Guia da COP30: O que esperar da conferência decisiva para o planeta

Guia da COP30: O que esperar da conferência decisiva para o planeta

  • • Os temas e negociações centrais da COP30, que já acontece em Belém (PA).
  • • Os desafios e avanços nas discussões sobre clima, Amazônia e transição energética.
  • • Como acompanhar o evento de forma prática e entender o que realmente importa.

A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, teve início nesta segunda-feira, 10 de novembro, em Belém do Pará. Reunindo quase 200 países (as chamadas Partes da UNFCCC), a conferência marca a primeira vez que o evento ocorre na Amazônia. Além do simbolismo, há grande expectativa em torno de decisões concretas sobre o futuro climático do planeta.

1. O desafio dos 1,5 °C

O secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a conferência com um alerta contundente. Ele classificou o fracasso em limitar o aquecimento global a 1,5 °C como “falha moral e negligência mortal”. Segundo a ONU, as políticas atuais ainda colocam o mundo no caminho de aproximadamente 2,3 °C de aumento até o fim do século.

A COP30 é o momento em que os países devem apresentar suas novas metas climáticas nacionais (NDCs) com horizonte até 2035, conforme o que foi decidido no balanço global da COP28, em Dubai. Algumas nações, como a União Europeia, discutem metas adicionais para 2040, mas esse prazo não é obrigatório pela ONU.

2. O dinheiro do clima: US$ 300 bi. e o Roteiro Baku-Belém

Em Baku, na COP29, foi estabelecido um novo objetivo global de financiamento climático de US$ 300 bilhões anuais até 2035, dentro de um plano mais amplo conhecido como Roteiro Baku-Belém, que pretende mobilizar até US$ 1,3 trilhão por ano em recursos públicos e privados.

O desafio agora é transformar promessas em compromissos verificáveis. As negociações em Belém buscam definir como esse dinheiro será aplicado e se chegará aos países mais vulneráveis. O debate se concentra em três áreas principais: adaptação a desastres climáticos, mitigação por meio de energias limpas e compensação por perdas e danos já sofridos.

3. Amazônia no centro do debate

A escolha de Belém como sede da COP30 coloca a Amazônia no coração das discussões globais. O Brasil apresentou o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), iniciativa que busca mobilizar até US$ 125 bilhões para financiar a conservação de florestas tropicais.

Ao mesmo tempo, o país enfrenta questionamentos sobre sua coerência climática. Em outubro de 2025, o Ibama aprovou a perfuração exploratória de petróleo na Margem Equatorial, perto da foz do Amazonas, o que gerou críticas internacionais às vésperas da conferência.

4. Transição energética e o futuro dos fósseis

O debate sobre combustíveis fósseis continua sendo um dos mais tensos da COP30. Desde a COP28, os países se comprometeram a promover uma transição gradual para longe dos combustíveis fósseis (o chamado “transition away from fossil fuels”), mas ainda sem consenso sobre prazos obrigatórios. O impasse entre “phase-out” (eliminação) e “phase-down” (redução) segue sendo a principal linha de fratura.

A expectativa é que Belém avance na implementação desses compromissos, transformando declarações políticas em ações concretas, com apoio para trabalhadores e comunidades afetadas pela transição energética.

5. Povos indígenas e justiça climática

Com a COP acontecendo no coração da floresta, o protagonismo indígena é um dos marcos desta edição. Durante a abertura, foi anunciado um acordo global em andamento para reconhecer e fortalecer a posse de terras de povos indígenas e comunidades tradicionais, com a meta de proteger mais de 160 milhões de hectares até 2030.

O texto oficial ainda está em elaboração, mas a iniciativa reflete um consenso crescente: a proteção das florestas depende diretamente da valorização dos povos que nelas vivem.

6. Mercados de carbono e integridade ambiental

O Artigo 6 do Acordo de Paris é o que define como países podem cooperar entre si para cumprir metas climáticas, inclusive por meio dos chamados mercados de carbono. Na prática, ele permite que reduções de emissões feitas em um país sejam transferidas para outro, desde que haja regras claras e transparência.

O artigo tem três partes principais: o 6.2, que regula trocas diretas entre países; o 6.4, que cria o mercado global de carbono supervisionado pela ONU; e o 6.8, que trata de cooperação sem transações de crédito.

Na COP29, em Baku, esse sistema foi oficialmente destravado, com a criação de um órgão da ONU para monitorar e validar créditos. Mesmo assim, especialistas alertam para riscos de “créditos de fantasia” e dupla contagem, quando a mesma redução é usada por dois países.

Como anfitrião da COP30, o Brasil vem defendendo regras mais rígidas e transparência total, com foco em qualidade dos projetos e respeito às comunidades locais. A presidência também reforça que compensações de carbono não podem substituir cortes reais de emissões.

7. A COP da floresta e os desafios logísticos

Belém vive um momento de transformação para receber o evento, mas também enfrenta críticas. Relatos sobre preços altos de hospedagem, limitação de leitos e greves em obras de infraestrutura marcaram as semanas anteriores. A ONU chegou a reduzir o número de funcionários no local por restrições de custo.

Mesmo com esses desafios, a cidade se tornou símbolo de uma nova perspectiva: uma conferência que acontece dentro da floresta, em diálogo direto com a região mais importante para o equilíbrio climático global.

8. Como acompanhar a COP30


Para quem quer entender a conferência sem se perder entre jargões técnicos, o ideal é começar com uma boa base de conceitos e fontes confiáveis. A Agência Brasil preparou um glossário acessível com os principais termos usados nas negociações climáticas (como NDCs, “phase-out” e mercados de carbono), que ajuda a acompanhar as notícias com mais clareza  (confira clicando aqui.) A partir daí, vale seguir alguns canais e pontos de atenção para acompanhar a COP30 de forma prática:

Fontes oficiais:

  • UNFCCC: agenda, documentos e transmissões ao vivo.
  • COP30 Brasil: programação da Zona Verde, eventos e cobertura local.

Acompanhar ao vivo com curadoria jornalística:

    • • • A GloboNews está com uma cobertura especial direto de Belém, acompanhando de perto os bastidores e os principais anúncios da conferência. Entre os enviados, o jornalista André Trigueiro, referência em sustentabilidade, traz uma leitura precisa e sensível do que acontece dentro e fora das negociações, conectando o clima global à realidade brasileira.
    • Exame ESG e Agência Brasil: análises e contexto do Brasil e América Latina.
    • Revista Amazônia: bastidores e cobertura regional.

    Checklist diário de pontos-chave:

      • • Entregas das NDCs 2035 e alinhamento com a meta de 1,5 °C.
      • • Implementação do pacote financeiro de US$ 300 bilhões/ano e do Roteiro Baku-Belém.
      • • Linguagem e prazos sobre fósseis (phase-out, phase-down ou transition away).
      • • Integridade e rastreabilidade dos mercados de carbono (Artigo 6).
      • • Financiamento do TFFF e confirmação oficial do acordo de terras indígenas.

      A COP30 está apenas começando, e as próximas semanas prometem decisões que podem redefinir o rumo das políticas climáticas no mundo e também o papel do Brasil nessa história. Entre promessas, tensões e acordos em construção, o mais importante será entender o que realmente sair do papel em Belém.

      Quando as luzes da conferência se apagarem, o InovaSocial vai seguir por aqui, trazendo um resumo claro e humano do que ficou dessa COP30, o que avançou, o que inspira e o que ainda precisa mudar. Porque o fim da COP será só o começo das mudanças que realmente importam.


      Créditos: Imagem Destaque – Pedro Magrod/Shutterstock

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