Relatório sobre mudanças climáticas indica pontos de não retorno em todo o mundo

Relatório sobre mudanças climáticas indica pontos de não retorno em todo o mundo

As mudanças do clima têm produzido impactos em diferentes regiões do mundo, e mitigar seus efeitos tem sido um dos principais desafios globais. Em relatório inédito lançado nesta terça (5), uma equipe internacional de mais de 200 pesquisadores coordenada pela Universidade de Exeter aponta que as atuais medidas das governanças globais não têm sido suficientes para travar a crise climática e ecológica.

Os cientistas avaliaram 26 pontos de não retorno, incluindo a Amazônia. Pontos de não retorno são limiares que, se ultrapassados, desencadeiam uma transformação muitas vezes rápida e irreversível nos ecossistemas, com efeitos positivos ou negativos. Assim, mesmo uma mudança aparentemente pequena pode disparar uma grande transformação na configuração de determinadas regiões do planeta. Por exemplo, limiares de aquecimento global, chuva regional e desmatamento caracterizam pontos de não retorno que, se cruzados, causariam a perda da capacidade da floresta amazônica de se autorregenerar.

No documento, são apontadas seis recomendações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, incluindo a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e de emissões de gases de efeito estufa até 2050, e a promoção de esforços em cada país para combater as mudanças climáticas. Com o aquecimento global a caminho de ultrapassar 1,5°C, é provável que sejam desencadeados pelo menos cinco pontos de ruptura do sistema terrestre – incluindo o colapso de grandes mantos de gelo e a mortalidade generalizada dos recifes de coral de águas quentes.

Dentre os cientistas que produziram o relatório estão os brasileiros Marina Hirota e Bernardo Flores, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que contribuíram com apontamentos em relação à Amazônia. Segundo Hirota, já é possível identificar um aumento de 2 a 4 graus Celsius na temperatura global. “Se continuarmos como estamos, a mudança de temperatura global afetará o regime de chuvas e de temperatura regionais na Amazônia de uma forma que ficará insustentável ter floresta”, enfatiza a pesquisadora. Segundo a brasileira, “mesmo que as emissões de carbono ou o desmatamento fossem zerados neste momento, por exemplo, ainda teríamos impactos relevantes na Amazônia”.

De acordo com o documento, a velocidade da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e o crescimento de soluções com zero emissões de carbono determinarão o futuro de milhões de pessoas. “Estamos em um momento no mundo crucial para mudar a trajetória socioeconômica do nosso planeta, já que as nossas escolhas têm impacto nos ecossistemas do mundo, inclusive nos do Brasil”, afirma Hirota.

O relatório aponta que, sem medidas urgentes para minimizar os efeitos das mudanças do clima, as sociedades ficarão sobrecarregadas, à medida que o mundo natural se desintegra. De acordo com o chefe de Ciência, Mudança de Dados e Sistemas do “Bezos Earth Fund”, Kelly Levin, “as mudanças climáticas definem o nosso tempo. É essencial que façamos avançar a ciência sobre os pontos de ruptura globais para enfrentar as ameaças e oportunidades que se avizinham”.

A seguir, confira os insights adicionais do “Global Tipping Points Report 2023”. Acesse o relatório completo aqui.

  • Conexões Complexas entre Pontos de Inflexão: O relatório destaca como pontos de inflexão, como o derretimento do permafrost na Sibéria, estão intrinsecamente interconectados. Alterações em uma parte do sistema terrestre podem desencadear reações em cadeia, acelerando o aquecimento global e afetando ecossistemas distantes.
  • Impactos na Saúde Humana: As mudanças climáticas estão diretamente ligadas a uma série de problemas de saúde. O aumento da prevalência de doenças infecciosas, problemas respiratórios devido à poluição do ar, e estresse térmico em regiões mais quentes são alguns dos efeitos adversos destacados.
  • Desafios para a Agricultura e Segurança Alimentar: Variações nos padrões climáticos podem levar a períodos de seca e inundações, afetando a produção agrícola. Isso pode resultar em escassez de alimentos e aumento dos preços, afetando a segurança alimentar em escala global.
  • Mudanças nos Padrões Hídricos: As mudanças climáticas estão alterando os padrões de precipitação e a disponibilidade de água doce. Isso impacta não apenas o abastecimento de água para consumo humano, mas também a agricultura e a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos.
  • Perda de Habitat e Extinção de Espécies: A alteração rápida de habitats, como resultado de mudanças climáticas, está levando a uma potencial extinção em massa. A acidificação dos oceanos e a perda de habitats terrestres são particularmente preocupantes.
  • Deslocamento Populacional e Refugiados Climáticos: O relatório aborda o crescente problema do deslocamento de populações devido a eventos climáticos extremos. Isso está criando uma nova categoria de refugiados – os refugiados climáticos – e levantando questões complexas para a governança global.
  • Inovações e Soluções Tecnológicas: Destaca-se a importância crucial de inovações tecnológicas na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Isso inclui o desenvolvimento de energias renováveis, soluções de captura de carbono e práticas de agricultura sustentável.
  • Aspectos Econômicos das Mudanças Climáticas: O relatório analisa o impacto econômico das mudanças climáticas, destacando os custos associados à mitigação e adaptação. Discute-se também como as economias podem se adaptar para serem mais resilientes e sustentáveis no futuro.
  • A Importância da Educação e Conscientização Pública: Enfatiza-se a necessidade de aumentar a conscientização sobre as mudanças climáticas. Isso envolve educar o público para promover comportamentos sustentáveis e pressionar por políticas climáticas mais eficazes.
  • Ação Internacional Coordenada: Ressalta-se a importância de uma ação internacional coordenada, por meio de acordos globais e colaborações internacionais, para enfrentar os desafios apresentados pelos pontos de inflexão de forma efetiva.

Fonte: Agência Bori

Imagem Destaque – Tatiana Grozetskaya/Shutterstock

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