Categories Soluções de ImpactoPosted on 24/04/202523/04/2025A energia limpa consegue acompanhar o avanço voraz da IA? • Como a inteligência artificial, a nuvem e o blockchain estão pressionando nossa matriz energética. • Por que fontes renováveis ainda não conseguem acompanhar esse crescimento vertiginoso. • As propostas de especialistas para evitar que o futuro digital comprometa o planeta. Vivemos conectados. Cada foto salva, mensagem enviada, comando de voz executado ou vídeo assistido em streaming parece inofensivo, mas há uma máquina invisível por trás disso tudo que não para de crescer e consumir. O que está em jogo agora é o impacto da nossa vida digital sobre o planeta. E a resposta não é nada simples. A infraestrutura por trás de tudo isso (os data centers) está se tornando uma das grandes vilãs ocultas da crise climática. Eles funcionam como verdadeiros pulmões artificiais da internet, processando e armazenando nossos dados 24 horas por dia, sete dias por semana. Só que, ao contrário da natureza, esses pulmões exigem muita energia para funcionar. E essa energia precisa vir de algum lugar. A inteligência artificial é uma das principais responsáveis por esse salto no consumo. Treinar modelos como o GPT-3 exigiu energia suficiente para abastecer 130 casas por um ano. E isso é só o começo. A cada nova geração de modelos, que são mais potentes e mais complexos, a demanda por eletricidade dispara. E mesmo o uso cotidiano desses sistemas, como um simples comando em um chatbot, já tem um peso. Isoladamente, pode parecer pouco. Mas multiplicado por bilhões de acessos, o impacto é colossal. O cenário atual evidencia desequilíbrios importantes: • Demanda digital em ritmo acelerado: IA, nuvem e criptomoedas estão elevando o consumo global de eletricidade em escala sem precedentes. • Fontes renováveis insuficientes: O crescimento da energia limpa não acompanha a velocidade da transformação digital. • Dependência de fontes fósseis: Em momentos sem sol ou vento, a alternativa continua sendo o carvão e o gás natural. • Transparência limitada: As big techs ainda evitam divulgar dados específicos sobre o consumo energético da IA. Diante disso, muita gente – especialmente quem já acompanha o avanço das energias limpas – tende a responder com certo otimismo: “Ok, mas estamos investindo em solar, eólica… Vai dar conta.” A questão é que talvez esse otimismo não esteja sendo realista o suficiente. Fontes como sol e vento têm uma limitação que o discurso sustentável nem sempre destaca: são intermitentes. E os data centers não têm esse luxo de funcionar só quando o sol aparece ou o vento sopra. Eles operam 24 horas por dia. Quando as renováveis falham, entra em cena o plano B; que, na maioria das vezes, ainda é movido a carvão ou gás natural. E tem mais: a construção de data centers é rápida. Em um ano, eles ficam prontos. Já uma usina solar ou eólica pode levar o dobro desse tempo só para entrar em operação plena. Esse descompasso cria uma corrida desigual, em que a revolução digital corre na frente e a infraestrutura sustentável fica tentando alcançar, ofegante. Mesmo empresas que se comprometeram com metas ousadas, como zerar suas emissões até 2030, enfrentam dificuldades. O Google, por exemplo, viu suas emissões aumentarem 48% entre 2019 e 2023 – impulsionadas principalmente pela energia exigida por seus centros de dados. E o que podemos fazer? A boa notícia é que há propostas sendo discutidas (e elas vão muito além do otimismo): • Transparência obrigatória: Pressionar por leis que obriguem empresas a divulgar quanto de energia é consumido especificamente com IA. • Selos de eficiência energética: Incentivar o uso de data centers mais sustentáveis, com classificações que ajudem consumidores e empresas a fazer escolhas conscientes. • Planejamento elétrico estratégico: Integrar a expansão digital ao planejamento de infraestrutura, evitando que o avanço da tecnologia sobrecarregue a rede tradicional. • Investimento acelerado em renováveis: Para garantir que a base energética da era digital seja, de fato, sustentável. Hoje, dizer “não vou usar IA” já não é uma opção realista. Ela está em tudo, dos sistemas de busca aos tradutores, das redes sociais aos serviços de atendimento. Mas podemos, sim, escolher pressionar por mais responsabilidade, exigir regras claras e cobrar que o futuro digital venha acompanhado de uma matriz energética à altura dos nossos desafios climáticos. Créditos: Imagem Destaque – Cranium_Soul/Shutterstock Compartilhe esse artigo: