Desigualdade climática: por que nem todos sofrem da mesma forma (e como mudar isso)

Desigualdade climática: por que nem todos sofrem da mesma forma (e como mudar isso)

O que você vai descobrir a seguir:

  • • Como as mudanças climáticas impactam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis ao redor do mundo.
  • • Exemplos de desastres ambientais e sua relação com desigualdade social e econômica em diferentes países.
  • • Soluções possíveis para reduzir a desigualdade climática e proteger os mais afetados.

Você já ouviu falar sobre a desigualdade econômica, mas e sobre a desigualdade climática? O conceito se refere ao impacto desproporcional que as mudanças climáticas causam sobre diferentes populações – com os mais pobres e marginalizados sendo os mais prejudicados.

A explicação é simples: desastres naturais e eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e furacões, atingem a todos, mas nem todos têm os mesmos recursos para se proteger, reconstruir suas vidas ou até mesmo escapar dessas situações.

O resultado? Regiões mais pobres sofrem mais mortes, mais perdas econômicas e demoram mais para se recuperar. Essa tendência já é visível ao redor do mundo.

Calor extremo: quem sente mais?

A última década foi a mais quente já registrada na história. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, cerca de 255 mil pessoas podem morrer anualmente devido às ondas de calor. E os mais atingidos serão justamente aqueles com menos acesso a infraestrutura, saneamento e serviços de saúde.

Na Índia, onde temperaturas chegam a 50°C em algumas regiões, as populações de baixa renda sofrem por não terem ar-condicionado ou sequer acesso à sombra. De acordo com um relatório do World Economic Forum, somente 8% dos 2,8 bilhões de habitantes das áreas mais quentes do mundo têm ar-condicionado, enquanto em países ricos, como os EUA e o Japão, esse número ultrapassa 90%.

Mas o calor extremo não é um problema apenas para países de renda baixa ou média. Na Europa, a onda de calor de 2022 matou mais de 61 mil pessoas – e as mais vulneráveis foram idosos, imigrantes e moradores de habitações precárias.

No Brasil, o aumento das temperaturas já impacta grandes cidades. Comunidades periféricas, com menor acesso a áreas verdes e infraestrutura urbana, enfrentam temperaturas mais altas devido ao chamado “efeito ilha de calor”, causado pela alta concentração de concreto e a falta de vegetação.

Quando o fogo destrói (e nem todos conseguem recomeçar)

Os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e intensos em diversas partes do mundo. Na Austrália, os incêndios de 2019-2020 destruíram mais de 12 milhões de hectares de floresta, com impactos devastadores para comunidades rurais e indígenas. Pesquisas apontam que os povos aborígenes foram desproporcionalmente afetados, devido à falta de infraestrutura para evacuação e reconstrução.

Na América do Sul, o Pantanal e a Amazônia vêm sofrendo com queimadas recordes, muitas das quais ligadas ao desmatamento. Populações tradicionais, como indígenas e ribeirinhos, sofrem com perdas de território, impacto na segurança alimentar e aumento de doenças respiratórias causadas pela fumaça.

Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade de Washington revelou que negros, latinos e indígenas estão 60% mais vulneráveis a incêndios florestais do que os brancos, por viverem em áreas mais expostas e terem menos recursos para evacuação.

Água: um recurso cada vez mais escasso (menos para algumas pessoas)

A crise climática também agrava a escassez de água, e os impactos não são distribuídos de forma justa. De acordo com a ONG WaterAid, os grupos mais afetados são:

  • • Populações rurais e comunidades tradicionais, que dependem de fontes naturais de água.
  • • Pessoas que vivem em áreas vulneráveis a inundações e secas severas.
  • • Mulheres e meninas de regiões pobres, que gastam bilhões de horas por ano carregando água em distâncias longas.

Na Índia, por exemplo, o aumento das chuvas fortes combinado com a falta de saneamento básico faz com que rios e lagos fiquem altamente poluídos, prejudicando o acesso à água potável, especialmente para as castas mais baixas.

Na África Subsaariana, a escassez de água já força milhares de famílias a migrarem em busca de sobrevivência. E no Brasil, cidades como São Paulo e Brasília enfrentam crises hídricas cada vez mais frequentes, afetando principalmente as periferias, onde o racionamento costuma ser mais severo.

Respirar não deveria ser um privilégio (mas, em muitos lugares, é)

A poluição do ar mata cerca de 7 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS, e 92% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda.

Na China e na Índia, metrópoles como Pequim e Nova Déli frequentemente registram níveis alarmantes de poluição do ar, prejudicando principalmente crianças e idosos.

No Brasil, moradores de comunidades próximas a aterros sanitários ou áreas industriais são os mais afetados por problemas respiratórios, pois têm menos opções de moradia e não podem simplesmente se mudar para áreas mais saudáveis.

Em Nairóbi, no Quênia, meio milhão de pessoas vivem perto do maior lixão do país, inalando fumaça tóxica diariamente. O mesmo ocorre em Deli, na Índia, onde milhares de famílias sobrevivem catando lixo em condições extremamente poluídas.

Como podemos reduzir a desigualdade climática?

A boa notícia é que há soluções sendo implementadas ao redor do mundo para mitigar os impactos da crise climática sobre os mais vulneráveis. Algumas ações que podem fazer a diferença incluem:

  • Planos de adaptação climática: Em Ahmedabad, na Índia, um programa inovador de “telhados frios” foi implementado, fornecendo coberturas refletores de calor para casas de baixa renda.
  • Investimento em energia limpa e sustentável: O Uruguai alcançou quase 100% de energia renovável com um modelo que prioriza parcerias público-privadas e planejamento de longo prazo.
  • Proteção de comunidades vulneráveis: Países como Filipinas e Bangladesh estão implementando programas para reassentar comunidades em áreas seguras antes de desastres climáticos.
  • Educação e participação comunitária: Iniciativas que envolvem populações locais na construção de soluções – como reflorestamento urbano e saneamento ecológico – já mostram bons resultados.

Acabar com a desigualdade climática exige ações coordenadas entre governos, empresas e cidadãos. A crise climática é real e está se intensificando, mas ainda há tempo para agir de forma justa e inclusiva. Afinal, onde você mora, quanto você ganha ou sua origem não deveriam determinar suas chances de sobreviver a um desastre climático.

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