SIX – Social Innovation Exchange e a situação da paz na Colômbia

SIX – Social Innovation Exchange e a situação da paz na Colômbia

No domingo (2/10), tive a oportunidade de participar de um curso rápido de inovação social em Bogotá, na Colômbia, promovido por uma rede global do tema, a SIX – Social Innovation Exchange. No mesmo domingo, os colombianos foram às urnas em plebiscito para votar “Sim” ou “Não” pelo Acordo de Paz que havia sido articulado entre o governo e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Infelizmente, pela surpresa de muita gente, o “Não” ganhou (por uma margem mínima de diferença – 0,5 pontos percentuais). A pergunta que todos fazem é: porque o “não” saiu vitorioso das urnas?

Conversando com colombianos de lá, alguns pontos que ajudam a entender esta vitória do “não”:

a. O não esclarecimento pleno por parte da população sobre o real conteúdo do Acordo de Paz: Havia muita fofoca pela rua e muito “diz-que-me-diz” de que o Acordo faria isso ou aquilo, mas pouca gente pareceria estar realmente informada sobre os termos do Acordo. Só pra se ter uma idéia, o documento do Acordo tem 297 páginas!

b. Altíssimo índice de abstenção: 60% de abstenção, o que indica que não havia tanta disponibilidade da população em participar, o que reforça o tópico anterior sobre a campanha e a real capacidade de apresentar informações reais à população sobre os termos do Acordo.

c. Após muitas décadas de guerra civil no país, há um clamor geral por “Justiça”: A questão é que há, pelo menos, dois diferentes entendimentos do que seria “justiça”. Para os pró-não, o foco é numa justiça punitiva, que coloque todos os “bandidos guerrilheiros” na prisão – pena perpétua, pena de morte, etc…. Para os pró-sim, o entendimento é de uma justiça restaurativa, assumindo que para se conseguir a paz é preciso perdoar muitas atrocidades cometidas pelas FARC (e foram muitas!). A questão central é que sem se tentar colocar uma pedra neste assunto e virar a página, será pouco provável que se consiga um Acordo de Paz que se sustente. Vale salientar que as regiões mais rurais e do interior da Colômbia, ou seja, as mais afetadas diretamente pela guerrilha votaram pelo “Sim”.

d. Grupos políticos usaram o plebiscito para disputar poder: o ex-presidente Uribe liderou o “Não” e o atual presidente Santos o “Sim”. Além disso, Santos recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelos seus esforços pró-paz. Após isso, ambos se reuniram meio que às pressas (após 6 anos sem conversarem) para tentar costurar um acordo político que viabilize a continuidade do processo de paz.

Um artigo bem interessante da BBC nos ajuda a compreender o contexto do Acordo e do Plebiscito.

Inovação Social – para além da moda

Já sobre o curso, o tema inovação social vem ganhando espaço no mundo todo e em todos os setores da sociedade (empresas, governos, ONGs, fundações, empreendedores sociais, universidades, etc). O conceito mais difundido é que inovação social é uma nova maneira de enfrentar problemas socioambientais, a partir de estratégias inovadoras e criativas. Mas, além deste conceito mais básico, debateu-se muito sobre outros pontos que também devem compor este tema:

  • É preciso contar com participação efetiva da comunidade nas soluções de inovação social (não se pode construir de “cima para baixo”)
  • É preciso enfrentar problemas mais sistêmicos (exemplo: desigualdade, corrupção, pobreza, mobilidade urbana, meio ambiente, saúde, etc).
  • “Toda inovação é social, mas nem toda inovação é inovação social” – nem toda inovação tecnológica (ex: Uber) é inovação social, pois não assume estes pressupostos.
  • “Como iniciativas de inovação social podem promover transformações sociais efetivas?” – para além de uma startup que criou um novo aplicativo, como este produto pode impactar de forma efetiva o tema sobre o qual ele incide? Ex: O Uber não enfrenta as questões sistêmicas de mobilidade urbana. Não foi concebido para tal (como uma inovação social).

Para o Instituto Sabin

Já estamos atuando neste tema e cada vez mais conhecendo iniciativas inovadoras que enfrentam problemas sociais (ex: negócios de impacto), entretanto, as reflexões levantadas no evento (Summer School) nos colocam o desafio de irmos além. Alguns caminhos a seguir:

  • Pactuar a compreensão de inovação social que irá nos guiar;
    Validar a estratégia de atuação, com a clareza de que esta nova área não significará acabar com as outras áreas temáticas de atuação;
    Difundir experiências neste tema, para isso lançamos o InovaSocial neste mês de outubro.

Em tempo, o evento foi organizado pela SIX – Social Innovation Exchange – uma rede global de organizações que discutem e compartilham experiências sobre o tema. Recebemos uma bolsa que viabilizou as inscrições ao curso.

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Fabio Deboni é engenheiro agrônomo e mestre em recursos florestais pela ESALQ/USP com 8 anos de experiência em gestão de políticas públicas no governo federal (MEC, MMA, MJ, IPEA, SG/PR). É gerente-executivo do Instituto Sabin desde fevereiro de 2011, de onde atua na gestão do investimento social privado do Grupo Sabin. Atualmente coordena duas Redes Temáticas no âmbito do Gife – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – a Rede de Saúde e a de Negócios de Impacto Social. Está também envolvido nas discussões da Força Tarefa de Finanças Sociais, no Grupo “Fundações e Institutos de Impacto”.

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