A revolução da compostagem em Nova York

A revolução da compostagem em Nova York

Nova York, a emblemática cidade dos arranha-céus, está agora mirando no chão. Com o objetivo de transformar milhões de toneladas de resíduos orgânicos em algo útil, a cidade está lançando um programa ambicioso de compostagem.

A partir de outubro, os residentes do Brooklyn terão uma etapa adicional em sua rotina de descarte: separar os resíduos alimentares e de jardim. E eles não estarão sozinhos nessa. A ilha de Manhattan embarcará nessa jornada no próximo ano.

Mas, vamos aos números. Diariamente, os nova-iorquinos produzem impressionantes 11 milhões de kg de lixo. Um terço disso é compostável. Infelizmente, a maior parte desses resíduos orgânicos acaba em aterros, liberando metano, um gás com efeito estufa 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono. Além dos benefícios ambientais, existe outra motivação curiosa: os ratos. A compostagem ajuda a deter esses roedores, um problema notório na cidade.

A iniciativa não é apenas uma medida ambiental, mas também estratégica. A compostagem é vista como uma adição simples ao processo de reciclagem, sem a necessidade de separar diferentes plásticos e metais. Assim, a cidade espera que a transição seja suave. E como forma de garantir a adesão, os residentes que não cumprirem as regras de compostagem receberão advertências e, posteriormente, multas que variam de US$ 25 a US$400.

Para tornar essa transição mais fácil e prática, a cidade oferece algumas soluções:

Os residentes podem usar um recipiente de sua escolha para acomodar seus resíduos de alimentos e de jardim. Porém, para aqueles que buscam uniformidade e facilidade, a cidade disponibilizou uma opção especial: até 13 de outubro, os habitantes do Brooklyn podem encomendar um pequeno cesto marrom fornecido pela prefeitura. Este cesto foi desenhado especificamente para a coleta de compostos, tornando-se uma ferramenta visual para destacar o compromisso com a sustentabilidade.

A logística também foi pensada de forma integrada. Os trabalhadores de saneamento da cidade coletarão os resíduos compostáveis no mesmo dia em que fazem a coleta de lixo e reciclagem. Dessa forma, os residentes não precisam se preocupar com datas de coleta diferentes, tornando o processo de compostagem tão rotineiro quanto descartar o lixo comum.

Não é a primeira vez que Nova York “flerta” com a compostagem. Desde 2013, em alguns distritos, a coleta de compostos nas calçadas já existia. No entanto, essa nova iniciativa é mais abrangente. O programa foi planejado para ser implementado aos poucos, distrito por distrito. Isso permitirá uma abordagem mais personalizada, com a cidade fazendo um esforço significativo para educar e engajar cada comunidade especificamente.

Empresas privadas de gestão de resíduos estão se associando a diferentes distritos para tratar do lixo orgânico. No Brooklyn, por exemplo, a empresa Waste Management enviará a maioria dos materiais para uma unidade de digestão anaeróbica. Em contrapartida, em Staten Island, uma instalação de compostagem de mais de 13 hectares é administrada pela Denali, uma empresa que redirecionou 97% dos resíduos do Super Bowl deste ano.

Claro, como toda grande mudança, há preocupações. Alguns proprietários temem que eles acabem arcando com as multas devido a erros dos residentes. E há questões práticas: como identificar de quem é a casca de ovo encontrada no lixo?

Nova York está atrasada em relação a outras cidades americanas, como São Francisco (Califórnia) e Portland (Oregon), onde a compostagem obrigatória já funciona bem. Porém, uma vez implementada, Nova York se tornará a cidade dos EUA mais antiga e maior a fazer isso, mostrando ao mundo, e talvez a algumas de nossas metrópoles brasileiras, que mudanças sustentáveis são possíveis, mesmo em cenários desafiadores.


Créditos: Imagem Destaque – Albert Pego/Shutterstock

Compartilhe esse artigo: