Como é a reciclagem de painéis solares (e por que ela ainda é tão difícil)

Como é a reciclagem de painéis solares (e por que ela ainda é tão difícil)
O que você vai descobrir a seguir:
  • • Por que desmontar um painel solar é tão complicado (e caro).
  • • Quais materiais podem ser reaproveitados e quais são mais desafiadores.
  • • As soluções que já estão sendo pensadas para tornar o processo mais eficiente e sustentável.

Durante anos, os painéis solares são os heróis silenciosos da energia limpa. Mas, quando completam seus 25 ou 30 anos de serviço, uma pergunta inevitável surge: o que fazer com eles? A resposta ideal seria: reciclar. Mas, na prática, esse processo ainda está longe de ser simples.

Feitos para resistir a décadas de sol, chuva, granizo e ventos fortes, os painéis solares são como tanques de guerra tecnológicos. Essa robustez, que garante sua longa vida útil, também dificulta sua desmontagem. São várias camadas coladas – vidro, plástico, silício, metais – que precisam ser separadas cuidadosamente para permitir a reciclagem.

Quando a reciclagem é viável, ainda assim ela custa caro no Brasil. Estima-se que processar um único painel possa custar entre R$ 80 e R$ 150, enquanto o valor recuperado dos materiais gira em torno de R$ 20.

Esse descompasso torna o processo pouco atrativo, empurrando boa parte desses resíduos para aterros sanitários. A
 legislação até inclui os painéis na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas faltam normas específicas, incentivos e infraestrutura para que isso funcione na prática. Hoje, há poucas iniciativas com capacidade técnica e escala para transformar esse cenário, embora algumas soluções já estejam sendo testadas em regiões como o Sudeste e o Centro-Oeste.

O que pode (ou não) ser reaproveitado em um painel solar:

  • Vidro: representa até 75% da estrutura e pode ser reciclado — se separado corretamente. Caso contrário, vira apenas enchimento para obras.
  • 🟡 Prata e cobre: têm valor, mas aparecem em quantidades tão pequenas que, sem tecnologia avançada, nem sempre compensam a extração.
  • Silício: pode ser reaproveitado com alto grau de pureza, mas exige processos químicos ou térmicos sofisticados.
  • Metais tóxicos (como chumbo e cádmio): presentes em modelos mais antigos, são perigosos ao meio ambiente e exigem cuidado especial.

Caminhos para o futuro

Apesar das dificuldades, novas soluções vêm ganhando força. Um exemplo é o uso de processos como o “salt etching”, que recuperam até 99% da prata e 98% do silício – ainda mais promissores em escala global. No Brasil, já existem tecnologias capazes de alcançar níveis altos de reaproveitamento, inclusive com unidades móveis que processam centenas de painéis por hora e até reutilizam o vidro em forma de microesferas.

Outra aposta está no design: painéis mais modulares, com peças que se encaixem como blocos de montar, podem facilitar desmontagens no futuro. Ainda é algo em desenvolvimento, mas é um sinal claro de que a indústria já pensa no fim da linha desde o início do projeto.

E há um caminho complementar que ganha força: fazer com que esses painéis durem mais. Com manutenção preventiva e componentes mais duráveis, a vida útil pode saltar para até 50 anos; o que alivia a pressão sobre o sistema de reciclagem e fortalece a lógica da economia circular.

Se quisermos que a energia solar continue sendo uma solução limpa, precisamos enfrentar também o que vem depois do último raio de sol. E a reciclagem de painéis solares é uma peça essencial para esse futuro mais sustentável.


Créditos: Imagem Destaque – ultramansk/Shutterstock

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