A arquitetura das cidades do futuro: Ainda precisamos pensar no básico

A arquitetura das cidades do futuro: Ainda precisamos pensar no básico

No próximo mês, para ser mais exato, nos dias 13 e 14 de setembro, acontece em Aarhus, na Dinamarca, o RISING Architecture Week 2017. O objetivo da edição deste ano é discutir como a arquitetura pode ajudar nos desafios sociais. Infelizmente não estaremos por lá e, provavelmente, você também não. Mas tudo bem, porque também podemos fazer algumas reflexões por aqui. É muito legal participar destes eventos, mas achamos que as reflexões e discussões não precisam ficar limitadas ao evento, ele é apenas a ignição. Então vamos começar.

Segundo o estudo “Perspectivas da População Mundial: Revisão de 2017” da ONU, em 2017 a população atingiu o número de 7,6 bilhões de habitantes e ele deve aumentar em um bilhão até 2030. Apesar da diminuição da taxa de fertilidade (o Brasil está entre os 10 países que registraram menor fertilidade em relação ao nível de reposição entre 2010 e 2015.) e, consequentemente, do ritmo de crescimento, ainda é muita gente. Calcula-se que a Europa será a única região onde o número de habitantes reduzirá entre 2017 e 2030, passando de 742 milhões para cerca de 739. No mesmo período, África e Ásia devem aumentar sua população em quase 1 bilhão de habitantes. É previsto que grande parte desse crescimento ocorra em áreas urbanas de países mais pobres.

Para “apimentar” esse cenário, o Banco Mundial afirma que uma em cada sete pessoas no mundo sofre com a falta de acesso à eletricidade. Em resumo, estamos falando de um problema complexo que envolve pessoas e infraestrutura. Então, qual a solução mirabolante para resolver todos os problemas? Trazendo para o cenário brasileiro, eu diria que a nossa “solução mirabolante” é buscar a solução mais simples. Parece contraditório, mas veja o vídeo do TED-Ed, plataforma de ensino do TED. Produzido em 2013, o vídeo “A urbanização e o futuro das cidades” fala sobre a produção de alimentos em fazendas verticais, mini hortas e energias renováveis. Ele também sinaliza o futuro com prédios que suportariam todas as necessidades básicas e autossuficientes.

Passado quase 5 anos, nós ainda discutimos as mesmas coisas. São poucas as residências, casa ou condomínio, que possuem alguma solução com energia solar e, pelo menos para a realidade do brasileiro, esses sistemas ainda são caros e de difícil implementação. Água de reúso então, só quando a coisa aperta e caímos em período de estiagem. Não adianta querer pensar em soluções arquitetônicas, quando o sonho da casa própria desmorona com residências populares que não cumprem as necessidades da família de baixa renda. E quando falo em necessidades, não estou falando no valor financeiro, mas, de problemas básicos na arquitetura, como o citado no texto “A lei da assistência técnica e a importância social da arquitetura”, da arquiteta e urbanista, Camilla Ghisleni, que afirma “o mofo e bolor corroem as paredes da habitação principal impregnando os pulmões de umidade e dificultando a respiração. A pequena janela, encontrada no terreno baldio próximo, não consegue suprir a necessidade de luz e ventilação no quarto das crianças, quarto este que agora se tornou insuficiente com a chegada do novo bebê”.

Talvez para os nossos amigos dinamarqueses, discutir como a arquitetura pode ajudar nos desafios sociais pode fazer sentido, para nós, brasileiros, ainda acho que falta pensarmos no básico, antes de partirmos para o mirabolante, o inovador. Parece contraditório, até mesmo pelo InovaSocial ser um canal sobre inovação social, mas sinto que gastamos esforço em soluções high tech ou “fora da caixa”, quando, na verdade, precisamos pensar no básico.

Para finalizar, antes que você pense que isso tudo não passa de um complexo de vira-lata, quero dizer que, sim, nós temos muitas soluções interessantes no cenário de inovação social voltado para moradia, mas precisamos “quebrar a cabeça” para torná-las sistêmicas, e não viver em um eterno projeto piloto.

___

Gostou do texto e quer fazer parte da nossa comunidade? Envie uma sugestão de pauta, um texto autoral ou críticas sobre o conteúdo para [email protected]

Compartilhe esse artigo: