2022. Agora, em 2024, a tendência se reverte – e isso acontece em boa parte do mundo. A maioria dos países analisados agora apresentou algum nível de crescimento na sua produção científica em 2024 em relação a 2023, o que parece indicar uma retomada do ritmo da ciência na maioria dos países após a pandemia de Covid-19. As exceções são Rússia (queda de 6,3%) e Ucrânia (queda de 0,6%). Variação percentual entre 2023 e 2024 no número de publicações do tipo “artigo” para os 54 países com pelo menos 10 mil artigos publicados em 2024. O documento “2024: retomada no crescimento da produção científica no Brasil e em outros 51 países” da Bori-Elsevier analisou a produção científica de 1996 a 2024 de todos os países que, em 2024, publicaram mais de 10 mil artigos científicos. Com isso, 54 países foram avaliados. Juntos, eles produziram um total de 2.915.756 artigos científicos em todas as áreas do conhecimento no último ano. A retomada da produção científica brasileira, verificada nos dados deste ano, era esperada pela comunidade científica. “O volume de publicação de artigos de um país reflete, entre outros fatores, o volume de investimento feito em pesquisa científica alguns anos atrás”, diz Dante Cid, vice-presidente de Relações Institucionais para a América Latina da Elsevier. “Mediante o melhor nível de investimentos feito estes últimos anos, esperávamos que a produção nacional retomasse o crescimento.” Para Sabine Righetti, cofundadora da Bori, a melhora dos indicadores no Brasil em 2024 pode ter várias explicações, que se somam. “Entre elas estão o fim dos reflexos mais pesados da Covid-19 sobre a rotina de pesquisa e a recuperação do financiamentos à ciência, que ajudam a destravar projetos e a manter a produtividade das instituições”. O levantamento considerou apenas as publicações do tipo “artigo científico”, excluindo outros tipos de publicações editoriais. A coleta de dados foi feita em julho de 2025, com a ferramenta analítica SciVal, da Elsevier, que facilita o acesso aos dados da base de dados Scopus, que cobre mais de 100 milhões de publicações editadas por mais de sete mil editoras científicas no mundo todo. Também foi analisada, no relatório, a variação da produção das 32 instituições de pesquisa brasileiras que tiveram mais de mil publicações científicas do tipo “artigos” em 2024. Dessas, apenas três – Embrapa, Universidade Federal de Goiás e Universidade Estadual de Maringá – tiveram uma variação negativa. “É uma mudança muito favorável em relação ao panorama em 2023, quando apenas duas instituições tiveram variação positiva”, destaca Cid. “Conhecer esse panorama com profundidade é de grande valor tanto para acadêmicos quanto para gestores públicos. Não se faz boas políticas públicas a partir apenas de percepções ou com ações pontuais. Levantamentos como os relatórios Bori-Elsevier ajudam a identificar instituições mais resilientes, onde a retomada é mais robusta, e quais regiões e instituições precisam de políticas específicas para recuperar fôlego”, diz Ana Paula Morales, cofundadora da Bori. O relatório mostra também que o crescimento do número de artigos publicados é impulsionado pelo aumento no número de autores em cada país – efeito da retomada do crescimento no número de doutores e mestres formados no país. Nesse sentido, o Brasil tem crescido: em 2004, havia 205 autores por milhão de habitantes; hoje, esse número quase quintuplicou, para 932 por milhão. No relatório, um dos termômetros para enxergar tendências de longo prazo é a taxa de crescimento anual composta (TCAC), uma “média anual” que resume como a produção cresce ao longo de vários anos, suavizando oscilações pontuais. Por esse critério, apesar da retomada em 2024, o Brasil aparece com TCAC de 3,4% ao ano entre 2014 e 2024, ocupando a 39ª posição entre os 54 países analisados (todos com mais de 10 mil artigos em 2024) e mostrando perda de fôlego em comparação com períodos anteriores. O estudo aponta que essa perda de vigor não é só um “problema de artigos”: ela acompanha a desaceleração no crescimento do número de autores (um indicador do contingente de pesquisadores ativos). A TCAC do número de autores no Brasil ficou acima de 13% ao ano até 2013, mas entrou em queda a partir daí, chegando a 4,8% ao ano no decênio encerrado em 2024. O relatório aponta ainda que, embora a pandemia tenha agravado o quadro, quase dois terços da queda ocorreram entre 2014 e 2019, antes da Covid-19, sugerindo um componente estrutural na desaceleração recente da ciência brasileira. Fonte: Agência Bori Compartilhe esse artigo: