Por que não falamos sobre poluição no debate político?

Por que não falamos sobre poluição no debate político?

A corrida eleitoral começou de vez. Com a propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio, além de vários debates e entrevistas, os candidatos à presidência, Senado, Câmara e governadores podem expor suas opiniões e seus planos de governo. Educação, economia, segurança e saúde são temas que ocupam grande parte dos discursos, mas confesso que sinto falta de um item muito importante: poluição.

Ninguém fala sobre soluções ou projetos para combater a poluição, mesmo que de modo geral. Alguns candidatos até apresentam propostas sobre meio ambiente, mas ninguém menciona que, por exemplo, 7 milhões de pessoas morrem todos os anos por exposição à poluição do ar. Saúde? Sim. Meio Ambiente? Também. Mas, até o momento, não vi nenhum candidato discutindo a questão diretamente. Não existe plano a longo prazo, existe solução paliativa.

Por que estou questionando esse tema? Bom, para explicar melhor, preciso descrever como nasceu a ideia deste texto. Atualmente estou em São Paulo, uma cidade que, segundo a OMS, é a 6ª metrópole em poluição do ar no mundo. Além disso, sou uma das milhares de pessoas que sofrem com problemas respiratórios durante os períodos secos. Em resumo, não quero saber como serei tratado pelo hospital público, mas como posso evitar a necessidade de ser tratado. Quero poder respirar sem sentir minha garganta “arranhando” ou o nariz entupido.

Falando especificamente sobre São Paulo, de acordo com a Cetesb, durante a greve de caminhoneiros, a poluição na cidade caiu pela metade. A solução é tirar os caminhoneiros da rua? Não, a cidade não melhorou só por causa da ausência dos caminhões, mas pela diminuição de automóveis. Mas São Paulo é uma cidade feita para os carros e não para pedestres. A greve acabou, os combustíveis voltaram e a poluição veio junto.

Mas a poluição não é só uma questão de saúde e meio ambiente. Ela também é uma questão de educação (e eu não estou falando no fato das pessoas poluírem o planeta como se não houvesse amanhã). De acordo com o pesquisador Xi Chen, da Yale School of Public Health, nos Estados Unidos, “a exposição ao ar poluído pode causar uma redução considerável no nível de educação.”

Divulgado pela PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), o estudo mostra que a exposição crônica à poluição do ar está associada a danos na performance cognitiva. Segundo matéria divulgada pela BBC Brasil, acredita-se que muitos poluentes afetem diretamente a química do cérebro de diversas maneiras – partículas podem, por exemplo, transportar toxinas através de pequenas passagens e entrar diretamente no órgão.

Apesar da pesquisa ser limitada ao território chinês (foram usados dados de 20 mil pessoas que vivem na China e que, em 2010 e 2014, fizeram testes de matemática e de linguagem como parte da CFPS – Painel de Estudos da Família da China), os pesquisadores acreditam que os resultados não são restritos à China, visto que 9 em cada 10 pessoas no mundo respiram ar poluído.

Por falar em educação e política, preciso abrir um parênteses na discussão sobre poluição e comentar algo que se encaixa neste ponto da nossa conversa. Mesmo que não haja nenhuma ligação com a poluição no Brasil (pelo menos, acredito eu, isso não foi nem levado em consideração) e nós temos outros problemas maiores nesse quesito, na última quinta-feita (30), o MEC divulgou os dados mais recentes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Apesar do ensino fundamental ter evoluído nos últimos anos, o ensino médio segue estagnado e os números são assustadores. Veja abaixo os gráficos com os níveis de proficiência em português matemática.

Voltando ao nosso tema central, quando falamos sobre poluição, estamos falando de um problema que afeta os campos da saúde, meio ambiente e educação, mas mesmo assim não vejo nenhum destaque nas discussões políticas. Será que os candidatos têm medo de sujar a sua imagem com tanta poluição?

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