Canadá pretende banir plásticos descartáveis até 2025

Canadá pretende banir plásticos descartáveis até 2025

A ubiquidade é a característica daquilo que se faz presente em todo lugar, a todo o tempo. Juntamente das figuras divinas, o plástico é uma das poucas coisas que também tem essa característica, podendo ser abundantemente encontrado em qualquer lugar – sobretudo no lixo.

Não por acaso, segundo projeções globais consolidadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, em 2019, a produção anual de lixo plástico por volta do ano 2060 será de 1 bilhão e 14 milhões de toneladas, o triplo da atual.

Foi por causa das consequências catastróficas que cenários como esse podem produzir que, na última segunda-feira, 20 de junho, o Ministério do Meio Ambiente do Canadá decidiu banir a produção de sacolas plásticas no país até o fim deste ano.

Na mesma regra, o órgão também determina que, até final de 2023, o país pare de comercializar embalagens do tipo, bem como que encerre a exportação desses itens até 2025. Além de também ser válida para as caixas de isopor, a medida ainda inclui canudos, palitos, talheres e revestimentos de latas e garrafas (rótulos) feitos de plástico.

Em sua literalidade, a medida do Canadá faz referência a todos os “plásticos de uso único”, grupo que engloba a maioria dos “plásticos descartáveis”, como são conhecidos no Brasil.

Apesar de surpreender muitos ao redor do globo, a guerra do Canadá contra o plástico descartável remonta a 2019, quando o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, defendeu uma política de zerar o lixo plástico até o final da década atual. Trudeau concorria às eleições naquele ano.

A pandemia, naturalmente, parece ter atrasado a implementação de certas medidas. O país pretendia banir os plásticos descartáveis já em 2021. No entanto, o máximo alcançado pelo governo canadense foi a listagem do material como tóxico, segundo a Lei de Proteção Ambiental.

Guerra do Canadá contra o plástico não é unânime

Que lixo plástico é ruim, todo mundo concorda. Ainda assim, a medida do executivo canadense gerou reações: pouco após a listagem do plástico como substância tóxica no último ano, um consórcio de produtores no país decidiu processar o governo.

Entre as alegações do grupo, há o fato de que a medida prevê pouco tempo para adaptações, bem como não promove ações para facilitar o acesso a materiais alternativos. A questão, porém, é que a decisão do Canadá não é exatamente uma ação fora da curva, considerando o histórico do país.

De acordo com a imprensa canadense, diferentes regiões, incluindo a metrópole de língua francesa, Montreal, já possuem medidas restritivas ao plástico. Da mesma forma, algumas cadeias de varejo do país também já migraram para soluções ecológicas.

Por outro lado, membros de organizações de defesa do meio ambiente, como o Greenpeace, alegam que a atitude do governo canadense está longe de ser suficiente. De acordo com, Sarah King, líder da campanha de oceanos e plásticos da instituição no Canadá, a medida se resume a “uma gota em um balde”.

“Até que o governo adote uma postura séria para reduzir a produção de plástico em geral, nós não iremos ver o impacto que precisamos”, disse.

Mais do que isso, King também afirma que os seis itens banidos pelo Canadá representam apenas 5% do lixo plástico produzido no país em 2019.

Medida pode marcar o início de um movimento global

Apesar de não resolver todos os problemas, o banimento dos plásticos de uso único promete ser um passo na direção certa. A partir da medida, o governo canadense espera eliminar 1,3 milhão de toneladas de lixo plástico até o fim dos anos 2020.

Mais do que isso, a medida do Canadá pode ser só o começo de uma mudança ao redor do globo: no início de 2022, a França também passou a proibir embalagens plásticas em frutas e legumes, sob determinadas condições.

A medida é parte de um plano maior, que visa reduzir a produção de resíduos (não apenas de plástico) em todo o país. No mesmo período, o governo francês também proibiu a destruição da “mercadoria não vendida”.

A prática, que é comum na indústria da moda, consiste na destruição de produtos que “encalharam” nos estoques, e visa evitar que o preço de um item considerado de luxo caia no mercado.

Nos EUA, o objetivo é banir os plásticos descartáveis (também de uso único) a partir de 2032. Ainda assim, ao menos inicialmente, a medida deve valer apenas para parques nacionais e outras áreas públicas, isto é, aquelas controladas pelo governo federal, uma vez que cada estado membro pode definir as próprias regras acerca do assunto.

Enquanto tudo isso ocorre na esfera pública, a premissa da redução de resíduos também tem ganhado força no setor privado. Ao longo dos últimos anos, diversas empresas, especialmente as fabricantes de itens de alto valor agregado e complexidade tecnológica, têm apresentado planos para reduzir o impacto de alguns produtos no meio ambiente.

Em maio deste ano, a fabricante de computadores, Acer, lançou uma linha de computadores feitos com plástico reciclado pós-consumo (PCR). O material é utilizado em todo o design da linha Vero, que inclui notebooks, desktop All-in-One, monitor, mouse, teclado e até um projetor de imagens.

Adicionalmente, a garantia de reparo facilitado é outra forma dos produtos reforçarem sua veia “ecológica”.

Desde 2020, a Apple foi outra que tomou uma ação polêmica para reduzir o uso de plásticos descartáveis em seus produtos. No caso, a fabricante passou a não incluir o adaptador de tomada na caixa dos dispositivos, fornecendo-os apenas com o cabo Lightning.

Questionada pelo público, pela mídia e por entidades governamentais, a marca justificou sua decisão afirmando que a maioria de seus consumidores já possui um adaptador em casa. Por esse motivo, a retirada do acessório não prejudicaria o uso, ao mesmo tempo em que reduziria o lixo eletrônico.

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