Os países que serão mais afetados pelos efeitos da mudança climática são os menos responsáveis por ela

Os países que serão mais afetados pelos efeitos da mudança climática são os menos responsáveis por ela

No mundo, o número de países que sofrem de fome severa diminuiu drasticamente nas últimas duas décadas. Mas essa conquista não é o suficiente, uma vez que não estamos progredindo na resolução do problema da fome global com de forma rápido o suficiente para acompanhar as mudanças climáticas.

Nos últimos cinco anos, o número total de pessoas subnutridas (a métrica usada na linguagem do desenvolvimento para medir a fome, o que significa que uma pessoa não recebe suas necessidades calóricas diárias), na realidade, aumentou – de 785 milhões para 822 milhões. E a pior notícia relacionada a esse cenário é que as pessoas que passam fome vivem principalmente nos países em desenvolvimento, ou seja, os lugares com maior probabilidade de serem atingidos com mais força pelas mudanças climáticas, e também as áreas que são as menos responsáveis pelas mudanças climáticas.

Esses índices vêm do Global Hunger Index 2019, um boletim anual desenvolvido pela Concern Worldwide, em parceria com a Welthungerhilfe. Desde 2000, essas organizações vêm coletando dados sobre a fome existentes de organizações intergovernamentais – como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a UNICEF, a Organização Mundial da Saúde e o Banco Mundial – e combinando-os com seus próprios estudos e observações, já que as duas organizações atuam em 40 países afetados pelos problemas causados pela fome.

O Global Hunger Index 2019 mostra os índices positivos nas últimas décadas, mas também alerta sobre o que está por vir.

“Passamos de um ‘índice sério e alarmante’ de fome global, para um índice ‘moderado a grave’”, diz Ed Kenney, vice-presidente de comunicações da Concern Worldwide nos EUA. “Mas podemos provar, com base em nossa experiência e nos dados, que as mudanças climáticas são um multiplicador de ameaças para pessoas com fome e desnutridas”.

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45 países (representados no mapa ao lado) correm o risco de ainda sofrer de fome crônica até 2030, o que significa que grande parte do mundo ficará atrás dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Também destaca onde a intervenção pode ser mais necessária. O local com o maior nível de fome é a República Centro-Africana, seguida pelo Iêmen, Chade, Madagascar e Zâmbia. Na verdade, a taxa de fome aumentou desde 2010 na República Centro-Africana, em Madagascar, no Iêmen e na Venezuela. E por causa de duros conflitos e problemas governamentais, há nove países em que essas métricas simplesmente não foram calculadas, incluindo Líbia, Somália e Síria.

Os receios sobre o que as mudanças climáticas trarão para esses países são triplos. Primeiro, em muitos casos, as economias que enfrentam grandes dificuldades são mais afetadas por três problemas principais: nos últimos 30 anos, a taxa de eventos climáticos extremos dobrou. Por sua vez, seja uma tempestade, inundação, seca ou incêndio, os alimentos geralmente ficam mais escassos e caros em seguida, o que torna a recuperação mais difícil.

Segundo, há também evidências de que o ambiente mais rico em dióxido de carbono criado em grande parte pelas emissões nocivas dos países desenvolvidos está fazendo com que alguns alimentos se tornem menos nutritivos. Isso é especialmente prejudicial para as pessoas que vivem com dietas amplamente baseadas em vegetais, a configuração padrão em locais onde a carne é muito cara.

Por fim, muitos lugares que cultivam seus próprios alimentos estão percebendo que sua deterioração tem sido mais rápida – acontecendo antes que eles possam ser vendidos ou consumidos. Como o relatório aponta, “cerca de um terço dos alimentos são perdidos entre a fazenda e o mercado, em países de baixa e média renda, e uma quantia semelhante é desperdiçada em países de alta renda entre o mercado e a mesa”.

Solucionar todos esses problemas exigirá um esforço global, mas saber onde o suporte pode fazer uma diferença maior já é um bom começo.

“Estamos falando de uma ação em larga escala, uma transformação radical necessária para lidar com todos os problemas complexos, que interligam a fome às mudanças climáticas”, diz Ed Kenney. “Isso significa envolver a sociedade civil em nível nacional, incluindo o setor privado e as corporações, e garantir que o financiamento e os recursos contra a fome se relacionem especificamente às mudanças climáticas”.

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