Reencontrando Machado de Assis no… TikTok!

Reencontrando Machado de Assis no… TikTok!

Joaquim Maria Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro em 1839, não apenas fundou a Academia Brasileira de Letras, mas também se estabeleceu como um dos pilares da literatura brasileira. Sua obra, conhecida pela crítica social afiada e pelo estudo psicológico profundo de seus personagens, continua a ecoar através dos séculos, encontrando novos públicos e interpretações.

A obra de Machado de Assis muitas vezes faz sua estreia em nossas vidas nas salas de aula do ensino médio. Nesse período, marcado por um turbilhão de emoções e obrigações acadêmicas, a leitura desses clássicos pode não parecer tão envolvente.

Imersos em um contexto de leitura obrigatória, muitos estudantes lutam para apreciar a profundidade e o humor ácido de Machado, aspectos que demandam uma maturidade ainda em formação.

Mas o passar dos anos traz novas perspectivas e maturidade, abrindo caminho para uma nova apreciação dessas obras literárias. Prova disso é o movimento que estamos presenciando neste momento: recentemente, criadores de conteúdo do TikTok têm utilizado seus vídeos para explorar e analisar as obras de Machado, reacendendo o interesse e mostrando que os clássicos ainda têm muito a oferecer.

E este fenômeno ganhou ainda mais força após a criadora de conteúdo norte-americana Courtney Henning Novak expressar sua paixão por “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. A versão traduzida por Flora Thomson-DeVeaux e publicada pela Penguin Classics viralizou no TikTok graças a um vídeo de Novak, que possui cerca de 25 mil seguidores na plataforma. Em seu entusiasmado relato, ela nomeou o livro como seu novo preferido, influenciando milhares a descobrir essa obra, o que impulsionou o livro ao topo das mais vendidas na Amazon na categoria “Literatura Caribenha e Latino-Americana”.

Fascínio nas curiosidades

Machado de Assis se destaca por sua habilidade inovadora em narrativa, permitindo que Brás Cubas, o protagonista de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, conte sua história após a morte. Essa abordagem inusitada não só quebra as convenções literárias como também envolve diretamente o leitor moderno, atraído por estruturas que desafiam o convencional.

Além disso, Machado utiliza o humor ácido como uma ferramenta eficaz para criticar as disparidades sociais de sua época, uma técnica que ainda ressoa forte entre os leitores atuais, especialmente aqueles preocupados com questões de justiça social.

Personagens memoráveis, como Quincas Borba e Virgília, não apenas enriquecem a trama, mas também permanecem até hoje como ícones culturais, exemplificando o amor perdido, as aspirações humanas e as complexidades da sociedade. Esses elementos juntos formam uma composição rica que atrai leitores de todas as idades, demonstrando o eterno fascínio de Machado de Assis.

Sugestões para novas explorações literárias

Inspirados pelo “renascimento” de Machado no digital, aqui vão algumas recomendações para aqueles que desejam se aprofundar:

“Memórias Póstumas de Brás Cubas”: Este romance de Machado de Assis é narrado por Brás Cubas, que decide contar sua história após sua morte, desafiando a convenção literária ao apresentar-se como um “defunto-autor”. A obra percorre a vida de Brás Cubas desde suas aventuras de juventude até seus desamores e desilusões na maturidade. Sem deixar herdeiros, Brás reflete sobre sua vida com um olhar cínico e desapegado, utilizando um estilo narrativo repleto de digressões filosóficas, sarcasmo e uma crítica afiada às convenções sociais da elite brasileira do século XIX. O livro rompe com as estruturas tradicionais do romance e se destaca por seu humor ácido e inovação estilística, questionando a própria natureza da vida e da morte. Para uma experiência ainda mais rica, a versão para Kindle com ilustrações exclusivas do artista brasileiro Candido Portinari pode ser acessada gratuitamente por assinantes do Kindle Unlimited aqui.

“Quincas Borba”: Neste romance, Machado de Assis continua a explorar o universo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” através de Rubião, o herdeiro de Quincas Borba, e da filosofia do Humanitismo, inventada pelo próprio Quincas. Após receber uma herança substancial, Rubião muda-se para o Rio de Janeiro, onde sua ingenuidade e riqueza atraem a atenção de oportunistas. O livro é uma sátira aguda sobre a sociedade, dissecando as relações humanas sob o verniz da civilidade e explorando a natureza humana através da filosofia fictícia que sugere que “ao vencedor, as batatas”. Disponível gratuitamente para assinantes do Kindle Unlimited aqui.

“Dom Casmurro”: Este é um romance que mergulha nas profundezas do ciúme e da traição através da história de Bentinho e Capitu. Bentinho suspeita que sua amada Capitu o traiu com seu melhor amigo, Escobar, e que seu filho Ezequiel não é realmente seu. A narrativa, rica em ambiguidade e introspecção psicológica, desafia o leitor a decidir a verdade por si mesmo, tornando cada leitura uma experiência única e envolvente. A obra é um retrato magistral das complexidades emocionais humanas, encapsulando a dúvida e o conflito interior com uma maestria que transcende as épocas. Disponível gratuitamente para assinantes do Kindle Unlimited aqui.

“O Alienista”: Frequentemente debatido entre ser um conto e uma novela devido à sua rica estrutura narrativa, “O Alienista” é uma das obras mais incisivas de Machado de Assis. A história segue Simão Bacamarte, um psiquiatra que retorna à sua cidade natal, Itaguaí, para fundar um asilo para o tratamento de distúrbios mentais. Com critérios rigorosos e sempre evolutivos para determinar quem é louco, Bacamarte acaba internando quase toda a população da cidade. A novela satiriza as práticas científicas da época e critica o autoritarismo na medicina e na política, questionando as definições de normalidade e insanidade. Com uma narrativa que desafia as fronteiras entre sanidade e loucura, a obra permanece extremamente relevante para os debates contemporâneos sobre saúde mental e autoridade científica. Disponível gratuitamente para assinantes do Kindle Unlimited aqui.

Revisitar clássicos de Machado de Assis com novos olhos é revelar camadas de significado que podem ter passado despercebidas na juventude. A literatura não apenas reflete sobre a condição humana de maneira profunda e atemporal, mas também oferece ferramentas para entender melhor nossa própria sociedade. E, surpreendentemente (ou não), em meio a “dancinhas” e desafios de maquiagem, novas gerações também estão encontrando nos clássicos um espelho para suas próprias vidas e uma fonte inesgotável de aprendizado e inspiração.


Créditos: Imagem Destaque – Gabriel_Ramos/Shutterstock

Compartilhe esse artigo: