Categories Inova+Posted on 04/05/202303/05/2023Como será a educação pós-pandemia? Conheça 5 lições para o futuro Passados pouco mais de três anos, a pandemia da COVID-19 ainda não teve seu fim decretado pela Organização Mundial da Saúde. Ainda assim, meses após o fim das medidas sanitárias mais rígidas, boa parte do mundo já se acostumou a olhar para os momentos mais graves da crise como algo do passado. Embora exija cautela, tal distanciamento também nos ajuda a refletir sobre os impactos da emergência global, sobretudo os de longo prazo, em setores como o ensino. É num cenário como esse, onde a maioria dos estudantes já retornou às salas de aula, que especialistas e pesquisadores discutem o futuro da educação pós-pandemia. Avanço na educação pós-pandemia segue mais lento que o esperado Segundo a pesquisa Educação na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias, realizada pelo Datafolha, quatro entre cada dez pais ou responsáveis consideram que o avanço na educação pós-pandemia tem evoluído mais lentamente do que o esperado. No caso dos alunos em fase de alfabetização, a situação também é crítica, com 40% deles tendo dificuldade para aprender a ler e a escrever. Realizado em dezembro de 2022, o estudo consultou 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes matriculados em escolas públicas, entre 6 e 18 anos, e também destrinchou o impacto das desigualdades regionais e socioeconômicas no primeiro ano de retorno às aulas presenciais. Na região norte, a carência pelo uso de ferramentas tecnológicas no ensino é de 28%, enquanto nas regiões sul e sudeste é consideravelmente menor (18%). Já nas escolas onde a maioria dos alunos é de baixa renda, por exemplo, até 50% dos estudantes teriam dificuldades no processo de alfabetização – desses, 14% sequer estariam avançando nas atividades de leitura e escrita. Após sair do olho do furacão, é necessário reconstruir o que foi perdido Números como os revelados pela pesquisa demonstram uma realidade para a qual especialistas da área já se preparavam desde 2020. Em junho daquele ano, a consultoria de design e inovação IDEO, baseada na Califórnia, lançou um desafio em que convidava membros da comunidade escolar, além de empreendedores e profissionais diversos, a re-imaginar a educação pós-pandemia. Como resultado, mais de 450 propostas foram levantadas. E após uma curadoria formada especialmente por estudantes do ensino médio, as melhores ideias foram selecionadas, com a expectativa de receberem o apoio de diversas entidades educacionais sem fins lucrativos. A seguir, confira algumas das iniciativas: 1. Equidade em primeiro lugar Além de reforçar as desigualdades que já pairavam sobre a educação, a pandemia fez surgir novos desafios, sobretudo quando se fala em acesso ao ensino. No caso de alunos com poucos recursos para acompanhar aulas online, por exemplo, a dificuldade esteve para além de seus esforços ou de sua família, sendo estrutural. Nesse caso, um exemplo que se mostrou bem sucedido em superar as barreiras de acesso foi aplicado no Panamá: Após selecionarem os melhores educadores da rede pública, o país passou a transmitir as aulas diariamente na TV aberta. Além disso, durante os últimos cinco minutos de cada aula, um instrutor especializado explicava como adaptar os conteúdos aos alunos com necessidades especiais. Graças ao programa Conéctate con la Estrella – ou “Conecte-se com a Estrela”, em português – mais de 500 mil estudantes tiveram acesso aos melhores professores do país. Por fim, conforme destacou a IDEO, o exemplo panamenho mostra que, na educação pós-pandemia, a verdadeira inovação pode não se resumir em aplicar a tecnologia mais recente. Em vez disso, é preciso considerar a alternativa que melhor atenda às necessidades dos estudantes e na maior escala. 2. A sala de aula onipresente Enquanto as medidas de isolamento social ainda vigoravam, outra questão levantada pela pandemia envolvia as instituições de ensino enquanto espaço físico. Na prática, a maioria dos estudantes, independentemente do nível de seus cursos, tiveram aulas em casa – o que nem sempre privilegia a aprendizagem. Considerando tais fatores, muitas das propostas levadas à IDEO consideraram a utilização de espaços abertos como salas de aula. De jardins a oficinas, expandir a perspectiva do que pode ser uma sala de aula permite considerar outros recursos no processo de aprendizagem, mudando não apenas como mas também o que ensinamos. Para além desses benefícios, os estudantes também passariam a aprender num contexto mais concreto, lidando com o mundo real e, a partir de então, se preparando melhor para problemas e questões tão reais quanto. 3. Autonomia e flexibilidade para os calendários escolares O ensino remoto mudou radicalmente o ritmo e a dinâmica dos processos de aprendizagem. Nesse sentido, as propostas para a educação pós-pandemia também incluem os cronogramas do ambiente escolar. No Brasil, a maioria das escolas oferece aulas em um único turno, somado a dois períodos bem estabelecidos de recesso escolar: um durante o meio do ano e outro ao final. Apesar da previsibilidade ser conveniente para o planejamento de férias, por exemplo, a maioria dos alunos não tem atividades definidas para os momentos em estão fora da escola. Nesse sentido, algumas das propostas defendem que é preciso flexibilizar os calendários escolares, argumentando que isso daria mais autonomia aos estudantes e professores. As aulas assíncronas, por exemplo, permitem que os envolvidos realizem suas atividades quando se sentem mais dispostos. Como resultado, alunos conseguem conciliar os estudos com atividades extra-curriculares, ao tempo em que os docentes têm mais liberdade para planejar e ministrar suas aulas. Neste caso, a publicação não ignora as dificuldades que o retorno às aulas presenciais representam à flexibilização do ritmo letivo. Ainda assim, ressalta que, tal como tem sido no mercado de trabalho, a experiência do ensino remoto urge a necessidade de uma educação pós-pandemia mais autônoma e flexível. 4. Escolas prestarão suporte às famílias – e vice-versa Durante as aulas em casa, pais e responsáveis se tornaram “professores assistentes”, mostrando a todos o quão difícil pode ser o ato de ensinar. Simultaneamente, o desafio dos docentes foi garantir a aprendizagem mesmo quando o aluno está fora dos limites da escola. Graças ao que vivemos nesse período, muitos consideram um fator chave no ensino a interdependência entre os papéis da escola e das famílias. Na educação pós-pandemia, a proposta é que as instituições forneçam mais meios para o acompanhamento do desempenho dos alunos. Por sua vez, pais e responsáveis também precisariam se engajar mais nas atividades desenvolvidas fora da sala de aula. Felizmente, o próprio ensino remoto demonstrou que os meios de fazer isso na prática já existem: com a ajuda de ferramentas digitais, a comunicação entre escola e família pode ser mais rápida e frequente. Ao mesmo tempo, plataformas online também podem ser empregadas para auxiliar a realização das tarefas de casa. 5. É imperativo desenvolver novos métodos e sistemas avaliativos Durante décadas, provas e notas foram a métrica mais importante para alunos, professores e instituições. Mas a crise global deixou claro que, considerando o objetivo final do ensino – isto é, fazer com que as novas gerações aprendam novos conhecimentos – a resposta pode não se limitar à teoria aplicada em sala de aula. Isso porque, apesar da discussão aqui envolver a educação, o fato é que a pandemia afetou todos os aspectos da vida. Nesse sentido, a realidade sistêmica em que a aprendizagem ocorre se tornou inegável: não é possível aprender se não há recursos para isso, se outras necessidades básicas, como alimentação e segurança, por exemplo, estão em risco. Tal como dito anteriormente, nenhuma dessas questões é completamente inédita para a educação, mas a confusão entre vida e escola provocada pelo ensino remoto a tornou mais clara. Nesse sentido, o artigo da IDEO pontua que, até antes da crise sanitária, baseávamos o conhecimento de um aluno em marcos abstratos, como cursos realizados, nível de ensino e pontuações em testes. Já após a pandemia, foi necessário dar a oportunidade de os alunos efetivamente mostrarem o que aprenderam. Inclusive porque os testes e exercícios podem ser mais facilmente burlados no meio online. Dessa forma, embora ainda haja muito a ser realizado, as reações suscitadas pela crise sanitária mostraram que podemos ir além das avaliações padronizadas. Mais do que isso, mostraram que esse método só evidencia as desigualdades existentes entre os alunos, além de distorcer o propósito do ensino. Em linhas gerais, a educação pós-pandemia precisará ser pensada sob medida para as necessidades daquele grupo de estudantes aos quais se destina. Dessa forma, será possível garantir uma abordagem mais inclusiva e eficaz, capaz de abordar os desafios educacionais emergentes e promover uma aprendizagem verdadeiramente significativa para todos. Compartilhe esse artigo: