Guia da Mudança Climática – Parte II: O que vem a seguir?

Guia da Mudança Climática – Parte II: O que vem a seguir?

Para ler a Parte I, onde explicamos como esta mudança climática global começou, clique aqui.


A boa notícia é que a comunidade global está unida e ciente dos riscos da mudança climática. A ciência está conseguindo ligar eventos extremos específicos – como furacões irregulares, enchentes extremas – diretamente à mudança climática causada pelo homem, e isso facilita a construção de uma ação dramática para conter os danos. Mas quais devem ser essas ações?

A solução mais óbvia para os problemas da mudança climática é uma mudança drástica dos combustíveis fósseis para as energias renováveis: energia solar, eólica, geotérmica e nuclear (para saber mais sobre o assunto, confira nosso Guia da Energia). E estamos fazendo progressos sólidos, aumentando a nossa produção de energia renovável em cerca de 2,8% todos os anos em todo o mundo.

Mas há um entendimento cada vez maior de que, mesmo que todos os países que do Acordo de Paris cumpram cada um de seus objetivos declarados, a Terra ainda sofrerá algumas mudanças drásticas. Algumas pessoas até argumentam que já passamos do ponto de inflexão; mesmo se parássemos nossas emissões hoje, ainda veríamos efeitos dramáticos no planeta. E isso significa que precisamos começar a nos preparar para um tipo diferente de futuro climático – principalmente na forma como construímos. As inundações virão, forçando-nos a fazer novas regras de construção. Uma estação de incêndios cada vez mais longa desencorajará a construção ao longo da interface urbano-florestal. E as pessoas irão se mudarão de regiões tornadas inabitáveis pela seca, pelo calor ou pelas inundações, forçando outros países a adaptarem suas políticas de imigração e causando uma nova classe de refugiados.

Todas essas mudanças custarão dinheiro. Esse foi um dos principais motivadores do Acordo de Paris: Trocar os combustíveis fósseis baratos significa que as empresas precisarão de uma explosão financeira para garantir um futuro lucrativo e sustentável. É por isso que muitas das soluções para as mudanças climáticas não têm nada a ver com a ciência do clima, por si só: elas têm a ver com economia.

Os investidores socialmente conscientes, por sua vez, estão fazendo a diferença, responsabilizando as empresas por seus impactos no clima – e as formas pelas quais as mudanças climáticas afetarão seus negócios. Em 2017, um coletivo de sistemas previdenciários de pequena escala obrigou a Occidental Petroleum, uma das maiores empresas de petróleo dos EUA, a divulgar o risco climático em seu prospecto de acionistas. A ExxonMobil cedeu à pressão em dezembro do mesmo ano. Instituições que recebem uma grande quantidade de doações, como universidades, estão enfrentando pressão política para romperem com a indústria de combustíveis fósseis.

Essas são todas formas indiretas de responsabilizar a indústria de combustíveis fósseis pelo custo financeiro que ela faz com que a Terra assuma a cada gigatonelada de gases de efeito estufa emitidos. Mas existem formas mais diretas de também cobrar essa responsabilidade. Após a reportagem da Inside-Climate News ter revelado, em 2015, que a ExxonMobil há muito tempo sabe dos riscos da mudança climática, a empresa está sendo investigada por procuradores gerais em vários estados para determinar se violou os estatutos de proteção do consumidor ou do investidor. A cidade de São Francisco está processando os cinco maiores produtores de combustíveis fósseis de capital aberto para que eles paguem pela infraestrutura de proteção contra o aumento do nível do mar. Nova York seguiu com um processo similar.

Digamos que esses processos sejam bem-sucedidos e que as cidades em risco obtenham alguma ajuda para fazer as atualizações de infraestrutura em massa necessárias para proteger seus investimentos no litoral. Depois de fazer tudo o que pudermos para reduzir ainda mais as emissões de carbono e proteger a vida e a propriedade dos perigos de um clima em mudança, ainda não será suficiente para evitar que as temperaturas globais subam além do ponto de inflexão de 2 ºC. Então é quando a humanidade entra em modo proativo, potencialmente desencadeando um conjunto controverso de tecnologias experimentais na atmosfera. Isso é geoengenharia: remover dióxido de carbono e reduzir o calor por meio de, digamos, meios experimentais – como navios de pulverização de sal e espelhos espaciais gigantescos.

Uma das grandes esperanças do último relatório do IPCC é que podemos retirar o dióxido de carbono diretamente da atmosfera e armazená-lo no subsolo através de um processo chamado bioenergia com captura e armazenamento de carbono. Mas essa tecnologia ainda não existe. Outra estratégia tenta reduzir o calor injetando partículas de sulfato na atmosfera, refletindo a radiação solar de volta ao espaço – mas isso pode desencadear um excesso de resfriamento global. Em poucas palavras, a maioria das proposições para a geoengenharia é subdesenvolvida. A motivação para concluir essas ideias dependerá do sucesso dos cortes globais nas próximas décadas.

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Essa publicação é uma adaptação para o português do Guide to Climate Change, produzido pela WIRED.

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