Categories Soluções de ImpactoPosted on 17/03/202517/03/2025Desigualdade climática: por que nem todos sofrem da mesma forma (e como mudar isso) O que você vai descobrir a seguir: • Como as mudanças climáticas impactam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis ao redor do mundo. • Exemplos de desastres ambientais e sua relação com desigualdade social e econômica em diferentes países. • Soluções possíveis para reduzir a desigualdade climática e proteger os mais afetados. Você já ouviu falar sobre a desigualdade econômica, mas e sobre a desigualdade climática? O conceito se refere ao impacto desproporcional que as mudanças climáticas causam sobre diferentes populações – com os mais pobres e marginalizados sendo os mais prejudicados. A explicação é simples: desastres naturais e eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e furacões, atingem a todos, mas nem todos têm os mesmos recursos para se proteger, reconstruir suas vidas ou até mesmo escapar dessas situações. O resultado? Regiões mais pobres sofrem mais mortes, mais perdas econômicas e demoram mais para se recuperar. Essa tendência já é visível ao redor do mundo. Calor extremo: quem sente mais? A última década foi a mais quente já registrada na história. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, cerca de 255 mil pessoas podem morrer anualmente devido às ondas de calor. E os mais atingidos serão justamente aqueles com menos acesso a infraestrutura, saneamento e serviços de saúde. Na Índia, onde temperaturas chegam a 50°C em algumas regiões, as populações de baixa renda sofrem por não terem ar-condicionado ou sequer acesso à sombra. De acordo com um relatório do World Economic Forum, somente 8% dos 2,8 bilhões de habitantes das áreas mais quentes do mundo têm ar-condicionado, enquanto em países ricos, como os EUA e o Japão, esse número ultrapassa 90%. Mas o calor extremo não é um problema apenas para países de renda baixa ou média. Na Europa, a onda de calor de 2022 matou mais de 61 mil pessoas – e as mais vulneráveis foram idosos, imigrantes e moradores de habitações precárias. No Brasil, o aumento das temperaturas já impacta grandes cidades. Comunidades periféricas, com menor acesso a áreas verdes e infraestrutura urbana, enfrentam temperaturas mais altas devido ao chamado “efeito ilha de calor”, causado pela alta concentração de concreto e a falta de vegetação. Quando o fogo destrói (e nem todos conseguem recomeçar) Os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e intensos em diversas partes do mundo. Na Austrália, os incêndios de 2019-2020 destruíram mais de 12 milhões de hectares de floresta, com impactos devastadores para comunidades rurais e indígenas. Pesquisas apontam que os povos aborígenes foram desproporcionalmente afetados, devido à falta de infraestrutura para evacuação e reconstrução. Na América do Sul, o Pantanal e a Amazônia vêm sofrendo com queimadas recordes, muitas das quais ligadas ao desmatamento. Populações tradicionais, como indígenas e ribeirinhos, sofrem com perdas de território, impacto na segurança alimentar e aumento de doenças respiratórias causadas pela fumaça. Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade de Washington revelou que negros, latinos e indígenas estão 60% mais vulneráveis a incêndios florestais do que os brancos, por viverem em áreas mais expostas e terem menos recursos para evacuação. Água: um recurso cada vez mais escasso (menos para algumas pessoas) A crise climática também agrava a escassez de água, e os impactos não são distribuídos de forma justa. De acordo com a ONG WaterAid, os grupos mais afetados são: • Populações rurais e comunidades tradicionais, que dependem de fontes naturais de água. • Pessoas que vivem em áreas vulneráveis a inundações e secas severas. • Mulheres e meninas de regiões pobres, que gastam bilhões de horas por ano carregando água em distâncias longas. Na Índia, por exemplo, o aumento das chuvas fortes combinado com a falta de saneamento básico faz com que rios e lagos fiquem altamente poluídos, prejudicando o acesso à água potável, especialmente para as castas mais baixas. Na África Subsaariana, a escassez de água já força milhares de famílias a migrarem em busca de sobrevivência. E no Brasil, cidades como São Paulo e Brasília enfrentam crises hídricas cada vez mais frequentes, afetando principalmente as periferias, onde o racionamento costuma ser mais severo. Respirar não deveria ser um privilégio (mas, em muitos lugares, é) A poluição do ar mata cerca de 7 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS, e 92% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda. Na China e na Índia, metrópoles como Pequim e Nova Déli frequentemente registram níveis alarmantes de poluição do ar, prejudicando principalmente crianças e idosos. No Brasil, moradores de comunidades próximas a aterros sanitários ou áreas industriais são os mais afetados por problemas respiratórios, pois têm menos opções de moradia e não podem simplesmente se mudar para áreas mais saudáveis. Em Nairóbi, no Quênia, meio milhão de pessoas vivem perto do maior lixão do país, inalando fumaça tóxica diariamente. O mesmo ocorre em Deli, na Índia, onde milhares de famílias sobrevivem catando lixo em condições extremamente poluídas. Como podemos reduzir a desigualdade climática? A boa notícia é que há soluções sendo implementadas ao redor do mundo para mitigar os impactos da crise climática sobre os mais vulneráveis. Algumas ações que podem fazer a diferença incluem: • Planos de adaptação climática: Em Ahmedabad, na Índia, um programa inovador de “telhados frios” foi implementado, fornecendo coberturas refletores de calor para casas de baixa renda. • Investimento em energia limpa e sustentável: O Uruguai alcançou quase 100% de energia renovável com um modelo que prioriza parcerias público-privadas e planejamento de longo prazo. • Proteção de comunidades vulneráveis: Países como Filipinas e Bangladesh estão implementando programas para reassentar comunidades em áreas seguras antes de desastres climáticos. • Educação e participação comunitária: Iniciativas que envolvem populações locais na construção de soluções – como reflorestamento urbano e saneamento ecológico – já mostram bons resultados. Acabar com a desigualdade climática exige ações coordenadas entre governos, empresas e cidadãos. A crise climática é real e está se intensificando, mas ainda há tempo para agir de forma justa e inclusiva. Afinal, onde você mora, quanto você ganha ou sua origem não deveriam determinar suas chances de sobreviver a um desastre climático. Compartilhe esse artigo: